Carreira e vida profissional na “Estrada Mãe”. Nossa aventura na Route 66
“A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio, você deve continuar se movendo.”
Albert Einstein
“Main Street of America”, “Estrada-Mãe”, ou “Estrada mais famosa do mundo”. Esses são outros nomes pelos quais é conhecida a Route 66, estrada fantástica que corta os Estados Unidos de Chicago no Illinois a Santa Monica, California. Percorrê-la foi o desafio a que Silvia, minha mulher há quarenta anos e eu nos propusemos nas últimas férias, dividindo os papéis de motorista e navegador.
Em números, a aventura foi assim: um pouco mais de 5.000 Km, 18 dias, 11 Estados (começamos pela Florida e saímos para Utah e Nevada), 8 hotéis, 3 fusos horários (foi interessantíssimo ver o Waze querendo que “voltássemos no tempo”, sugerindo “retorne” por não entender que o tempo final de chegada ao destino estava alterado).
As saídas da Rota foram três: Monument Valley – local sagrado para os Navajos (aquele lugar maravilhoso em que Forrest Gump resolve parar de cruzar os Estados Unidos), Grand Canyon, cuja grandiosidade fala por si e Las Vegas (não, não nos casamos novamente na Capela do Elvis), com uma passadinha para conhecer a Represa Hoover, obra fantástica de engenharia (eu tento, mas não consigo ficar longe dos filmes: é aquela em que o Super Homem, conserta uma rachadura e faz o tempo voltar para salvar Lois Lane).
Passamos por cidades enormes, outras quase desabitadas, “fantasma”, mesmo. Cruzamos deserto (sem sinal de Internet – só com o velho mapa de papel nas mãos), florestas, neve, montanhas, planícies. Além disso, a Rota em si, construída na década de 1930, é pouco sinalizada, principalmente depois que foi substituída por uma autoestrada moderna, que corre em paralelo. Em alguns pontos foi engolida pelo tempo e pela vegetação, o que nos obrigou a entrar e sair dela onde possível para não perder nenhum dos pontos interessantes nem o espírito da estrada e da aventura em si.
O planejamento prévio ficou por conta da Silvia. Quase um ano de trabalho. Sabíamos onde dormir a cada dia e quanto precisaríamos percorrer no período. Chegamos a dirigir quase 900 Km por dia. Acordar cedo, café e pé na estrada.
Por isso, a capacidade de planejar foi a primeira competência que exercitamos. Não um planejamento qualquer, mas um estudo meticuloso do itinerário, das condições que cada local oferecia, da temperatura e da possibilidade de chuva (tínhamos que saber o que levar numa mala pequena), sua consistência com o objetivo original que era manter-se na Rota e os recursos necessários, afinal os custos tinham que permanecer sob controle. Alguns pagamentos foram feitos antecipadamente e outros só no local. Havia as necessidades óbvias de comer e abastecer o carro o que envolveu cartão e cash, dependendo do local. O controle do prazo para o fim do “projeto”, inegociável, quando você tem os voos de volta todos marcados.
A segunda competência foi o Teamwork. Embora fôssemos apenas dois era necessário trabalhar em conjunto. Dirigir em local desconhecido, muitas vezes à noite, exige tomar decisões rápidas, comunicar-se claramente, assumir erros (com muita dor, confesso) e celebrar vitórias. Um exercício diário que envolveu muita negociação, o que pode não ser simples quando não há uma liderança formal envolvida, mas um casal com igual poder de decisão. Exatamente como ocorre nas organizações quando há mais de uma Equipe e líder envolvidos. Nessa viagem, como no dia a dia de trabalho, o engajamento de cada um torna o time maior que a soma de seus componentes. Um mais um dá mais que dois e os resultados acontecem.
Outro ponto muito que ficou evidente ser próximo de nossa rotina nas empresas foi a necessidade de não ter medo de errar. Às vezes é preciso ter coragem, confiar nos próprios instintos e arriscar-se. Uma decisão, ainda que errada, é melhor do que nenhuma decisão.
Foi interessante também exercitar a resiliência, mais do que isso, a resignação. Por mais planejamento que se faça, o imponderável acontece há fatos novos contra os quais não se pode lutar. Um desvio por conta de uma obra recém iniciada está lá e pronto. Não há o que fazer a não ser reordenar a rota. É um exercício de paciência, característica que é especialmente importante para os líderes. Eu tive um chefe que usava uma frase horrível: “Não interessa se o pato é macho. Eu quero os ovos”. Sejamos honestos, além de ser desagregador revela grande ingenuidade. Um líder não tem o direito de dizer “eu quero, porque eu quero e pronto!”. Reconhece a Equipe, tira o melhor de cada um e provê recursos.
E a resiliência, se exercita com a capacidade de “voltar uma casa” e começar de novo, tendo aprendido com o passado. Houve um dia em que subimos a colina em Los Angeles para fotografar, no tal Point View, o famoso letreiro de Hollywwod. Chovia a havia uma neblina intensa. Nada de letreiro. Fazer o quê? Alterar o roteiro para algo que se possa fazer em local coberto. A resiliência? No dia seguinte fazia um sol fantástico, voltamos e as fotos ficaram ótimas.
Por fim, algo que muitas vezes, absorvidos pelos problemas de cada dia, nos esquecemos de fazer: aproveitar a viagem. Atingir metas e resultados é tão importante quanto construir o que se aprende durante o trabalho. Não deixamos de visitar nenhum dos pontos importantes, chegamos na data planejada e dentro do orçamento. Mas não perdemos uma montanha, um pôr de sol, uma cidade bacana ou a chance de conversar com alguém a cada parada.
Mais do que tudo, sem perder a alegria, emocionados, chegamos ao Píer de Santa Monica para terminarmos, juntos, a nossa viagem.
E as próximas férias? Já estamos planejando. Logo eu te conto.
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD
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