Crise logística na Amazônia
A seca severa que assola a Região Norte do Brasil em 2024 está revelando a fragilidade da infraestrutura logística dependente dos rios amazônicos. A estiagem, exacerbada pelo fenômeno El Niño, trouxe impactos devastadores ao transporte de cargas, prejudicando setores vitais como o escoamento de grãos e a distribuição de insumos eletrônicos. Esta realidade será uma das pautas centrais do Norte Export 2024, fórum regional que o Grupo Brasil Export realizará em Palmas, Tocantins, nos próximos dias 22 e 23.
Dados da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac) indicam que 60% das cargas deixaram de ser transportadas devido à seca, afetando drasticamente a economia regional. A antecipação da estiagem em 30 dias resultou em efeitos visíveis desde o início deste mês de julho, especialmente nos rios Madeira, Negro, Solimões e Amazonas. O rio Madeira, crucial para a navegação, já registra níveis 4 metros abaixo do ano passado, representando o menor nível em 50 anos, com apenas 1,10 metro. A consequência imediata é a restrição na navegação, interrompendo o translado de barcaças e causando um descompasso logístico severo.
O impacto na economia do Polo Industrial de Manaus (PIM) é particularmente alarmante. As empresas enfrentaram custos adicionais de R$ 1,4 bilhão no ano passado devido às dificuldades de navegação, resultando em uma queda de 8% na produção esperada e uma redução drástica de 73,82% na importação via aquaviária. A arrecadação tributária estadual sofreu perdas significativas de R$ 253 milhões, sublinhando a gravidade da crise.
Medidas emergenciais e de longo prazo são essenciais para mitigar os efeitos dessa crise. Segundo Dodó Carvalho, presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani), o reposicionamento de carga até meados de setembro e a dragagem dos rios são fundamentais para garantir a navegabilidade durante a seca. O Porto de Porto Velho, junto a órgãos competentes, deve atuar proativamente na manutenção regular das hidrovias.
O Governo Federal anunciou um investimento de R$ 505 milhões em obras de dragagem para recuperar a capacidade de navegação nos trechos críticos dos rios Amazonas e Solimões. Esta iniciativa é um passo importante, mas a crise atual exige ações imediatas e bem coordenadas. É imprescindível que essas obras sejam executadas com celeridade e eficiência para minimizar os danos econômicos e sociais.
Além das intervenções emergenciais, é crucial desenvolver um planejamento estratégico a longo prazo para enfrentar os desafios da logística na região Norte. A infraestrutura precisa ser robusta o suficiente para resistir aos efeitos adversos de fenômenos climáticos como o El Niño. Investimentos contínuos em tecnologia e inovação, aliados a políticas públicas eficientes, podem transformar a vulnerabilidade atual em uma estrutura resiliente e sustentável.
A seca de 2024 é um alerta sobre a necessidade urgente de melhorar a infraestrutura e logística na região amazônica. O Governo Federal, em colaboração com as autoridades locais e o setor privado, deve adotar uma abordagem integrada para garantir que os rios da Amazônia continuem a ser artérias vitais para o transporte de cargas e o desenvolvimento econômico. A resiliência da economia regional depende de ações concretas e eficazes para enfrentar e mitigar os impactos dessa crise hídrica.