O Nordeste precisa voltar
O ano de 2024 começou alvissareiro para o Nordeste. Nesse primeiro trimestre, a região teve um incremento de 3,2%, ante 1% da média do País, em relação ao mesmo período de 2023, no índice de atividade econômica, medido pelo Banco Central. Será algo sustentável? O Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), conceituado centro de estudos do Banco do Nordeste, assinala que a atividade econômica foi favorecida pelo avanço no setor de comércio e serviços. De todo modo, isto não acontecia desde março de 2015.
Estudo recente da Tendências Consultoria atribui ao Nordeste uma projeção de crescimento do PIB da ordem de 3,4%, entre 2026 e 2034, maior que a média do País, estimada em 2,5%. Significa dizer que o Nordeste já teria contratado crescimento acima da média nacional pelos próximos dez anos!
As bases dessa projeção são investimentos privados nas áreas de gás natural e petróleo, energia eólica, mineração e no agronegócio. Em infraestrutura, pelas concessionárias de aeroportos, pela Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e pelos investimentos das distribuidoras de energia e empresas de saneamento.
Na área industrial, estão consideradas a biorrefinaria da Acelen (R$12 bilhões), em Mataripe, na Bahia, para produção de diesel renovável e querosene de aviação sustentável, e a refinaria da Noxis Energy (R$10 bilhões), em Pecém, no Ceará. Além desses, os investimentos da indústria automobilística, pela Stellantis (R$ 13 bilhões), em Pernambuco, e pela BYD (R$ 5,5 bilhões), na Bahia.
Como se vê, a Região Nordeste vem crescendo na economia nacional. Não é para menos. O Nordeste tem revelado e demonstrado suas oportunidades econômicas, que muitos continuam sem querer reconhecer, muito menos apoiar.
O Semiárido, que sempre foi visto como área-problema, tem agora as energias limpas – eólica e solar – e os biocombustíveis – sisal e macaúba. O Matopiba cresce continuadamente sua participação na produção nacional de grãos. Novas minas de ferro, diamante e outros minérios fazem da Bahia a terceira maior província mineral do País. O projeto Sergipe Águas Profundas promete autossuficiência regional na produção de gás natural. A exploração da Margem Equatorial beneficiará do Maranhão ao Rio Grande do Norte.
Com sinais trocados, no setor ferroviário, a Transnordestina renega Pernambuco e a FCA diz que não quer mais a malha baiana. Há várias iniciativas em andamento, todas capengas, por falta de abordagem estratégica. Concluídas, não formarão uma malha ferroviária integrada.
No setor elétrico, a prioridade é a construção de linhões para transferir do Nordeste a energia gerada, em vez de promover o consumo in-loco – o que deveria ser uma bandeira da política de neoindustrialização. Na energia eólica, troca-se a produção em terra por incentivar a offshore, três vezes mais cara. Uma ação injusta contra a região que lidera a transição energética no País.
Recursos do Fundo Constitucional, duramente conquistados na Constituinte, são cada vez mais aplicados fora do nordeste geográfico.
Assim, o que depende de políticas públicas está negando fogo. Tudo isto resulta da falta de uma política nacional para o Nordeste, assim como de um plano de ação integrado dos estados nordestinos para a própria região.
Saudades do Conselho Deliberativo da Sudene, verdadeiro fórum de governadores, onde as reivindicações do Nordeste eram postas na mesa do Governo Federal. Aqui, hoje, eles preferem viajar em bando para a Europa, sem projetos regionais e, às vezes, nem para os seus próprios estados, para aplaudirem o discurso de um continente decadente e voltarem de mãos abanando.
Enquanto isto, o Sul e o Sudeste unem seus esforços e, de forma objetiva, estabelecem com clareza e precisão os seus interesses: reforma tributária, dívida pública, agenda no Congresso Nacional, pacto federativo, agências e marcos regulatórios etc. Conversa de gente grande.
No Nordeste, temos todos os governadores alinhados com o Governo Federal, mas, em vez de trunfo, isto se tornou um neutralizador da capacidade de reivindicar da região.
Os fatos estão aí: o Nordeste, por conta e risco próprio, dá evidentes sinais de vitalidade econômica. É preciso que este alinhamento de oportunidades não seja desperdiçado e possa permitir um salto adiante.
A política de neoindustrialização precisa ter orientação geográfica e um olhar explícito para o Nordeste. Não por assistencialismo, nem por política compensatória, mas para estimular e promover o aproveitamento de suas potencialidades. As ações no campo da infraestrutura precisam ser articuladas, compatibilizadas e aceleradas.
O que falta ao Nordeste? Saber o que quer, o que lhe interessa, manifestar-se, fazer-se ouvir.