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Luiz Dias Guimarães

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Árvore da felicidade

“A concepção de felicidade está em jogo e é óbvio que o modo de viver acaba determinando o sucesso para como sou ou estou no mundo. O sentimento de felicidade é francamente influenciado hoje pela maneira como nosso cérebro e nosso coração interagem com o mundo”

Felicidade é apenas um sentimento, talvez o mais importante no íntimo universo de cada um. Impalpável e imponderável, é como uma pessoa se sente na vida. E para a felicidade há até um dia mundial a se comemorar – ou preocupar. Dia 20 de março é o Dia Internacional da Felicidade, que busca aplainar os flagelos dos países e dos povos. Este ano, porém, a pesquisa que monitora 143 países e territórios trouxe dados para muita reflexão. O principal deles, que os jovens dos Estados Unidos e de parte da Europa não estão felizes, quando se espera que sejam os timoneiros da nossa esperança.

Há sutil diferença entre ser feliz e estar feliz. A gramática portuguesa conjuga distintamente ambos sentimentos, ao contrário da cultura inglesa para a qual tudo é ‘to be’. Isso pode explicar simbolicamente porque os norte-americanos despencaram no ranking dos países mais felizes.

Felicidade é como uma árvore, repleta de galhos. Consumo não é fertilizante, está claro, e talvez o modo de conjugar na vida o verbo ‘ter’ explique porque países da antiga União Soviética estejam avançado no ranking da felicidade.

A pesquisa, coordenada pela Universidade de Oxford, traça a média dos últimos três anos e aponta um índice de bem-estar global, influenciado nos indivíduos por fatores de prosperidade e também de esperança de vida, laços sociais, liberdade pessoal e corrupção.

Qual o país mais feliz? Pela sétima vez consecutiva a gélida Finlândia, seguida de outros nórdicos como Dinamarca, Suécia e Islândia. O último colocado, compreensivelmente, é o Afeganistão. E entre os 143, o Brasil aparece em 44º lugar, atrás, na América do Sul, do Uruguai e do Chile.

Os países nórdicos têm em comum o frio, o que põe por terra nossa ilusão de que o calor tropical é o que nos faz felizes. Talvez apenas alegres, felizes não, ainda mais diante do crescente aquecimento climático.

Na Finlândia o profissional mais bem pago é o professor. E nas escolas, despreocupadas com provas e avaliações, a prioridade é as crianças brincarem. A Suécia, por sua vez, acabou de abolir os estudos digitais e voltou para os livros impressos.

A concepção de felicidade está em jogo e é óbvio que o modo de viver acaba determinando o sucesso para como sou ou estou no mundo. O sentimento de felicidade é francamente influenciado hoje pela maneira como nosso cérebro e nosso coração interagem com o mundo.

Os ‘millennials’ norte-americanos e alguns europeus sofrem a ironia do progresso. Drogados digitais, associam felicidade a consumo, vivem uma vida através das telas, num fast food de informações, e acabam por se sentir solitários. Tornam-se toscos seres e quando não se refugiam nas drogas químicas, se deprimem e às vezes infelizmente se matam, porque morta está sua relação real com os outros e mortos os seus sonhos.

Não é à toa que o Observatório Europeu analisou as águas residuais de 88 cidades europeias de 24 países e descobriu um aumento significativo do consumo de cocaína e ecstasy, especialmente na Bélgica, nos Países Baixos e na Espanha.

A relação com a natureza também é fator determinante. Costa Rica avança nesse ranking. Pudera, lá há décadas não há mais exército, as cachoeiras, florestas, as aves e praias são templos de vida. E os costarriquenhos declamam diariamente o mantra ‘pura vida’.

O asiático Butão teve a feliz iniciativa de propor a criação do Dia Internacional da Felicidade. Lá desde 1972 o país adota a postura de ‘felicidade bruta e absoluta’, em que a Felicidade Nacional Bruta é mais importante que o Produto Interno Bruto.

A pesquisa, que tem a chancela da ONU, merece amplas investigações para arrumarmos os caminhos e acharmos o pote da felicidade. Mas creio que o poeta Vicente de Carvalho já tenha descoberto, décadas atrás, quando declamou que ‘esta felicidade que supomos, árvore milagrosa com que sonhamos, existe sim, mas nunca a alcançamos. Porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos’.

A poesia, se não resolve a vida, ao menos a explica.

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