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Advogada, pernambucana e carnavalesca, com orgulho

Atualizado em: 11 de fevereiro de 2024 às 9:47
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

A advogada Ingrid Zanella Andrade Campos já começou a curtir o Carnaval na semana passada, com a festa no espaço Catamarã, em Recife (PE) para mil advogados de todo o Estado e de outros próximos, animada pela banda Sambadeiras, formada só por mulheres. “A OAB faz todo ano essa festa e agora batemos o recorde de participação com o bloco de Liberdade Incondicional, reunindo a advocacia do nosso estado”. E não foi só essa a programação: ela participou do Baile Municipal do Recife e da abertura do Carnaval com Gilberto Gil. 

Morando na Avenida Boa Viagem, está acostumada com blocos diários no bairro, mas a grande celebração do Carnaval será neste sábado, com o Galo da Madrugada. “As pessoas se preparam cedo e só voltam quando acaba, é muito bom, a energia é contagiante”, conta animada.

Como boa pernambucana raiz, brinca que é o povo mais bairrista do Brasil: “Nosso povo tem uma característica diferente, fomos criados para ter muito orgulho por sermos pernambucanos e valorizar nossas tradições culturais desde criança. Não tem como não gostar de Carnaval, para mim traz lembranças da infância de ir com meus avós, pais e tios para a pracinha ver o bloquinho na rua. Não tem como fugir disso, tenho muitas memórias afetivas do Carnaval. É uma forma de não só reverberar a cultura que recebemos desde a infância e o amor pelo Estado, mas valorizar a importância econômica da festa para o desenvolvimento de Pernambuco, atraindo turistas que aquecem o comércio nessa época”.

Ingrid é advogada atuante na área de Direito Marítimo, Portuário Ambiental e Aduaneiro, vice-presidente da OAB/PE, Doutora e mestre em Direito pela da Universidade Federal de Pernambuco e Professora Adjunta de Direito Civil e Marítimo, na mesma UFPE. É presidente da Comissão Nacional de Direito Marítimo e Portuário do Conselho Federal da OAB e autora de três obras jurídicas no campo do Direito Civil e Marítimo. Faz parte dos Conselhos Jurídico e Feminino do Fórum Brasil Export.

Mora em Recife, mas seu escritório tem atuação no Brasil inteiro, com filiais ou parcerias. Escolher a profissão, foi fácil: “Eu já era advogada das minhas amigas no Colégio. Toda vez que alguém do grupo era expulsa de sala ou tinha um problema eu que ia para a coordenação com a pessoa e advogava a favor dela. Eu nem me descobri advogada, acho que nasci advogada, querendo fazer justiça e protegendo minhas amigas, que mantenho até hoje desde a infância. Todos no colégio diziam que eu tinha que ser advogada, vivia procurando uma boa causa para me envolver”.

Entrou na Faculdade de Direito, mas levou alguns anos a mais para concluir: “Gosto muito de viajar, sou curiosa, hiperativa, tranquei a faculdade três vezes e fui morar fora nos Estados Unidos, em Portugal, além de passar um tempo na Itália e na Holanda. Eu me virava; nos Estados Unidos trabalhei na Starbucks, na Holanda participei de feira de flores, com uma empresa de relações internacionais, não ficava parada, fazia amigos por onde passava. É assim até hoje”.

Quando fez amizade com pessoas de uma agência marítima nos Estados Unidos, não pensou duas vezes e aceitou o convite para trabalhar embarcada em um navio de cruzeiro como chefe da contabilidade, por quatro meses. “Tive várias atividades paralelas até prometer para a minha mãe que eu não ia viajar mais até me formar em Direito. Voltei, já apaixonada por Direito Marítimo, por conta das viagens e dessa experiência no mar, montei uma estratégia de formação”.

E o destino cumpriu sua parte.  “Meu pai dizia quem não é visto não é lembrado, e por isso é essencial fazer conexões ao longo da vida e ter bons amigos que lembrem da gente. Fui chamada pelo agente marítimo amigo dos Estados Unidos para liberar um navio que não conseguia atracar no Porto do Recife por uma questão ambiental. Eu só tinha três meses de formada, mas ele confiou em mim, aceitei a causa e consegui a liminar liberando o navio”.

Depois disso, resolveu abrir o próprio escritório e, como era incompatível, desistiu da bolsa de Mestrado que conseguiu com muito estudo, continuando por conta própria. “Eu até saí no jornal como advogada especialista por conta desse caso. Ali decidi também que queria atuar na área marítima, portuária e comércio exterior. Tudo foi acontecendo rápido, logo um professor do mestrado me chamou para dar aula de Direito Marítimo. Não havia cursos e nem livros, estudei sozinha em buscas na Internet e resoluções administrativas. Os escritórios mais conhecidos ficavam em São Paulo e no Rio, em Pernambuco foi preciso desbravar essa área”. 

Ingrid também foi pioneira em 2011, quando propôs à direção da OAB no Recife a criação da Comissão de Direito Marítimo e Portuário. “Não conhecia ninguém, mas aceitaram minha proposta e virei presidente. Depois montamos a primeira pós-graduação no tema em 2013, na Faculdade Maurício Nassau, com parceria da OAB”.

Depois de terminar o Mestrado e Doutorado n UFPE, passou no concurso para docente na Universidade Federal, seu grande sonho: “Adoro dar aulas, gosto de pessoas. Como professora preciso estar atualizada sempre, ensino e aprendo ao mesmo tempo, é um universo muito diverso, há pessoas de diversas formações. No meio acadêmico você desenvolve mais empatia e respeito ao próximo, é enriquecedor”.

Ingrid comenta que nos primeiros cursos de Direito, em Pernambuco e em São Paulo, o Direito Marítimo era obrigatório, depois com o tempo isso foi se perdendo. “As pessoas deixaram de estudar o tema nas graduações, são poucas faculdades que ministram. Para você atuar na área tem que ser um generalista especializado, entender de contratos, regulatório, administrativo, processo civil, um pouco de tudo aplicado ao nicho. Exige um alto nível de dedicação”.

É uma profissão de futuro, ela afirma: “Os estudos apontam que 80/90% das coisas chegam através do modal aquaviário. Queremos atualizar a legislação, aumentar a navegabilidade marítima no Brasil, abrir o mercado para embarcações estrangeiras. Quando isso acontecer, teremos um campo ainda maior de atuação. É um campo aberto, principalmente na área de tecnologia. Passamos por revoluções para que tudo seja adaptado à sociedade complexa em que vivemos. Fazemos contratos por celular, estamos sujeitos a fóruns internacionais, buscamos trazer soluções mais inovadoras para o nosso comércio. Exige uma grande sinergia entre os atores, atuação conjunta com outros escritórios e muitas oportunidades”.

Com tanto trabalho, o dia de Ingrid começa cedo, acorda às 5 da manhã para garantir atividade física: “Eu corro e faço academia, é essencial para corpo e mente, traz um gás de adrenalina e me deixa mais otimista e consciente de que meu dia será abençoado”.

A leitura é uma forma de se desconectar dos problemas quando chega em casa à noite. Ela costuma ler de três a quatro livros ao mesmo tempo. Também gosta de cozinhar e nos finais de semana o programa sagrado é a praia. E sempre encontra tempo para a família: “Faz parte da rotina ter o coração preenchido”.

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