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2050, X e o voo da borboleta
Existem poucas certezas absolutas na vida em geral. A principal e mais importante é: “o tempo não volta, o tempo não para”.
Mas o que é o “tempo”? É o elemento medido mais complexo criado pela inteligência humana, e pilar das Ciências Físicas e da Matemática. E é parte do dia a dia: “Estou lutando contra o tempo”, “Não tenho tempo pra nada”, “Estou sem tempo” e por aí vai.
O tempo foi cientificamente fracionado e, para o cotidiano das pessoas e empresas, fico com apenas duas unidades: ano e hora. Ambos derivados da Astronomia. Assim, vivemos organizados na contagem dessas variáveis.
Diz a lenda, ou o ditado: “O tempo é o senhor da razão”. Será mesmo? Essa frase é atribuída a Marcel Proust, autor do clássico “Em busca do Tempo Perdido”. E é de fato intrigante!
Vejamos o ano 2025! A partir de uma decisão da Igreja Católica, o papa Gregório 13 definiu o calendário e a contagem do tempo como conhecemos hoje. E como, na época, a ciência era muito próxima da Igreja Católica, a nova contagem do tempo considerou o “Ano 1” o ano de nascimento de Jesus Cristo.
Qual a relação e a influência desse fato com o momento? A COP-28 – 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU – indica que a meta geral é “zerar” a emissão de gases de efeito estufa até 2050, e coloca como principal solução o “transição energética”, substituindo a geração de energia a partir do petróleo, do carvão e do gás natural, fontes geradoras de CO₂. É a batizada “descarbonização”.
Ressalto aqui que se deve incluir o gás metano, não como gerador de energia, mas um “subproduto” da digestão de cerca de 1 bilhão de cabeças de gado bovino. E devem ainda ser considerados os tantos incêndios que ocorrem em todo planeta. A Amazônia está pagando o “pato” sozinha por “dar ibope” e para ampliar o poder de ONGs que avançam nas explorações da biodiversidade da floresta.
Como decorrência da descarbonização, em poucos anos surgiram inúmeros fundos de investimentos na Europa e nos USA para produção de H2V (hidrogênio verde) da Bahia até o Ceará. Por isso, tomo a humilde liberdade de acrescentar um “E” e ficar “2ESG”. O Econômico está no comando, não o compromisso com o futuro do nosso planeta. Observe a leitura do relatório da COP 28 publicado nesse 12 de dezembro de 2023.
Aliás, em todas as pesquisas que faço, ainda não encontrei um estudo científico mostrando que o hidrogênio como combustível tem uma produção viável técnica e economicamente. Conforme postei no Conselho ESG do Brasil Export, matéria do jornal Valor Econômico destacou que, para produzir 1 Kg de H2V, são necessários 58 Kwh, que equivalem a um terço do consumo médio de uma residência. E o colega Eduardo Athayde postou a informação de que o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, vai investir R$ 12 bi na Bahia para produzir “diesel verde” em uma biorrefinaria de processamento do fruto da Macaúba, cuja plantação vai ocupar 200 mil hectares.
Aí vem o “X” da questão! – no estudo da Matemática na escola de Engenharia, todas as equações (hoje algoritmos) tinham a incógnita identificada como o “X”. Poderia ser qualquer letra, mas o “X” sempre foi e ainda é o desconhecido a ser desvendado.
Na minha reflexão, o “X” é o conjunto de soluções desconhecidas para a substituição dos combustíveis geradores de gases de efeito estufa sem comprovação técnica, econômica e ambientalmente correta, para que, até 2050 (de novo, data “imaginária”), o planeta Terra volte ao equilíbrio da atmosfera limpa do final do século 19. Sim, porque nessa fase foi descoberto o petróleo e tudo que conhecemos de seus derivados. Aí começamos a “sujar” o ar que respiramos, as águas de rios e oceanos, aumentando a temperatura do globo terrestre.
Curioso observar que a inteligência do ser humano levou milhões de anos para sair da condição de homo sapiens para o nível atual, em que cada 1 ano equivale a 1 milhão de anos em termos de evolução (essa é apenas uma abstração sem nexo fundamentado pelo autor).
Assim, leio os artigos de analistas e vejo reportagens sobre o que a COP28 trará de contribuição concreta. E Simon Stielli, secretário executivo da convenção do clima, destaca que “as boas intenções não vão reduzir pela metade as emissões dessa década. Só boas intenções não bastam” (jornal Valor Econômico de 7 de dezembro).
E onde entra a “borboleta” do título nesse contexto? Bem, as borboletas não seguem um “plano de voo” tal qual um pássaro. Além do mais, muito mais leve e de “asas frágeis”, não conseguem vencer a força dos ventos mesmo que seja uma brisa. E isso gera uma trajetória aleatória na análise “Origem – Destino”. E isso me fez recordar do “Movimento Browniano”, em que partículas se movem em movimentos aleatórios.
Faço uma analogia no contexto da preservação do Planeta Terra, porque pouco tem resolvido o conjunto de medidas das 27 conferências anteriores, especialmente porque governos mudam e muitas medidas inesperadas prejudicam todas as estratégicas e destroem todos os principais planos, com fortes impactos nas empresas. E se a “descarbonização” é tida como a solução, pouco se viu como resultado do “Acordo de Paris”, assinado em 2015.
No bojo da aleatoriedade desse tema de máxima complexidade, vejo como extremamente difícil ou até mesmo impossível atingir a meta de “limitar a elevação da temperatura do planeta em 1,5ºC até 2050. Isso não basta!
Assim, complemento essa análise colocando para reflexão um kit de sobrevivência – sei que muitos acharão utopia, mas será que as metas da COP28 também não serão?
1.) Todas as nações encerram a “corrida espacial” por 10 anos e aplicam os recursos alocados numa “fundação da ciência Carbono Neutro”;
2.) Carbono Neutro não é Carbono Zero. Em até 10 anos, temos de desenvolver uma tecnologia (do tipo catalizador) para neutralizar (não eliminar) a emissão de CO₂ do meio de transporte;
3.) Criar a matriz energética essencial para manter a humanidade em movimento. Esse talvez seja o maior desafio, pois não significa eliminar, mas reduzir, o uso do petróleo;
4.) Definir 10 anos como meta para automóveis usarem motorização com hidrogênio verde, elétrico puro, híbrido etanol – elétrico, em substituição à gasolina;
5.) Definir 15 anos como meta para caminhões e ônibus usarem motorização com combustível “carbono neutro”, em substituição ao diesel;
6.) Definir 15 anos como meta para o transporte marítimo e fluvial usarem combustível “carbono neutro” em substituição ao bunker;
7.) Definir 15 anos como meta para a indústria aeronáutica e as companhias aéreas encontrarem as soluções técnicas para substituir o QAV (querosene da aviação) ou gerar uma solução físico-química para neutralizar a emissão de gás de efeito de estufa;
8.) Definir o prazo de 10 anos para as indústrias, em nível global, substituírem a geração de energia de origem fóssil, especialmente petróleo e carvão mineral;
9.) Como país líder na produção de proteína vegetal (em especial soja e milho) e proteína animal, o Brasil deve manter a política de agricultura regenerativa e pecuária sustentável sem avançar por novas áreas de desmatamento (atenção: a COP30 será no Pará, hoje o estado que tem maior índice, com 22%);
10.) A preservação da Amazônia brasileira é parte integrante da soberania nacional. O Governo da Nação deve “expulsar” as ONG´s estrangeiras que, há dezenas de anos, exploram a biodiversidade do bioma animal e vegetal. E ao mesmo tempo, tornar transparente o Fundo Amazônia e os recursos doados pelos países e suas finalidades.
De todas as atividades empresariais e pessoais, a Logística, os transportes e a mobilidade urbana são as que mais podem contribuir para salvar o planeta onde vivemos!