Desobstruir investimentos em logística abrirá novos caminhos para o desenvolvimento
Por: Décio Amaral. Presidente da Ultracargo
A expansão do agronegócio no Centro-Oeste aponta para um aumento médio anual de 2,3% na demanda de diesel pelo modal rodoviário até 2032, e de 4,6% no modal ferroviário.
Essa demanda precisa estar acompanhada de capacidade de armazenamento e transporte de combustíveis. Como o diesel importado chegará de Santos (SP) a Rondonópolis (MT) para garantir o abastecimento dos ativos necessário para a produção e transporte agrícola? Como o etanol de milho será exportado para suprir a demanda por energias renováveis?
Não é novidade que o Brasil investe pouco em infraestrutura. A relevância do tema impõe, no entanto, que essa discussão se mantenha atual.
Em 2023, investimos cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em logística, energia elétrica, telecomunicações e saneamento. Trata-se de valor tão baixo que, apenas para cobrir a depreciação de seus ativos, o desembolso mínimo necessário seria o dobro.
Números como esses mostram que a Infraestrutura precisa ser vista como uma agenda de Estado. Não apenas por parte do Poder Executivo, mas também pelo Legislativo, Judiciário, agências reguladoras e tribunais de contas.
O crescimento de 2,9% em nossa economia no ano passado foi fortemente impulsionado pela atividade agropecuária – um salto recorde de 15,1% de 2022 para 2023.
Não conseguiremos manter a competitividade de nossa produção sem investimentos em Infraestrutura.
A expansão do agronegócio no Centro-Oeste aponta para um aumento médio anual de 2,3% na demanda de diesel pelo modal rodoviário até 2032, e de 4,6% no modal ferroviário.
Essa demanda precisa estar acompanhada de capacidade de armazenamento e transporte de combustíveis. Como o diesel importado chegará de Santos (SP) a Rondonópolis (MT) para garantir o abastecimento dos ativos necessário para a produção e transporte agrícola? Como o etanol de milho será exportado para suprir a demanda por energias renováveis?
Em 2023, adquirimos um terminal em Rondonópolis, para abastecimento de derivados e para a captura do etanol de milho que será distribuído nas regiões de consumo. Esse ponto estratégico se conecta via modal ferroviário à OplaLogística Avançada, maior terminal de etanol do Brasil, localizado em Paulínia (SP), no qual passamos a deter 50% de participação em 2023.
Este ano planejamos investir cerca de R$ 800 milhões em nossas operações, em especial na expansão de Rondonópolis, que dobrará sua capacidade, e na construção de novos desvios ferroviários nesse terminal e na Opla. Dessa forma, criamos condições para que o corredor logístico Centro-Oeste/Sudeste se conecte por um modal mais eficiente, seguro e sustentável, que no futuro será interligado por ferrovia ao nosso terminal em Santos.
O investimento em terminais do interior conectados pelo modal ferroviário aos nossos portos traz benefícios na competitividade e sustentabilidade da nossa cadeia logística, reduzindo significativamente o “custo Brasil”. Tão importante quanto a capacidade de carregar e descarregar navios é a habilidade de receber e expedir as cargas para além da região portuária. Um porto eficiente é um porto bem conectado.
O Brasil tem grande potencial para crescer, mas não o fará sem infraestrutura. Não faltam entraves na hora de investir. Para receber a autorização de uma instalação portuária, leva-se entre quatro e cinco anos num labirinto de órgãos governamentais. Depois, outros dois a três anos para se obter o licenciamento ambiental.
Segundo estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o “custo Brasil” relacionado à infraestrutura é estimado entre R$ 250 e R$ 290 bilhões devido aos elevados custos da logística e à baixa efetividade da regulação ambiental, dentre outros gargalos.
O Projeto de Lei 2.159/2021, que tramita no Senado Federal e cria a Lei Geral Ambiental, é um passo importante na racionalização de processos. Já passou da hora de termos um marco legal que aponte para uma coerência entre normas federais e estaduais. A insegurança jurídica atrasa, inclusive, empreendimentos que vão melhorar o perfil das emissões, resultando em benefício para o meio ambiente.
Outro ponto crucial é a questão do financiamento dos projetos de infraestrutura. O bom ambiente macroeconômico é fundamental para permitir a redução da taxa básica de juros, que incentiva investimentos. Nesse sentido, houve avanços relevantes nos últimos meses, com a sanção da lei que cria as debêntures de infraestrutura e a apresentação, por parte do Governo Federal, do Projeto de Lei que cria as Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCD).
Também é fundamental que bancos de desenvolvimento adotem medidas anticíclicas em momentos de juros elevados, para permitir previsibilidade sobre as taxas na assinatura dos contratos.
Os desafios são grandes, mas não são incontornáveis. Com o engajamento dos setores público e privado, podemos construir um caminho para o Brasil crescer e ser mais competitivo, de forma sustentável.