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Vanessa Moraes, Paranaguá, Brasil

O litoral do Brasil tem quase 8 mil quilômetros de extensão. Se somarmos a essa conta o tamanho dos nossos rios economicamente navegáveis, são mais 19 mil quilômetros que podem ser percorridos por embarcações.

Em toda essa água, existem mais de 250 instalações portuárias, entre públicas e privadas, marítimas e fluviais. Zonas de Praticagem são 20 no total, incluindo a maior do mundo, a ZP-01, na Amazônia, que atravessa três estados e na qual o serviço pode durar mais de três dias, com dois práticos se revezando a bordo no passadiço.

Para garantir que as embarcações transportem com segurança as cargas que chegam e saem entre as diversas regiões do País e de fora, atuam no Brasil 616 práticos.

De todos esses profissionais, são apenas 14 mulheres a conduzirem os navios por áreas abrigadas, levando para ou trazendo de terminais, passando por canais de acesso, atracando ou desatracando.

Vanessa das Graças Moraes, de 38 anos, é filha de agricultores. Natural de Altônia, interior do Paraná, é uma dessas peritas nas peculiaridades geográficas do porto e do mar aqui nos portos de Paranaguá e Antonina.

Ela é formada como bacharel em Ciências Náuticas pela Escola de Formação dos Oficiais da Marinha Mercante, no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, Rio de Janeiro. Durante os quatro primeiros anos de atuação profissional, navegou como piloto em navios do tipo tanque de uma empresa estrangeira chamada Teekay. Navegou pela costa brasileira e também passou por portos no Caribe, na Espanha, na China e em Singapura.

Como ela mesma costuma dizer, sua relação com a atividade marítima é de alma. Afinal, a cidade do interior onde nasceu e viveu na área rural fica a quase 800 quilômetros distante do mar do estado. Mas Vanessa desejou, buscou e realizou. 

“Assim que terminei o Ensino Médio, eu trabalhava em uma papelaria. Meus colegas da época me ajudaram a encontrar, na lista telefônica, o contato da Capitania dos Portos do Paraná”, conta. 

O que ela buscava era saber de que maneiras poderia ingressar na Marinha do Brasil. Foi com as instruções recebidas nessa primeira ligação que ela chegou à Escola de Formação dos Oficiais da Marinha Mercante.

A formação lhe permitiu começar a exercer funções a bordo como oficial, mas foi o apoio e o encorajamento de uma prática, a Michele, do Rio de Janeiro, que a impulsionou a tentar a prova para a praticagem. O “empurrãozinho” deu certo. 

Em 2012, ela tentou e passou no concurso. Foi no Porto de Natal. Lá fez o período de treinamento, mas não chegou a assumir. Quando soube da vaga para a Praticagem de Paranaguá, fez novamente a prova e, mais uma vez, teve êxito. Em 2014, fez novo treinamento no Paraná e, em 2015, aí sim, deu início à carreira.

Como define a legislação que norteia as atividades da Autoridade Marítima no Brasil (a Lesta), “o serviço de praticagem consiste no conjunto de atividades profissionais de assessoria ao comandante requeridas por força de peculiaridades locais que dificultem a livre e segura movimentação da embarcação” (Artigo 12).

Para exercer essa função, como detalha a prática, existe toda uma estrutura de pessoal, comunicação e transporte da praticagem local, a Paranaguá Pilots. “Os práticos se dividem por escalas semanais para exercer essa atividade que é ininterrupta”, afirma Vanessa.

A profissional acredita que é o curso da história e a tardia inserção da mulher no mundo do trabalho que determinam que haja mais homens do que o público feminino nessas e em outras funções. Porém, ela vê que, de uma forma natural, as mulheres estão ocupando cada vez mais espaços. “Sei que a presença de mulheres nessa nossa função ainda causa estranheza, mas acredito que, aos poucos, isso vá passando. Afinal, a mulher já provou que é capaz”, comenta.

A mulher, como ela diz, traz equilíbrio e mediação às mais diversas profissões. Porém, o conjunto sabedoria-paciência, segundo Vanessa, é o que é preciso para que as profissionais de hoje e as futuras possam compreender que essa presença feminina em ambientes antes dominados exclusivamente por homens exige tempo. “E, é claro, posicionamento e segurança”, completa.

Em 2020, Vanessa também se formou em Direito. Mesmo já estando no ápice das conquistas profissionais, advogar “de leve” é uma intenção. Porém, a verdadeira pretensão é realizar a que era sua segunda opção de carreira: a de cantora. A propósito, ela não só gosta de cantar, como tem até canções autorais. E quem quiser curtir, pode acompanhar pelo YouTube e Spotify: Cherry, de Vanessa Moraes.

“Eu tive sonhos. Eu tive objetivos. Mas as conquistas e realizações desses sempre foram divididas. Eu as divido com Deus e com meus pais. Eu sou o resultado da boa criação que eles me deram. Fiz uso e agradeço muito o que deles recebi”, conclui.

Não sei você, mas eu fico realmente inspirada com tamanha força de vontade. São mulheres como Vanessa, como todas as demais sobre as quais já falei aqui até agora e, certamente, como muitas outras que ainda nem tive a chance de conhecer, que nos apoiam a ir ainda mais longe, a conquistar ainda mais espaço.

Viva Vanessa! Viva elas! Viva nós!

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