O último pirilampo | BE News
quarta, 03 de julho de 2024
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Luiz Dias Guimarães

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O último pirilampo

Os vaga-lumes e as borboletas estão em extinção! Espalhe essa notícia, que me assombrou desde que a li. As noites ficarão tristes, a lua iluminará um palco de estrelas onde os grilos estridularão sozinhos. Não mais haverá vaga-lumes a sinalizar feito  farol o devaneio dos amantes.

Os dias só dependerão das flores para alegrar. Borboletas não mais provocarão as fantasias. Que tristes essas noites,  que pálidos esses dias que se avizinham sem asas coloridas a nos abanar o espírito!

Mas fato é que os vaga-lumes e as borboletas receberam a indesejada e cruel sentença, e por isso suponho que também estejam tristes no verdejar fosco dos dias e no lúgubre anoitecer.

Estudos comprovaram que as duas espécies estão derradeiramente ameaçadas de extinção, como tudo é derradeiro um dia. Vão-se indo milhares de espécies, vítimas da nossa insensata presença.O orangotango-da-sumatra, o tigre -de-bengala, o camelo bacteriano, o abutre-de-bico fino, o tubarão -baleia. A esses reservo minhas sinceras condolências como a todos que se prenuncia irem-se da vida.

Mas extinguir os vaga-lumes e as borboletas é decretar a morte da poesia! E isso assombra minha convicção de que além da vida há de  persistir a ilusão. Como sonhar sem o embalo dos vaga-lumes quando a noite se aquieta, meu espírito se retém e aquele piscar norteia meus sonhos enquanto os grilos interpretam a sinfonia?

Os vaga-lumes e os pirilampos são os guias na navegação dos iludidos, dos esperançosos e dos que têm olhos para enxergar o céu. Há quem diga que vaga-lumes e pirilampos são diferentes. Os primeiros piscam a cores com o abdome, os segundos com a cabeça.

Pirilampos ou vaga-lumes  piscam para atrair o amor e espantar os predadores. Quem os substituirá nas minhas esperanças? Quem me protegerá sem aquele lusco-fusco que espanta piratas da costa das minhas ilusões?

E o que será das manhãs quando o sol acordar, o galo cantar e eu interromper meus sonhos para enfrentar o realizar que tanto desejei enquanto navegava no meu sono?

Tal qual a noite vazia, meu jardim ficará absorto na sua monotonia, onde caberá às flores, simplesmente a elas, vívidas e delicadas, garantir a formosura, na ilusão de que haverá uma revoada de borboletas, milagre expelido das lagartas, para sacudir minhas fantasias e animar os meus dias.

Inconformo-me com o tempo que se avizinha. Tirem-me os tigres, os abutres e os tubarões, que nunca foram bem-vindos. Mas deixem-me o que me inspira. Sei que um dia chegará o infortúnio do tempo. E eu, sem rumo nas minhas andanças pelo céu, estarei  vagando com pensamentos na insônia e na melancolia, porque, assim como as borboletas, foi-se o último pirilampo.

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