O gargalo dos vastos rios
O Brasil não conhece mesmo o Brasil. Ao menos sua metade. Vitrine exposta ao mundo por sua rica biodiversidade, a Amazônia é para nós apenas o exótico mundo de florestas, fauna, rios e povos nativos.
Talvez seu maior problema seja sua dimensão e seu distanciamento dos holofotes costumeiramente mais voltados para a Floresta da Tijuca e o Ibirapuera. A Região Norte, que reúne Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, tem potencial para levar o País amplamente adiante, de maneira sustentável.
O fórum Norte Export, realizado em Manaus nos dois últimos dias, expôs esse universo. Com uma população de 8 por cento da nacional, mesmo distante das manchetes nacionais, consegue produzir amplas riquezas, tanto no campo como nas minas e nas fábricas. Só na Zona Franca de Manaus, onde está instalado o Pólo Industrial, 500 indústrias respondem por mais de 110 mil empregos diretos e, no dizer do governador amazonense, Wilson Lima, por cerca de 400 mil indiretos.E só em 2022, faturou R$ 114 bilhões.
Potencial natural existe, vontade de produzir também, se bem que tanto a Zona Franca de Manaus, que se estende por toda a região, como seu setor industrial requerem maior atenção. Mas o principal foi amplamente escancarado por quem enfrenta o dia a dia desse mundo perdido: faltam os caminhos.
A logística é sem dúvida o principal gargalo. Amazônia e Roraima não têm sequer acesso rodoviário para o resto do País. A recuperação da BR-319 é fundamental, como também é importante a da BR-174. Hoje, a produção regional depende de precárias condições nessas vias de responsabilidade federal.
Ontem, segundo dia do fórum promovido pelo Brasil Export, os participantes alertaram que a BR-319 é prioridade sim. Mas não é a solução para o imenso gargalo existente, principalmente nos períodos de chuva.
Os 25 mil quilômetros navegáveis da Bacia Amazônica, a maior do mundo, são sem dúvida a peça chave na intermodalidade que se faz necessária. Urge estabelecer detalhada regulamentação para a circulação em tantos rios, por onde escoa tudo que se produz e são as avenidas de sobrevivência de tantos povos ribeirinhos. Hoje, há total conflito de gestão, envolvendo vários órgãos, e não há quem organize tanta circulação, ao contrário do que existe no espaço aéreo.
Sem dúvida o programa de concessões pode ser o caminho, como hoje em nossas principais rodovias. Fato é que não se pode esperar mais. As lideranças da região mostraram-se no fórum como autênticos ‘ homens da floresta’ que querem não só sustentar sua gente, como também mostrar ao mundo que, além de bela, a Amazônia pode sim contribuir para a limpeza do ar, mas também gerar progresso. Só falta enxergarmos esse Brasil.