Volume de exportações de trigo e milho em maio é excepcional em comparação com igual período do ano passado
Nacional
Exportação de trigo e milho dispara com guerra na Ucrânia
Para especialistas, conflito entre Rússia e Ucrânia, dois dos principais produtores dos cereais, abriu oportunidade para o agronegócio brasileiro
As exportações de trigo disparam nas duas primeiras semanas de maio em comparação ao mesmo período do ano passado. Os embarques subiram de 4,1 para 45,3 mil toneladas. Também a exportação do milho cresceu explosivamente, de 13,9 mil para 550,2 mil. números constam no relatório da Balança Comercial Preliminar Parcial do Mês, divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia. Especialistas ouvidos pelo jornal BE News afirmam que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia abriu mercado ao Brasil na Europa.
“O Brasil não é um grande exportador de trigo, muito pelo contrário, precisamos importar de países como a Argentina para suprir nossas necessidades. No entanto, comerciantes parecem ter visto oportunidades nos preços altos causados pela guerra, o que resultou em uma exportação no período em questão de 45,3 mil toneladas, um número bem modesto, mas que, se comparado com o exportado em maio do ano passado, resulta em uma diferença brutal”, afirmou o especialista em Commodities da Terra Investimentos Agro Research, Geraldo Isoldi. “A título de curiosidade, neste mesmo período, importamos 241 mil toneladas de trigo, e 591 mil toneladas em todo o mês de maio de 2021”, complementou Isoldi.
Isoldi analisa que o volume embarcado de milho no período foi excepcional pela mesma razão. “O caso do milho tem como origem o mesmo motivo, Rússia x Ucrânia, com o detalhe de que o Brasil é sim um grande exportador de milho. Em nosso país, o período de maior volume exportado vai de julho a setembro, com a entrada da segunda safra, também conhecida como “safrinha”. Nos meses fora disso, o volume é mais baixo, assim, uma exportação excepcionalmente alta no mês de maio ou mesmo abril, como foi o caso, torna mais uma vez a comparação com o ano anterior injusta”, apontou o especialista.
“O aumento desproporcional em ambos tem ligação com os conflitos na região do Mar Negro, a invasão da Ucrânia pela Rússia tirou do comércio global um grande exportador de grãos, principalmente trigo e milho, forçando o comércio mundial a se remodelar, ao menos temporariamente. Assim, muitos países que compravam esses produtos da Ucrânia tiveram de recorrer a fontes alternativas”, explicou Isoldi.
Segundo o analista econômico da Faculdade Arnaldo Janssen, Alexandre Miserani, o aumento das exportações de trigo e milho deve-se “à valorização das commodities lá fora, incentivou produtores brasileiros a atender o mercado externo em detrimento do interno. O segundo fator é a desvalorização do real frente ao dólar, que faz com que as exportações pagas em dólar sejam mais atrativas. O terceiro fator é que com os grãos ucranianos indisponíveis para venda na Europa, a necessidade dos mercados internacionais aumentou. E, como o mercado do agronegócio brasileiro é um dos maiores do mundo, acabou dando conta de atender a esses mercados”, avaliou Miserani.
“São muitos fatores que podem influenciar, mas, com certeza, um deles é a Guerra entre Rússia e Ucrânia. A Rússia era a maior exportadora de trigo do mundo e a Ucrânia era a quarta maior. Quando o suprimento é cortado, os agentes globais precisam encontrar alternativas. O Brasil é uma delas. Por isso, foi possível observar esse crescimento elevado”, comentou o CEO da Logcomex ,Helmuth Hofstatter.
Balanço geral
As exportações cresceram 12,8% e somaram US$ 14,08 bilhões nas duas primeiras semanas de maio, comparado a igual período de maio do ano passado. As importações cresceram 35,2% e totalizaram US$ 11,37 bilhões. Assim, a balança comercial registrou superávit de US$ 2,71 bilhões, com queda de 33,3%, e a corrente de comércio aumentou 21,8%, alcançando US$ 25,45 bilhões. As informações constam no relatório da Balança Comercial Preliminar Parcial do Mês, divulgado pela Secex, do Ministério da Economia.