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Natália Marcassa, , Lúcia de Mesquita, Béatrice de Toledo Dupuy, Elck Fogagnoli, Rebeca Rossi Rispoli, Roseneide Fassina

ESG

Presença de mulheres em cargos de liderança

Atualizado em: 8 de março de 2023 às 13:05
Vanessa Pimentel Enviar e-mail para o Autor

Sem planos específicos para o tema, mulheres não acreditam em mudança efetiva no cenário

No ano passado o Be News trouxe uma reportagem sobre o Dia Internacional da Mulher mostrando que apenas 2% dos cargos de diretoria/superintendência existentes nos portos públicos do país eram ocupados por mulheres. A reportagem foi baseada em um levantamento da Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias (Abeph), feito no final de 2020.

Na época, dos 5.204 colaboradores, 1.073 eram mulheres e somente oito delas atuavam em cargos do alto escalão. O cenário era diferente para os homens, que lideravam 91 diretorias.

Neste ano, o BE News conversou com alguns nomes femininos que se destacaram no setor e uma das perguntas foi o que fazer para mudar, de fato, este cenário.

Para elas, a resposta está em implementar, cada vez mais, políticas de diversidade e inclusão nas empresas, mas com transparência e metas bem específicas, que comprovem uma real mudança com o decorrer dos anos a partir da iniciativa.

A medida já tem sido adotada por algumas companhias. A EcoRodovias, por exemplo, definiu como meta chegar em 2030 com 50% das posições de liderança ocupadas por mulheres, e aos poucos vai colhendo resultados: em 2020 elas eram 26% e atualmente representam 30% dos cargos executivos da empresa.

A Eco também criou comitês de Diversidade locais e Grupos de Afinidade, distribuídos em cinco pilares: Mulheres, Raça, PCDs, LGBTQI+ e convívio de gerações, além de ser signatária do Pacto Global da ONU, visando o compromisso pela equidade de gênero, entre outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) traçados pela organização.

A Ultracargo, empresa brasileira de armazenagem de granéis líquidos, tem conseguido ampliar o número de mulheres em seu terminal de Vila do Conde, no Pará, por meio do Programa de Formação Operacional. Como resultado, observa a presença feminina em 30% de suas operações.

Quanto aos cargos de liderança, 18,2% estavam ocupados por elas até o fim do ano passado, crescimento de 1,5% em relação a 2021. Mas a companhia sinaliza, em conjunto com o Grupo Ultra, querer ver mais mulheres ocupando postos do alto escalão e por isso firmou parceria com uma consultoria externa para a construção de um programa focado no tema.

Já a empresa de operações logísticas Santos Brasil contabilizou, nos últimos quatro anos, um crescimento de 44% na participação das mulheres em cadeiras executivas, além de um aumento de 22% no número de mulheres no quadro de funcionários nos últimos três anos – ações que também fazem parte da implementação do Programa de Diversidade e Inclusão, que tem ainda a previsão de 70 ações a serem realizadas até 2025.

Todos esses dados, inclusive, foram passados por uma mulher, Natália Marcassa, que atualmente é CEO da MoveInfra, associação que reúne os principais grupos de infraestrutura do país, entre eles as empresas citadas.

Público x Privado

Natália explicou que discussões envolvendo a implementação de programas para as mulheres já vêm acontecendo no setor privado, mas no público, elas precisam avançar.  “É necessário políticas, metas e comprometimentos reais quando se fala deste tema. Tudo faz parte de uma governança”, diz.

Béatrice de Toledo Dupuy, gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Santos Brasil, acredita que hoje não existem mais barreiras de gênero, mas a mulher ainda precisa provar “duas vezes mais do que os homens” que é competente. “É essa mentalidade que tem que mudar e os homens são agentes de transformação nesse processo”, afirma.

Ela lembra que o setor portuário, no passado, era predominante masculino e hoje a presença feminina já não é tão incomum, mas reforça que ainda há muito a ser feito, principalmente na questão de equidade de salários.

“As mulheres são minoria nos cargos de liderança e chefia, mesmo tendo qualificação igual ou superior à dos homens”, lamenta. 

Dupuy destaca que, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o investimento nas mulheres impulsiona o desenvolvimento econômico, a competitividade, a criação de empregos e o PIB.

A organização estima que, em média, uma redução de 50% na diferença de gênero levaria a um ganho adicional no PIB de cerca de 6% até 2030.

“Ainda que isso seja uma constatação, é uma pena que esta realidade esteja sendo vista pela ótica do ‘profitability’ (lucratividade) e não pela ótica da equidade especificamente”, explica.

 

 

Mulheres do setor

Natália Marcassa, CEO da MovInfra  

Natália iniciou sua caminhada no setor quando passou em um concurso público na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), onde chegou a ser diretora. Atuou também como secretária executiva do antigo ministério dos Transportes e secretária de Parcerias no ministério da Infraestrutura na gestão de Tarcísio de Freitas. “Somos poucas no setor e o grande desafio é olhar para a diversidade na hora de selecionar talentos, de avançar nas carreiras. Mas, estamos caminhando porque se fizermos um comparativo com o passado, nem se falava sobre isso”.

Béatrice de Toledo Dupuy, gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Santos Brasil

“Eu escolhi duas áreas que são bem estratégicas, a Comunicação Corporativa e ESG – e em ESG, eu consegui ser uma das pioneiras na minha área de atuação no porto, mas até hoje é difícil encontrar mulheres em posição de comando, e mais ainda no setor de sustentabilidade”, explica. Porém, garante que elas têm um espaço “enorme” para ocupar no setor portuário, em todos os cargos de gestão – do cais ao executivo. “A batalha continua, ela é diária”.

Lúcia de Mesquita, diretora da iPORT Solutions

Lúcia de Mesquita começou a atuar no setor de transportes em 1990, na empresa da família. Formou-se em Direito, mas sempre trabalhou com administração. Hoje, entre outras funções, é sócia da iPORT, que oferece soluções tecnológicas para operações portuárias. Em tantos anos na área, Lúcia vê um novo cenário para as mulheres, mais amigável, mas ainda com “diferenças de comportamento sutis quando quem fala é uma voz feminina ao invés de uma voz masculina”. A dica dela para mulheres que querem ingressar na área é: estudem. Muito.

Elck Fogagnoli, diretora de relações institucionais na Piacentini

Elck começou no setor em 1991, na empresa Rodrimar, onde ocupou muitas funções em 27 anos de companhia, até conquistar o cargo de diretora de Relações Comerciais e Institucionais. Conta que em muitas reuniões que participou – das quais também, muitas vezes, era a única mulher –  era comum entregarem a ela um bloco de papel, apenas para anotar as pautas do encontro. “Foram anos até entenderem que eu estava ali ocupando uma posição técnica e com voz”. Para ela, está claro que faltam políticas para cuidar do tema. “No exterior, existem empresas que oferecem o home office por dois anos para mulheres que acabaram de ser mães. Outras oferecem creches dentro dos terminais ou permitem o meio-período, obtendo ótimos retornos de iniciativas assim”.

Rebeca Rossi Rispoli, Especialista de Comunicação Corporativa na DP World

Começou a atuar no setor em 2013, como Relações Públicas e Apoio no desenvolvimento de estratégias corporativas. Já exerceu atividades voltadas para clientes como a Petrobras e Vale Fertilizantes. Para ela, um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres é encontrar um equilíbrio entre as multifunções da vida pessoal e profissional. “Mulheres que são mães, donas de casa, filhas, cuidadoras e parceiras precisam conciliar seus papéis com, por exemplo, cursos superiores e técnicos, que são diferenciais para quem deseja começar a atuar no porto”, explica. Mas, ela analisa que, uma vez inseridas na área, elas são capazes de mostrar suas habilidades e competências. “Por isso, outro desafio é o fomento das carreiras femininas”, destaca.

Roseneide Fassina, gerente de Recursos Humanos e Qualidade na Transportadora Fassina

Desde 1985, Rose atua na empresa familiar Fassina, e foi recentemente empossada como segunda diretora financeira da Associação Comercial de Santos (ACS). “Não tenho expectativa de que mesmo com a nossa participação em tantas áreas, já tenhamos resolvido a equidade de gênero. Na verdade estamos ainda caminhando em passos lentos”, diz.  Para mudanças efetivas, ela cita ser necessário “que os homens que estão na direção abram as portas para as mulheres, para que elas também tragam outras”.

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TAGS Dia Internacional da Mulher Ecorodovias inclusão LGBTQ PCDs políticas de diversidade posições de liderança Raça