Tempo. O que fazemos com ele? Quem fica, quem passa em nossas vidas? O poder do networking
Durante a última semana, como muitos de nós, envolvidos com Logística, portos e transporte, estive na Intermodal. Para ser honesto, fui até a entrada, apenas.
Meu objetivo era encontrar um cliente atual, antigo colega, gestor como eu, à época, de um dos grandes terminais do Porto de Santos.
Chego cedo. Ele, preso no trânsito, atrasa-se um pouco, mas de forma muito educada e profissional, liga avisando que chegaria após o horário combinado. Isso me obriga a improvisar um “escritório” num pedaço de um dos estandes externos, onde havia uma pequena mesa, duas cadeiras e uma tomada salvadora para recarregar o celular. Simples, mas funcional.
O interessante foi que, além de continuar trabalhando quase normalmente, vi passarem diversos rostos conhecidos. A maioria dos que me viram fez questão de parar para um aperto de mão, um abraço e “um dedo de prosa”, como se dizia antigamente. Alguns, verdadeiramente não me viram, apressados com seus compromissos, mas fiz questão de chamar. Uns poucos acharam mais confortável “não me ver”.
Seja em que situação for, foi impossível deixar de pensar nos relacionamentos que fazemos ao longo da vida – profissional nesse caso – e como eles nos afetam. Para usar uma palavra que descreve melhor o que quero dizer, estava pensando em networking, essa capacidade de estabelecer uma rede de contatos que funciona para os negócios e para a vida.
Veja, para mim que tenho quase 40 anos de carreira, com passagem pela indústria, pela administração pública, por serviços, porto, mobilidade urbana e consultoria, não deveria ser difícil estabelecer uma boa rede de relacionamentos. E não foi. O duro, o difícil foi, e é, mantê-la.
Como é fácil deixar-se absorver pelo dia a dia e esquecer de alimentar os (bons) relacionamentos. Não por imaginarmos que, algum dia, aquelas pessoas possam vir a ser-nos úteis, mas pelo simples prazer de estarmos com elas e, aproveitando a oportunidade, trocarmos impressões, ideias e experiências que nos tornam pessoas e profissionais melhores.
Não estamos “fazendo networking” quando procuramos alguém apenas quando precisamos de ajuda. Nessa situação, estamos só tentando aproveitar-nos de alguém com poder ou informação que pode nos ser útil naquele momento. Tendo conseguido, voltamos para o nosso mundinho. Pode chamar do que quiser, mas não de networking.
Não posso dizer também que estou fazendo networking quando, de forma pura e simples, evito relacionamentos com as pessoas de quem não gosto. Podemos não ter os mesmos princípios e valores, porém, sem buscar entender o que essa pessoa tenha de bom – e todos temos algo positivo a oferecer – perderemos a chance de aprender algo, nem que seja praticar a tolerância.
Outro ponto importante de ser destacado é que usar um termo em inglês, abordado de forma abundante na literatura, pode sugerir que se trata apenas de uma questão da vida profissional. Não. É fundamental fazer networking na vida pessoal também, em especial na família. “Nenhum sucesso compensa o fracasso no lar”, como já disse alguém.
Dito isso, há algumas dicas importantes para acrescentar.
Em tempos em que as redes sociais são onipresentes, usá-las é uma boa ideia. São abrangentes, nos permitem fazer contato com pessoas as quais jamais acessaríamos de outra forma, são rápidas, mais do que tudo. Porém, podem ser frias e impessoais. Não podem ser a única forma de contato para um networking efetivo. O contato pessoal ainda é insubstituível, logo, participar de reuniões, eventos, confraternizações é fundamental.
É importante também que você tenha o que compartilhar. Relacionamentos pressupõem trocas, então é preciso, antes de mais nada, ter o que oferecer. A primeira – e decisiva – coisa que você pode oferecer é você mesmo, com suas verdadeiras ideias e convicções. Ninguém gosta de relacionar-se com uma peça de ficção, muito menos com aqueles tipos que se inclinam às posições dos outros, com facilidade, todo o tempo.
Conheça o outro e mantenha o ritmo. Cada um tem sua forma própria de aceitar e conduzir seus relacionamentos. O que é normal para você pode ser invasivo para o outro. Tudo a seu tempo.
Por fim, o fator decisivo para fazer e manter relacionamentos produtivos e duradouros: invista tempo nisso. Por isso, me socorri de Nana Caymmi, na abertura do texto. Como você usa seu tempo é uma questão de escolha. Opte por estar junto, por fazer parte. De verdade.