sábado, 18 de janeiro de 2025
Dolar Com.
Euro Com.
Libra Com.
Yuan Com.
Opinião

Artigos

Luiz Dias Guimarães

Clique para ver mais

Articulista

Bons ventos para mudar

Nas águas do Douro, que alimentam vinhedos e acolhem as barcaças com tantos barris, o lento tempo português sempre me faz refletir sobre nossa pressa.

E a cultura milenar ensina que evoluir pode ser às vezes preservar e revitalizar o que foi um dia. Sempre soube que revitalizar é restaurar dando nova vida.

A evolução dos seres que vivem neste planeta sugere que nem sempre pensamos assim e descartamos o passado. Freneticamente gastamos os recursos naturais para produzir mais coisas que logo jogamos fora. É o círculo vicioso de fazer, usar e descartar sem olhar para onde, nem para trás. Ainda há tempo para ser diferente com um existir sustentável.

Em muitos setores, sustentabilidade virou mantra neste começo de novo milênio. A solução pode estar nos bens naturais, preservando-os associadamente à tecnologia e com os ensinamentos primitivos. Antes de haver tantas traquitanas, sobrevivemos com simples soluções tiradas de elementos naturais.

Dia desses chegou ao Porto de Paranaguá, o cargueiro Pyxis Ocean. Duas colunas da altura de um prédio de 12 andares represam o vento, como se fossem velas, e são chamadas de Wind Wings (asas de vento). Servem para economizar na energia, que rouba o equilíbrio ambiental e começa a flagelar nosso mundo.

Fazem o mesmo que os barcos de junco que, há 5.500 anos antes de Cristo, navegavam com  velas na Mesopotâmia.

Há um movimento de rever nossos processos buscando, na origem, as soluções. Perto do Douro, as águas do Porto de Leixões começam a ter nova função com um projeto de turbinas subaquáticas para gerar energia.

As águas, como o vento, nos ensinam a rever conceitos. Alguns bens naturais podem ser utilizados sem gastarmos irrecuperavelmente o que o planeta tem.

Da estrada lusitana, vejo um farol, o segundo maior da Europa, que há muito orienta os navegadores  e me alerta que cheguei ao Porto de Aveiro. Nele, gansos  vivem livremente e retribuem a liberdade como sentinelas da Autoridade Portuária.

Lá, onde não falta espaço, embarcam pás eólicas para atuar no mar. 

O conceito, porém, de rever soluções não está só no mundo das águas. Em Matosinhos, próximo da cidade do Porto onde deságua o Douro, um hub que reúne sucessos está a criar máquinas e soluções principalmente para mobilidade, saúde e aeronáutica, e produz ventiladores medicinais, automóveis e scooters com um sonho que não me sai da cabeça.

Ao produzir equipamentos, o fazem imaginando a reutilização de suas peças em outra máquina, quando a vida útil dos equipamentos acabar. E dão um exemplo: peças de um carro, quando seu tempo findar, podem reviver numa máquina de lavar roupa no ciclo de vida das coisas.

É a reutilização do que criamos, como reutilizamos o vento, o sol e o mar. 

Ou até mesmo as águas do Mondego, que contemplo agora na margem de Coimbra, quando leve brisa me faz refletir sobre o quanto é preciso, nestes tempos, lembrar dos ensinamentos que a natureza nos deu em algum momento.

Bons ventos sugerem ‘volver’. Ah, como seria bom que essa revisão chegasse aos nossos corações,  além das coisas deste novo mundo de tantas inovações.

Compartilhe:
TAGS cultura milenar Pyxis Ocean sustentabilidade tempo português

Leia também