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Luiz Dias Guimarães

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Fazer, mas fazer bem feito

O fato é que não basta fazer, tem que ser de maneira certa e, principalmente,  fazer bem feito. E isso começa por planejar .
Um ditado espanhol diz que ‘festas querem vésperas’.  O segredo do sucesso começa no planejamento, passa pela convicção
e termina com a realização da festa – ou da obra.

 

O presidente uruguaio, Lacalle Pou, ao apresentar seu plano quinquenal de US$ 3,3 bilhões para obras em rodovias, repetiu o mantra de campanha  ‘fazer, mas fazer bem feito’. Se é sincero e tem como se garantir, é o cara!

Quando o Brasil caminha a passos largos em obras de infraestrutura,  essa preocupação volta à tona, afinal não temos boas lembranças do que fazemos com dinheiro público. Não basta fazer, é imprescindível fazer bem feito. Do contrário, não vale nada.

Sejam obras públicas, sejam parcerias público-privadas, historicamente carecemos de padrões que assegurem o que preconizou Pou. Muitos projetos estão sendo executados pela iniciativa privada, em boa parte multinacional. E essas não preocupam tanto. Parece que o dinheiro privado tem menos erros, ou mais cuidado. O privado não gosta de gastar mal, em geral.

Há 15 anos, eu caminhava em companhia do presidente da Câmara (prefeito) de Ansião pela rua principal, em direção à sede da prefeitura lusitana, quando surpreendi-me com a qualidade da obra de recomposição da via que se fazia lá. Pedras polidas, muito bem encaixadas nas guias, serviço limpo, bem executado. Na minha ingenuidade tupiniquim, perguntei: “Presidente, quem está a realizar esta obra, empreiteira ou a municipalidade?” Surpreso, ele contrapôs: “Por que perguntas?” Eu respondi: “Porque está muito bem feita, parabéns!”. E então ouvi uma inesquecível resposta: “Pois é claro, não voltaremos a esta rua neste século!”

Admirável e correta essa visão holística da vida pública. Confesso não ter boas lembranças por aqui, salvo, claro, exceções. Mas os exemplos que vemos fora nos surpreendem. Não falo do imenso e famoso buraco japonês recomposto em poucos dias. Nem das proezas de Elon Musk na construção de suas fábricas Tesla.

Falo de pequenas e grandes obras e serviços. Certo dia, ao sair do hotel às 8 horas em importante via turística de Miami, em véspera de feriado nacional, deparei-me com um batalhão de operários e máquinas descascando e repavimentando a via de uns 500 metros. Novamente, como ingênuo tupiniquim, pensei “que loucura, em véspera de feriado!”. Para minha perplexidade, ao retornar ao hotel, às 18 horas, encontrei uma via belamente pavimentada e – detalhe – totalmente sinalizada, horizontal e verticalmente.

Nova Iorque se transforma ao cair da tarde, quando todos os serviços públicos começam a ser realizados. Para não comprometer o frenético movimento diurno. Apesar de lá, como aqui,  haver quem cobre seu sono.

O fato é que não basta fazer, tem que ser de maneira certa e, principalmente,  fazer bem feito. E isso começa por planejar .  Um ditado espanhol diz que ‘festas querem vésperas’.  O segredo do sucesso começa no planejamento, passa pela convicção e termina com a realização da festa – ou da obra.

Quando participava de um seminário internacional sobre revitalização urbana em Valparaíso, no Chile, um dirigente espanhol estava expondo sobre as obras admiráveis que estavam  em execução em Barcelona. Um ingênuo – e não fui eu desta vez – perguntou: “Mas se essa obra vai demorar tantos anos e seu prefeito só tem mais dois, como fica?” Enrubescido, o catalão respondeu: “Em minha terra, os projetos estão acima dos governantes”. A continuidade garante a qualidade, ou deveria.

Sabemos que há muitos fatores influentes sobre as obras e serviços públicos – e algumas vezes privados. Nossa anacrônica legislação obriga a contratação pelo menor preço, e portanto, geralmente menor qualidade. Nem a modalidade de técnica e preço resiste ao projeto mal feito. E isso vale também para o Regime Diferenciado de Contratação criado nos idos do PAC para a Copa.

 O fato é que, verdadeiramente, há de se ter compromisso com a qualidade do que se faz. Desleixo da fiscalização, interesses pessoais escusos e incompetência técnica muitas vezes nos fazem sonhar com um mundo em que uma rodovia tenha uma pavimentação à altura de suas carretas por longos anos. E que não nos preocupemos em voltar à mesma via nos próximos anos, já nem digo neste século.

 

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