Porto-Indústria – Esse conceito funciona no Brasil? E os serviços? Cabem nessa equação?
“Não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar a cada vez um resultado diferente.”
Não será loucura afirmar que nossos portos evoluíram muitíssimo desde 1808, quando D. João VI os abriu para acesso às nações amigas. O que temos visto, especialmente nos últimos anos, pode ser chamado de revolução mais do que evolução.
Também não será estranho dizermos que muitos de nós ainda os imaginamos em seu formato básico: um elo, entre outros, que compõem a cadeia logística percorrida por cargas e pessoas entre sua origem e destino. Só.
Ao tomarmos o café da manhã, raramente imaginamos que o pão foi feito com um trigo que veio da Argentina ou dos Estados Unidos com passagem pelo porto. Mesmo que venhamos a imaginar, provavelmente nos virá à mente apenas a imagem de um navio descarregando e um armazém.
Esse raciocínio simplista me incomoda e me faz questionar: o que mais eles podem ser?
Vou direto ao ponto, em três palavras: Porto, Indústria e Serviços.
Ideia brilhante e (talvez) simples. Trata-se de colocar lado a lado atividades industriais e portuárias e com isso gerar ganhos pela redução do ciclo logístico de matérias primas e produtos acabados. Em outras palavras, as indústrias instaladas ao redor de áreas portuárias recebem matéria-prima diretamente dos navios, transformam-na em produtos acabados, segundo seus processos de manufatura, e os despacham diretamente para os clientes usando os navios próximos ou os internalizam no país.
Importação-transformação-exportação. Tudo num só lugar.
Brilhante sim, talvez não tão simples de implantar se levarmos em consideração a complexidade dos regimes aduaneiros e tributários. Mas vamos imaginar que teremos coragem suficiente para enfrentar e resolver esse aspecto. Vamos arregaçar as mangas, pois os ganhos são consideráveis.
Vamos começar pelo básico: espaço físico. Imagino que seria esse um dos objetivos da Portaria 66, emitida no início de 2022, quando tomou-se a decisão de ampliar a área da “poligonal” do Porto Organizado de Santos dos 8 quilômetros quadrados à época para 15,5. Quase o dobro!
Uma análise simplista diria tratar-se apenas disso: ganho de área. O olhar um pouco mais treinado diria: a ampliação em si agrega potencial para irmos além do simples ganho territorial em um Porto que possui quase 95% de sua área operacional ocupada. Afinal, acrescentou-se mais retroárea do que frente de mar para a construção de píeres de atracação.
Quantidade de área, usada com qualidade, sozinha, já poderia causar o grande impacto sob o ponto de vista da geração de empregos e riqueza.
Quando falamos em utilizar parte dessa área para implantar indústrias, é automático pensar nas linhas de produção e nos postos de trabalho diretamente gerados ao seu redor. É uma imagem verdadeira, porém, há mais por trás disso.
A implantação das fábricas, mesmo as de pequeno porte, demandariam projetos conceituais, projetos executivos, a construção em si, aquisição de equipamentos, manutenção, serviços de planejamento ambiental, energia – de preferência limpa a renovável, serviços de alimentação, segurança patrimonial, limpeza, transporte, entre tantos outros itens que envolvem o funcionamento dos negócios. Basicamente serviços, hoje os grandes geradores de postos de trabalho, diretos e indiretos, sem falar nos impostos que todo esse contexto de empresas poderia somar aos cofres públicos.
Percebe até onde pode-se projetar a geração de riqueza?
A ampliação da área do Porto Organizado nos permite sonhar com um futuro em que porto, indústrias e serviços associados a ambos convivam. Outros passos precisam ser dados.
Os Governos, em seus três níveis, precisam estar atentos e agirem em conjunto. Há muito o que fazer para integrar as cidades a um projeto desse porte, como criar e manter legislação segura o suficiente para atrair esses negócios, produzir parte da infraestrutura, diminuir a burocracia.
Universidades e Escolas Técnicas precisam ampliar sua visão de formação da mão de obra. Espaço, infra e segurança jurídica são fatores importantes, mas empresas não se estabelecem em locais onde não há mão de obra qualificada e disposta a continuar qualificando-se. Para citar o mínimo.
A sociedade como um todo precisa abraçar essa ideia em seu próprio benefício. Conseguiremos tornar realidade?
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD