Ageismo: Estamos vivendo mais. E o trabalho, como fica?
Max Weber, intelectual alemão, jurista e economista, considerado um dos fundadores da Sociologia
Acabei de fazer sessenta anos. Sou oficialmente idoso, conforme determina a Lei 10.741/2003, embora sinta-me pleno sob os pontos de vista físico e intelectual.
Mas é inegável que esteja apto a entender (mais do que isso, sentir) o que é o Ageismo, uma daquelas palavras novas que importamos de outro idioma para tentar nomear uma ideia em moda ou em discussão. O termo vem do inglês (ageism) e usa a palavra age, que significa idade, para descrever o preconceito contra as pessoas mais velhas. Se fossemos usar o termo em português seria Etarismo.
Nós poderíamos escrever páginas e páginas sobre esse tema, se quiséssemos analisá-lo sob os diversos pontos de vista possíveis. Como minha especialidade é o mundo corporativo e o do trabalho, vou focar apenas nesses aspectos. Vou deixar de lado também um possível preconceito profissional que haveria contra profissionais dessa idade. Sinto-o pouco no ambiente portuário e de infraestrutura. Vejo a meritocracia ainda predominando, na maioria dos níveis organizacionais.
Entendo que é necessário abordar esse assunto pois muitos de meus colegas, executivos e consultores – um pouco mais ou menos – estão na mesma faixa etária. E devemos todos viver mais, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Em 2023, a expectativa média de vida do brasileiro atingiu os 76,2 anos. A previsão é que, até 2100, cheguemos a 88,2.
Não podemos esquecer que o ambiente de trabalho, da forma como está estruturado hoje, nos expõe, em qualquer idade, a males como a ansiedade, a depressão e o burnout.
A questão é, então, menos quantitativa e mais qualitativa. Há muitos anos de trabalho pela frente e queremos – todos – vivê-los de forma produtiva e com qualidade. Sob o ponto de vista dos profissionais envolvidos, é a preocupação imediata.
Há diversas indicações sobre como enfrentar positivamente essas questões, respeitados os limites da idade, que passam pela prática de atividades físicas, a manutenção da saúde mental, a preocupação com a alimentação e a necessidade imperiosa de socializar, entre outras. Indico o excelente documentário Como Viver até os 100: Os Segredos das Zonas Azuis, disponível numa bem conhecida plataforma de streaming. Em quatro episódios, resume e mostra quase tudo o que é importante saber.
Pessoalmente, tenho uma segunda preocupação – essa sob o ponto de vista das organizações – que é a transição para as próximas gerações. Que líderes já temos e que outros estamos formando?
Em nosso setor econômico, vejo três períodos distintos que sucederam-se rapidamente e em pouco tempo. Entendo ser importante reconhecer e entendê-los, antes de refletir sobre como agir efetivamente na preparação contínua desse grupo.
A geração que hoje vem assumindo postos de liderança tem raízes na própria área portuária, boa formação acadêmica e boas conexões institucionais com outros setores da economia que possuem relação com o nosso negócio. Antes dela, passamos por um período – um pouco mais breve – em que os postos de liderança foram ocupados por executivos bem preparados, mas vindos de outros setores da economia. E antes desses, havia um grupo primordial composto por profissionais com formação eminentemente prática, formados no dia a dia do trabalho, aprendendo com a vida como ela é.
Estamos acompanhando as necessidades impostas pelo mercado, mais exigente e sofisticado.
Vejo que o próximo passo dessa caminhada é garantir que o conhecimento específico de nossa atividade esteja compilado, organizado e disponível para ser intensamente aplicado. É necessário expor a todos – na máxima extensão possível – a experiência que outros portos ao redor do mundo possuem.
Estamos no caminho. Recentemente escrevemos aqui sobre como a universidade corporativa pode ajudar nesse sentido. Temos ainda a enorme quantidade de conexões geradas pela atuação do Fórum Brasil Export dentro e fora do País.
Percebe o paradoxo positivo que estamos vivendo? Estamos ganhando idade, mas rejuvenescendo. Como dizia Max Weber, enfrentando realidades e correspondendo a elas.