A falência do Silicon Valley Bank e os eventuais impactos para o Brasil e Portugal
Não temos como deixar de abordar um dos temas mais comentados nos últimos dias: a falência de um banco americano e os eventuais impactos para as economias brasileira e portuguesa. Algumas questões iniciais: quem era o Silicon Valley Bank? Por que quebrou? Como essa situação afetou os correntistas do banco e o mercado? E finalmente: qual o impacto para o Brasil e Portugal?
O objetivo desse artigo é tentar responder essas perguntas, relembrar conceitos da Teoria de Finanças e seus efeitos práticos, dentre eles: a importância da diversificação dos recursos, a realização de uma oferta de ações como alternativa de financiamento, a corrida bancária dos clientes, o papel da autoridade monetária e o (improvável) efeito dominó da quebra do Silicon Valley Bank (SVB).
Apesar de pouco conhecido, o Silicon Valley Bank era o 16º maior banco dos Estados Unidos e se tornou a maior falência de uma instituição financeira americana desde a crise financeira de 2008. Atuava junto às startups e às empresas de pequeno porte.
A corrida bancária da ordem de US$ 42 bilhões em poucas horas contribuiu para a quebra do banco. Houve saques e transferências de recursos de vários clientes para outros bancos, o chamado “flight to quality”, ou seja, um termo do mercado financeiro que se refere a um movimento coletivo de busca por ativos mais seguros, geralmente observado em momentos de perda de credibilidade ou incerteza das condições da saúde financeira de uma instituição financeira.
Paralelamente, diferente daqueles correntistas que conseguiram resgatar ou transferir os recursos, alguns clientes concentravam seu capital no SVB e não conseguiram sacar o dinheiro. Para mitigar esse risco, é recomendado ter conta corrente em mais de uma instituição financeira e não concentrar todos os recursos ou fluxo de caixa da empresa em apenas um único banco.
O Silicon Valley Bank tentou fazer uma oferta de ações subsequente (follow on) para sanar o problema de liquidez. Uma oferta estimada em US$ 2 bilhões, com a informação aos potenciais investidores de que havia um grande investidor (investidor âncora para garantir o sucesso da oferta) com uma ordem de compra de US$ 500 milhões. Contudo, a oferta não foi bem-sucedida, pois não tiveram outros investidores com apetite para comprar as ações.
Com isso, o banco não resolveu o problema de liquidez e capital, foi decretado insolvente pela autoridade monetária americana e sofreu intervenção do Departamento de Proteção Financeira e Inovação.
E qual a solução para os correntistas do banco? Mesmo com a quebra de um banco nos EUA, os depositantes têm direito a receber até US$ 250 mil. De acordo com as informações de mercado, para mitigar o risco de “contágio” ou novas corridas bancárias, a autoridade monetária americana vai garantir os recursos depositados de todos os correntistas.
Num mercado globalizado, toda vez que ocorre uma situação atípica dessas (quebra de uma instituição financeira), ela entra no radar do mercado e, consequentemente, impacta o preço das ações de diversos bancos pelo mundo. Ademais, cabe registrar a declaração do economista chefe da agência de classificação de risco Moody´s, que disse: “O sistema está mais bem capitalizado e líquido do que nunca”. Essa é uma importante afirmação para acalmar os mercados.
Portanto, na minha opinião, eu descartaria o risco de grandes impactos para o Brasil e Portugal, pois a autoridade monetária americana agiu rápido, os sistemas bancários brasileiro e europeu são sólidos e o Silicon Valley Bank não tem a relevância que o banco Lehman Brothers tinha em 2008. De qualquer forma, é legítimo que a crise financeira global seja lembrada e comparada.
Cabe a nós acompanhar os desdobramentos desse caso, revisitar os conceitos de Finanças e aguardar pela volta da normalidade dos mercados financeiro e de capitais e do comércio exterior mundial o mais rápido possível.