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Hudson Carvalho

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Demissões: é difícil passar por elas, porém há muito o que aprender nesse momento

Jogue a cópia das chaves
Por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte, adeus

Bilhete, composição de Ivan Lins e Vitor Martins.

Ao longo de minha carreira, fui obrigado a demitir algumas centenas de pessoas. Sempre me fez muito mal.

Foram centenas porque de uma só vez, no final dos anos noventa, conduzi um processo que desligou quase duzentas pessoas em duas semanas. As que antecederam o Natal, o que tornou tudo muito mais duro.

Numa demissão por “atacado” como essa, o critério de meritocracia (ou a nítida falta dela) se confunde com outros menos nobres. Tenta-se segurar os que sabemos serem melhores, mas a necessidade de cumprir o número fala mais alto e eles se vão, junto com aqueles que seriam desligados cedo ou tarde.

Demiti pessoas de todos os níveis. Quanto mais alto, mais difícil, como o caso do diretor de uma grande empresa que se negava a sair de sua sala. Literalmente agarrado a sua mesa, chorava enquanto tentávamos tirá-lo dali discretamente e com toda a dignidade possível. Desliguei gente desonesta, que lesava a empresa. Demiti chefes que abusavam do poder e das pessoas e gente que, sem o menor pudor, assediava os colegas. Fiz demissões por baixa competência e por falta da atitude correta. Demiti gente muito boa também, as quais estavam apenas num momento de carreira diferente do que a empresa precisava.

Por trás de cada assinatura, num termo de rescisão, um drama pessoal, ou familiar, mas sempre um drama.

Se houve algo que aprendi nesses anos, foi que quem demite pode até não saber as razões completas que resultaram na demissão, mas o demitido quase sempre sabe. Quem demite enxerga efeitos (comportamentos ruins, resultados piores). O demitido, via de regra, enxerga as causas, que às vezes estão dentro dele mesmo, outras vezes, no ambiente a sua volta.

Alguns dos que admitiam sua culpa, os vi – anos depois – mais fortes em postos de maior responsabilidade. Muitos, vi seguirem suas carreiras, cometendo os mesmos enganos, continuando a achar que o mundo tinha enorme má vontade com eles.

Os demitidos que refletem sobre a sua parcela de culpa no processo, aprendem mais e com maior rapidez com a demissão do que as próprias organizações que os devolveram ao mercado. Pelo exercício do autoconhecimento ou pelo fato de suas famílias serem afetadas imediatamente. As contas chegam e é preciso recolocar-se, muitas vezes, reinventar-se.

É verdade também que recebi muitos pedidos de demissão, iniciativa do empregado. Nesses casos, enquanto conduzia as famosas entrevistas de desligamento, ouvi todo tipo de história. Muitas verdadeiras, colocavam luz nos pontos mais obscuros da organização e outras completamente equivocadas, mas que me obrigavam a pensar: “Como é que nós não conseguimos nos explicar para esse camarada?”. Um mix de gente cercada de boas razões e outros cheios de (suas próprias) razões. 

Após cada uma dessas demissões, eu sempre me perguntava – e pergunto até hoje – onde foi que nós erramos? Onde foi que eu errei?

Como Área de Recursos Humanos, poderíamos ter resolvido a questão logo no início, ainda dentro do processo de seleção, identificando que o conjunto completo de competências não estava presente naquele candidato e que também não seria possível treiná-lo? Dado maior e melhor suporte aos líderes, que fazem a gestão efetiva das pessoas no dia a dia?

Teria sido possível termos detectado o problema antes que se tornasse insustentável e resolvê-lo? Por que não identificamos esse comportamento ruim? Por que não treinamos essa pessoa para que produzisse resultados melhores? São muitas perguntas e as respostas, subjetivas, por mais que procuremos as técnicas e ferramentas adequadas. Afinal, gerenciar pessoas não é só ciência. É arte também.

Mas há uma luz no fim do túnel, algo que recomendo fortemente para profissionais e para empresas: RE-CONTRATE-SE todos os dias.

Lembra-se daquele tempo em que você definia um processo de trabalho, as competências dos profissionais que iriam executá-lo e pronto! Aquilo durava uma eternidade. Pois é. Isso não existe mais.

Devemos permanecer antenados a tudo que acontece na nossa área de atuação. Perguntar-se diariamente o que mais é necessário saber. E aprender de verdade. Levantar a cabeça, normalmente afundada no dia a dia, e entender quais são os novos comportamentos esperados. Para qual direção está mudando a cultura organizacional? Mas cuidado: não estou recomendando que você mude seus valores ou a essência de quem você é.

Se você “é a organização” e tem um cargo de gestão, estude permanentemente seu mercado e atuação e descubra para onde ele está indo. Quais são as estratégias para ter sucesso? E divulgue os resultados de suas observações para todos. Deixe claro o que é preciso mudar e o porquê. É a comunicação clara e a capacidade de sair da zona de conforto que vai nos afastar do amargo momento da demissão. Se não o fizer, terá ajudado a nos tornarmos profissionais melhores, estejamos onde estivermos.

Você é capaz?

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