Onde pomos a felicidade
Quer saber o que é felicidade? Vá à Finlândia. Essa é uma das pistas para aprendermos como lidar com a vida nas próximas décadas.
O país nórdico comemora o feito de, pelo sexto ano consecutivo, ter sido apontado por organismo da ONU como o país mais feliz do mundo. A realidade de lá é diferente da nossa, eu sei. Talvez você diga que lá é primeiro mundo. Mas lá faz frio, muito frio, e aqui achamos que a felicidade está no calor das nossas praias. Então por que é o país mais feliz?
Existem muitos fatores a considerar, da pequena geografia à grande economia. A demografia pesa também, assim como a moralidade na vida pública.
Um organizador do programa Visite a Finlândia tenta explicar: O finlandês busca ser feliz com o que tem! Ou seja, ”a felicidade está apenas onde a pomos”, diria o poeta Vicente de Carvalho, “e nunca a pomos onde nós estamos”, o que vale para nós tupiniquins.
Há uns indicadores dessa felicidade quando pensamos nas gerações que estamos criando. Na Finlândia, o professor é a categoria mais respeitada e valorizada. E a criança brinca. Verdade! A prioridade na estrutura escolar é brincar. Secundariamente, aprender. E mesmo assim de uma maneira sem pressão. Provas, só no final do ciclo escolar, antes de ir à faculdade. O importante é ser feliz e entender a vida neste mundo, e não decorar os dados que produziu este velho planeta cansado.
Para a criança, não interessa ideologia. Mas considerando que o córtex só amadurece totalmente lá pelos 23 anos, cabe a nós nos preocuparmos com o ser que estamos criando.
Nossas crianças comem miojo, pipoca de microondas e Mc Lanche Feliz com Coca-Cola. E ficam grudadas no celular, quando não estão madrugando para ouvir um professor derramar um monte de informações que precisam acertar no vestibular.
Em Portugal, onde há um movimento para proibir celulares no recreio, 86% dos adolescentes confessam que são viciados no smartphone. Na Europa, a média é 78%. Aqui certamente é daí para pior! Os especialistas têm alertado para os danos mentais. E, vamos admitir, nós também estamos entre os drogaditos. A verdade é que ninguém consegue hoje tocar sua rotina sem olhar inúmeras vezes no écran do aparelhinho.
Nós, adultos, dependemos dele e não há como dispensar. Nossas crianças também. Até as escolas usam essa ferramenta abusivamente. Mas o que quero considerar é o conjunto da obra: que nossas crianças comem, fazem, interagem e, em breve, estarão obedecendo a um robô.
As consequências imediatas são sutis e nem sempre nos damos conta. A verdade é que já estamos gerando seres que necessitam ainda mais de nossa ajuda. Tantos ingredientes do mundo moderno parecem estar gerando seres necessitados de atenção maior.
Não sei o quanto isso tudo interfere na gestação e desenvolvimento de nossos filhos. Mas nunca se viu e falou tanto de TDAH, down e autismo, para ficar em três diagnósticos apenas que se somam a tantas outras crianças e jovens que, por alguma deficiência física ou mental , ou estado psicológico, clamam pela chance de ser feliz.
Há de se perseguir a felicidade para todos. Só as ações concretas podem ajudar diante da tragédia anunciada. Não dá para definir com exatidão as causas para tantos diagnósticos que nos assustam. Mas dá para agirmos, contribuindo para que todos possam ser amparados, ajudados e inseridos no mundo que é de todos.
Merece destaque, nesta semana, o anúncio da criação do Instituto Social Brasil Export. Fabrício Julião e sua esposa, Fabíola Souza, acertam ao conclamarem um movimento glorioso como Brasil Export a dar sua parcela de contribuição. A adesão incondicional dos integrantes desse movimento foi imediata e isso só valoriza ainda mais esse grupo.
Não sei o quanto, nem quando, poderemos um dia dizer que somos um país feliz como a Finlândia. Mas sei que ações isoladas podem ser um caminho. Afinal, como disse Vicente de Carvalho, compete a nós onde colocar a felicidade, se não para nós, mas para os que acabaram de chegar neste lado do mundo.