Afinal, somos éticos por natureza ou precisamos de governança?
“O errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo.
O certo é certo, mesmo que ninguém esteja fazendo.”
Autor desconhecido, mas que continua tendo toda a razão.
Dizem que Ética é um conceito elástico. Que cada um aplica a ela os seus próprios padrões, ou que o conceito em si pode mudar ao longo do tempo. Discordo. Essa pode ser a definição individual de “moral”, não de ética.
Por que discordo? Porque – sejamos honestos – todos nós temos bastante bem definida, internamente às nossas consciências, a diferença entre o certo e o errado. Aplicá-la, ou não, é que nos transforma em pessoas éticas ou não. Escolha é a palavra.
O desafio, diante de cada decisão a ser tomada, pequena ou grande, é vencer o espírito da Lei de Gerson, que habita em cada um de nós. Lembram dela? O comercial antigo de uma marca de cigarros em que o craque da Seleção Tricampeã de Setenta termina dizendo: “Afinal, você quer levar vantagem em tudo, cerrrto?”
Recentemente assisti a um vídeo no Instagram, no qual o filósofo Clóvis de Barros conta uma história que ilustra bem esse tema. Trata-se de alguém que acorda com dor de cabeça. Sai de casa e para na farmácia. Como não há outro lugar, estaciona em fila dupla, liga o pisca-alerta, afinal esse simples ato autoriza tudo, – e, convenhamos, são apenas cinco minutos. Compra o seu remédio, toma e sai feliz da vida com o seu problema resolvido. “Ponto positivo” para esse “cidadão”, conclui.
E continua explicando: se marcou positivo para essa pessoa “consciente”, temos que marcar “negativo” para as mais de duzentas que chegarão atrasadas a seus compromissos por terem sido obrigadas a passar muito devagar pela única faixa de trânsito que sobrou para o resto do mundo, por conta do carro parado em fila dupla. Conclusão do Clóvis: na soma entre ganhos e perdas, cada vez que alguém fere a ética, a sociedade entristece, empobrece, enfraquece.
Essa questão tem toda a relevância, pois as atitudes que tomamos definem quem somos e a reputação que possuímos.
E nós, como líderes em nossas organizações, transferimos integralmente quem somos para as decisões que tomamos internamente a elas. Não é pouca coisa, se considerarmos que vivemos em um ambiente de negócios onde a imagem tem um profundo impacto sobre o resultado dos negócios. Das grandes empresas listadas em Bolsa até a padaria da esquina, todas são impactadas, da mesma forma, pelo que se diz delas.
“Uma mentira dá meia volta ao mundo antes mesmo que a verdade tenha tempo de vestir as calças.”, como dizia Churchill. Fato ou fake, verdadeiro ou não, é tudo muito rápido. O que for divulgado pode causar um dano imenso à empresa. Não há espaço para errar. Logo, é importante que as decisões sejam tomadas, já na sua origem, por quem tem verdadeiro senso ético.
Se montarmos um time de decisores que agem eticamente, por princípio, usando seus valores e crenças pessoais em acordo com aquelas aceitas pela sociedade como boas e corretas, a possibilidade de errar cai tremendamente.
Então as organizações estão reféns da qualidade ética de seus executivos? Em grande parte, sim. Por isso, é fundamental que a escolha leve em conta não só a habilidade de produzir resultados, mas também a forma como serão produzidos. Já escrevi anteriormente e repito. Não há frase mais danosa para uma organização do que “Não importa se o pato é macho. Eu quero os ovos!”, como dizia um dos meus antigos chefes.
Não nos apavoremos. Há formas de minimizar os riscos. Hoje se fala muito em E.S.G., não? Environmental, Social e Governance. Pois é: a solução está no “G”. É através do estabelecimento de regras claras de governança que os riscos diminuem. Deixar claro o que será ou não será aceito pela organização, ao fazer negócios, tratar os colaboradores, concorrentes, parceiros, a legislação, enfim, todos os stakeholders que circundam o negócio em si.
Definir regras de conduta e cobrar que todos as cumpram, seja qual for o seu nível hierárquico, doa o que doer.
É o “G” que vai forçar os executivos a adotarem postura ética. Se eles já tiverem em seu DNA esse senso, ótimo, tudo será mais fácil. Senão, deverão aprendê-los. Não só para tornarem-se seres humanos melhores, mas para protegerem suas organizações. Não é só de conduta pessoal que estamos falando. É de inteligência para os negócios.
E você? É ético ou precisa de governança?