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João Eduardo de Villemor Amaral Ayres e Rebecca Alonso Nascimento

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O impacto ESG na remuneração executiva

A remuneração de executivos (em especial a variável, ou seja, os conhecidos bônus), em sua essência histórica, esteve e permanece atrelada ao cumprimento de metas financeiras, de cunho quantitativo, focadas basicamente na entrega de produtividade, maior volume de vendas, presença de mercado (market share), aumento de receita e geração de expressivos lucros aos acionistas. Este tema, a princípio, parece pouco conversar com ESG. 

Em um primeiro e raso olhar, pode-se pensar que não há como atrelar o ganho financeiro dos executivos à implementação de medidas sustentáveis dentro de uma organização. Sob uma ótica mais assertiva, todavia, isso não somente é possível, como já se traduz em verdadeira demanda dos investidores e dos gestores de ativos nos tempos atuais. 

Seguindo tendência das empresas norte-americanas, as empresas brasileiras, cada vez mais, vêm adicionando aos pacotes de remuneração variável de seus executivos, bonificações vinculadas ao atingimento de metas (KPIs) sustentáveis, abarcando todas as verticais ESG – ambiental, social e governança. E vemos com muito entusiasmo esse movimento, que representa um importante passo para fortalecer os princípios de sustentabilidade e para incentivar os executivos no sentido de que não só cumpram as metas pactuadas pelas empresas, mas, também, para que se engajem e liderem a disseminação de uma cultura e práticas sustentáveis dentro de suas organizações. 

É bem verdade que se pode questionar se esse formato de remuneração variável e de incentivo não seria um contrassenso, uma vez que corresponderia a gratificar ações e iniciativas que, na essência, deveriam ser padrões esperados e normais de comportamento. Uma espécie de beneficiar quem faz o básico. 

No entanto, ainda que a sustentabilidade e os temas ESG hoje representem um pilar estratégico e não mais opcional para as empresas, necessário também reconhecer que as companhias podem e devem incentivar e premiar uma cultura, ações e iniciativas sustentáveis. A bonificação financeira para as métricas ESG será, portanto, um correto fator de avaliação de desempenho das empresas e dos seus executivos, assim como se verifica com outras métricas já ampla e historicamente utilizadas e como algumas das indicadas no começo deste artigo. 

E com essa tendência em crescimento, o comportamento empresarial vem ganhando força no sentido de promover esse alinhamento entre remuneração variável e métricas de sustentabilidade. 

A empresa que passa a adotar essa premissa em seus planos de remuneração variável envia claros sinais para o mercado no sentido de ter uma postura e preocupação relevantes nos temas de sustentabilidade, o que não apenas pode impactar positivamente na atração e retenção de executivos comprometidos e engajados no curto e no longo prazo, mas, também, permite novas oportunidades, inclusive junto ao mercado financeiro, seja para tomada de empréstimos e linhas de capital de giro a taxas mais competitivas. 

Não custa lembrar que nos dias atuais e cada vez mais, a sustentabilidade é pauta recorrente dos executivos, conselhos de administração e acionistas, uma vez que essa agenda está diretamente vinculada a resultados mercadológicos e regulatórios auferidos pelas empresas, sejam aquelas que aplicam e aquelas que não cumprem as diretrizes ESG. O que em um passado recente poderia ser visto como uma opção – boas práticas nas verticais ESG – hoje passou a ser uma exigência e, por consequência, uma preocupação no cumprimento de metas dos executivos. 

Outro ponto de atenção para as empresas é o entendimento de quais métricas ESG serão transformadas em metas para fins de composição da remuneração variável. Essa é uma análise que deve abarcar ações de curto e de longo prazo, que façam sentido para o negócio daquela organização, para além daquelas que são obrigatórias e das que vêm sendo adotadas pelos concorrentes.

É essencial, também, que as métricas sejam quantificáveis, não só para fins de transparência aos acionistas e demais investidores, como para que possam ser efetivamente concretizadas pelos executivos e comunicadas com transparência e credibilidade ao mercado. É comum que as empresas foquem no estabelecimento de metas ambientais, mas há outros objetivos que podem ser estabelecidos como vetores da remuneração variável, tais como aqueles relacionados à retenção e/ou aumento de participação das minorias dentro da organização, à qualidade e segurança do local de trabalho, à diversidade e percentual de mulheres em cargos de liderança, à paridade salarial, dentre alguns exemplos. 

No mais, além do benefício direto aos executivos, a adoção do plano de remuneração variável com base em métricas ESG pode ser estendida, como já vem ocorrendo, aos demais funcionários das empresas, o que, certamente, aumenta o engajamento dos colaboradores, além de repercutir positivamente na imagem da organização.

Resta claro que a elaboração de planos de remuneração variável atrelados a métricas ESG vem ganhando espaço e atenção das empresas, que passam a se dedicar à necessária transição de metas quantitativas para metas qualitativas, com o necessário e estratégico fomento ao cumprimento de métricas ESG e, paralelamente, o alinhamento de seus executivos nesta direção.

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