O elixir da vida
Suba até as estrelas e crescerá 3,81 centímetros como os astronautas. Seja um aquanauta e encolherá 1,9 centímetro. É o que constatou o professor Joseph Dituri, que ficou 100 dias enclausurado numa cápsula nas profundezas do mar e entrou para o Guinness Book.
Há entre nós quem não se contente em ver as estrelas, alimento de sonhos e poesias. Há entre nós quem creia no Deus que, sentado à beira da Lua crescente, ou às vezes minguante, tudo pode nos explicar. Há entre nós quem nem olhe para o céu e pense que tudo se explica e se resolve aqui, dependente apenas do seu sucesso ou da sorte.
No estágio em que estamos, enquanto escolhemos o lado do campo em que queremos jogar, há sim quem mire acima, mas também quem volte às origens mergulhando no mar. Qual será o caminho certo da explicação? O olhar profundo do céu tem-nos revelado nossa pequenez, poeira que somos no universo.
Quem olha para baixo, além de mirar o desfortúnio, talvez chegue ao ventre que, se não explica a vida, pode prorrogá-la, ou então, continuar matando a natureza e acabar com o nosso tempo. A alquimia há séculos buscou o elixir quando ainda não havia penicilina. O que sempre se quis foi perpetuar a própria vida, como a rosa que, esperando a chuva, quer enfeitar o jardim.
Divago sobre nossa existência ao ler que o professor, aposentado da Marinha norte-americana, mais conhecido como Dr. Fundo do Mar, provou que o elixir pode estar não no vidro de experimento químico com moléculas de ouro, mas na coragem de quem se arvora em viver um tempo nas profundezas quanto mais se aproxima do núcleo do planeta que ninguém até hoje conseguiu desbravar.
Tal qual Júlio Verne, alguns especulam o que está embaixo, tão fundo. Preferimos olhar sempre para as estrelas, e nunca para os corais, flores de beija flor, que dão o néctar aos peixes e orientam seu caminho. Corais que estão agora agonizando, pela quarta vez, esbranquiçados. Se esvaem com o calor das águas que nós continuamos a esquentar, acabando com nosso jardim de águas soturnas.
Dr. Fundo do Mar revela que prejudicou sua coluna e sua dentição, mas eliminou metade das moléculas inflamatórias. E encontrou seu elixir. Biologicamente retrocedeu de 55 para 34 anos de idade, sonho de consumo de muita gente. Rejuvenescer é possível, portanto, e essa é uma das surpresas ainda recônditas no fundo do mar.
A viralizar a notícia, prevejo levas de interessados em, mesmo perdendo na altura, queiram se tornar baixinhos mais jovens para usufruir a vida. E junto com os anúncios de cruzeiros além-mar e viagens estratosféricas, prefiram pagar fortunas para permanecer por longas semanas numa cápsula de 55 metros quadrados no misterioso universo dos tubarões, só para prolongar sua existência. E vencer a vida, algo que talvez nem os corais, nem as estrelas consigam, a não ser quem espreita tantos experimentos da beira da Lua.
