O robô que serei eu
Estou com medo. Meu mundo começa a me deixar e leva alguns sonhos, com a promessa de milagroso porvir. Sinto que deixo de protagonizar minha vida, ser dono de mim, transformado que estarei em mero espectador, coadjuvante humano de um mundo tecnológico que não quero.
Ah, como gostava de acordar livre diante de um sol que iluminava os passarinhos! Agora o céu exibe milhares de drones voaçantes formando imagens que fascinam – e assustam, não bastasse a exosfera estar coalhada de satélites da Starlink capazes de me achar até debaixo da cama.
Os robôs humanoides que estarão à venda em breve fazem suas graças. A China acaba de festejar o novo ano com belo e inusitado balé de robôs. Até nossa arte estão roubando, não bastassem as imagens criadas pela inteligência artificial que se dispõe a escrever mais e melhor que eu.
Nunca fui esotérico, tampouco cultivei o misticismo, mas confesso meu medo. A economia que conheço, do capitalismo neoliberal, está morrendo. Enquanto nos debatemos nessa agenda woke, está surgindo o tecno-feudalismo. Dei-me conta de que todas as principais marcas do mercado que conheço são controladas por polvos econômicos, fundos de investimento que dominam a economia mundial como a BlackRock e a Vanguard.
Nenhum grande é mais dono do seu negócio e a livre concorrência se esvai nos algoritmos das grandes plataformas tecnológicas, bigtechs que assisto representadas por seus líderes na posse de Donald Trump, convidados de honra, cardeais do novo mundo.
Nunca li tantas citações bíblicas a anunciarem o Anticristo. Elon Musk me assusta. Encanta a plateia anunciando surpreendentes avanços e alerta que, desempregado como quase todo mundo, viverei um mundo em que não terei nada a fazer, mas serei feliz. Não trabalharei, os robôs o farão por mim, e estarei sendo remunerado por polvos como a Worldcoin, que até no Brasil já remunera por escanear minha retina.
Minha íris será a nova identidade, conectada ao universo totalitário da economia global e do controle absoluto. Musk, entusiasmado, diz que em vinte anos haverá mais robôs humanoides do que humanos. E eu acredito nas profecias deste que fez um foguete dar ré.
Não perderemos mais humanos nas guerras. Exércitos serão formados pelos humanoides e os botões que acionarão as armas biológicas e tudo mais que a engenharia quântica já é capaz de fazer. Só não cura o câncer!, por enquanto, mas leio que o chip que Estados Unidos e Canadá já autorizaram a Neuralink de Musk implantar nos cérebros, farão de mim um robô de tripas cerebrais.
Alucinado eu? Não quero ser apocalíptico, mas impossível não lembrar das profecias bíblicas e não me assustar com as ações e palavras de alguns líderes políticos, protótipos de anticristos. Evito pensar neles, sai capeta!, mas o rabudo, o tinhoso, parece às vezes incorporar pessoas.
Serão reptilianos, extraterrestes enrustidos em alguns que hoje conduzem o mundo? Já sinto saudade do meu mundo, o belo mundo que, apesar de tudo, me permite ainda admirar os pássaros e ouvir o murmúrio dos rios. E trabalhar para realizar meus sonhos. Não apenas permanecer vivo com a promessa de ser feliz. Feliz será certamente o robô, não aquilo em que me transformarei um dia.