A leveza do tempo
Tempo é medida de tamanho e de peso. Fala-se muito de sua extensão em nossa vida, mas pouco, muito pouco, de como sustentamos esse percurso, cada vez maior na média de vida individual e cada vez menor na do universo.
Recentemente descobriram fóssil de um animal que viveu há 250 milhões de anos na Terra, essa poeira cósmica que podemos ver, entre outras que escapam à nossa vista na misteriosa relação tempo-espaço.
Como executamos o ato de viver é de cada um. Mas o tempo não é o que muitas vezes acreditamos ser. No meu 24º aniversário de vida, deprimi-me ao pensar no tempo que havia perdido e no que deveria ter feito e já não havia mais tempo para fazer. Hoje, ao completar 71 anos, me lembro dessa grande besteira. Há uma lenda de que os astecas, ao atingirem metade de seu tempo de vida previsto, eram acometidos de profunda tristeza que lhes servia de alerta.
Vivi muita coisa, aprendi muito mais, mas teimei em alguns erros. E como o tempo depura defeitos, compreendi sobre a importância da leveza ao conduzir o fardo que, por vezes, é viver, sem falar, é claro, nos bons momentos.
A vida requer foco, determinação e energia. Atribui-se a Che Guevara a frase de que é preciso ter força sem perder a ternura. E talvez esse seja um dos mais importantes segredos do sucesso existencial. Vale para um CEO de empresa, para um político e também para um pai e uma mãe.
Liderar não é ser carrasco. É estimular e, generosamente, corrigir os erros que todos temos. Às vezes é ouvir. Mais do que conselhos, queremos ser ouvidos. Ser ouvido é abrir portas para corrigir os próprios erros.
Na web-balcão-de-padaria de hoje em dia, vi uma mãe com seus filhos na loja de brinquedos, disposta a não se chatear com tantos apelos. Pegou um caderno e um lápis e se pôs a anotar os brinquedos que queriam. As crianças não insistiram na compulsão de consumo imediato. Satisfizeram-se em ser ouvidas e com a expectativa de, quando possível, serem atendidas.
Ouvir é segredo do sucesso. Aos 16 anos, trabalhava em uma companhia norte-americana que lançou um concurso de ideias para aprimorar os serviços. E eu, um mero office-boy, fui contemplado com dois diplomas. Isso acentuou meu vínculo afetivo com a empresa, da qual trago as melhores lembranças quando penso na importância dos preceitos ESG.
A busca do melhor no trabalho ou nos seres em formação, como nossos filhos, é fundamental. Mas da maneira certa. Somos vítimas do nosso humor e das nossas circunstâncias, que precisam ser domados, isso sim, para que o tempo em que vivemos aconteça com ternura.
Viver leve é jeito de ser feliz e deixar os outros – colaboradores e filhos – melhores na sua experiência de usufruir seu próprio tempo, ainda que este seja cada vez maior na média para os indivíduos. E cada vez menor quando nos deparamos com novas descobertas a darem a dimensão exata da insignificância nossa e do tempo. E darem a importância de contribuirmos no breve caminho da vida com a leveza de uma poeira. Afinal, somos a lembrança que deixaremos um dia.