Turismo, um instigante desafio
Um instigante desafio foi apresentado há dias pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima. Em seu encontro com lideranças empresariais da Baixada Santista, a convite do Fórum Brasil Export, na Associação Comercial de Santos, Lima deu o pontapé inicial na coalizão com a região, em parceria com o fórum.
Desafiou a Baixada a, nessa parceria do poder público com empresários, fomentar setores como o industrial em Cubatão, o portuário em Santos e Guarujá, e o turístico, de grande potencial em toda a região.
Lima sabe o que fala, com longa experiência empresarial e intimidade com inúmeros países. Sem dúvida existe potencial para o turismo na região. Como de fato há em qualquer parte do planeta. Mas para que aconteça existem algumas condições. A primeira delas é a unidade e comprometimento de propósitos. Fazer turismo é como erguer uma lona de circo. Tem que fazê-lo içando todas as estruturas ao mesmo tempo, em sintonia. Não adianta levantar uma vara de cada vez.
O Vale do Itajaí, em Santa Catarina, deu o exemplo nas últimas décadas do século XX, após uma enxurrada que levou sua economia. Todos falaram a mesma língua e lançaram o Oktoberfest. Gramado e Canela não são diferentes, hoje case de sucesso nacional. A decisão e o empenho têm que ser coletivos.
Afora isso, para realizar esse sonho, há de se dispor de alguns itens: infraestrutura, equipamentos/atrações, e promoção. Isso vale para qualquer região. Diagnosticadas as peculiaridades locais, e seu potencial, é preciso dotar a infraestrutura local. No caso de Santos, significa dispor de uma terceira pista no Sistema Anchieta-Imigrantes, aeroporto próximo e a mudança do Terminal de Passageiros para o Valongo. De resto, a cidade já dispõe de boa infra urbana e equipamentos de saúde, comércio e serviços necessários. Foi-se o tempo em que tinha poucos hotéis e restaurantes de culinária.
Nas duas vezes em que ocupei a Secretaria de Turismo, concentrei-me em mostrar Santos ‘muito além dos jardins’. Daí o esforço para ‘vender’ seu Centro Histórico, acredito o maior patrimônio local com arquitetura eclética e longa história. Surgiram o programa Alegra Centro, uma linha de bondes circundando os prédios icônicos que se tornou o maior Museu Vivo Internacional de Bondes da América Latina, e o Festival Santos Café no maior e tradicional porto exportador do produto. Não dá para apostar nas praias, em um país de 7,5 mil quilômetros de costa e paradisíacos ambientes à beira mar.
Coisas assim criam o ambiente atrativo e contemplam itens fundamentais, pois o destino turístico deve dispor de equipamentos e atrações. Como os parques Disney em Orlando. São âncoras que identificam e atraem os visitantes. Vale também para uma agenda de atrações rica o ano todo, com espetáculos, shows e festivais. E para os eventos corporativos, técnicos e empresariais, que a cidade tem a explorar com seu complexo na Ponta da Praia. A proximidade com São Paulo, o maior polo de eventos do Brasil, põe Santos como alternativa fora da agitação paulistana e ainda agregando vasto lazer.
O poder público local vem desenvolvendo atualmente ações no sentido de agregar a Santos a identidade de ‘cidade criativa’ e já obteve o selo da Unesco. Destacam-se esforços nas áreas de produção cinematográfica e artesanal, incrementando sua economia criativa.
Por fim, não basta o dia amanhecer. O galo tem que cantar. Uma vasta e intensa ação de marketing é fundamental. A Bahia deu o exemplo há décadas quando convocou seus artistas a declamarem em todos os cantos o quanto sua terra é bela e especial. E muita publicidade fomentou os pacotes a partir da expansão da rede aérea no Brasil.
Como disse, a indústria do turismo pode se desenvolver em qualquer lugar do planeta. Se não há o que mostrar, inventa-se. Recentemente comentei o caso de Teruel, perdida na região central da Espanha, que atrai muitos visitantes às suas edificações medievais com a lenda de um jovem casal semelhante à história de Romeu e Julieta. Lembro também de Sherwood, na Inglaterra, que recebe levas de turistas para vivenciarem a lenda de um Robin Hood que sequer existiu.
Jorge Lima instigou a plateia. Espero que a partir da coalizão poder público e empresários a indústria do turismo em Santos e região se torne um case de pleno sucesso.