BTS-Port: fato relevante
“É uma nova opção para o Brasil superar os gargalos logísticos que vem enfrentando no comércio marítimo, por onde circulam cerca de 95% das suas exportações. Por sua localização privilegiada, no centro da costa brasileira, a BTS passa a ser um novo ponto de convergência portuária para o país!”
O Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos (BTS-Port) recebeu, neste último mês de julho, a viagem inaugural da nova Rota Bahia-Ásia, operada por um dos maiores navios do mundo, da categoria New Panamax, o MSC Orion, classe de 366m de comprimento, com capacidade para 15.000 TEUs (unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés). Com frequência semanal, trata-se da primeira rota regular de um navio deste porte em portos brasileiros!
Tendo como berço de atracação o Tecon Salvador (Wilson, Sons) no Porto de Salvador (Codeba), com o apoio da Autoridade Marítima, aqui representada pelo 2º Distrito Naval, o antigo Porto do Brasil revive dias de glória e se apresenta ao país como alternativa viável, técnica e operacionalmente, para tornar-se um extraordinário concentrador de cargas.
Vários elementos configuram a importância do evento: a chegada de um navio dessa dimensão – é a primeira vez que navio deste porte aporta na Baía de Todos os Santos; sua capacidade de carga – da ordem de 15.000 TEUs; a inauguração de um serviço regular para a Ásia – atendendo à China e outros mercados do Extremo Oriente; e, sobretudo, o fato de ser o primeiro porto brasileiro com serviço regular deste tipo de navio.
A redução no tempo de deslocamento das cargas é outro fator relevante, à medida em que, em pleno funcionamento da rota, a viagem para o Extremo Oriente será de apenas 29 dias, com redução de mais de 40% em relação à duração atual. Um extraordinário ganho de produtividade!
É também notável o aumento da disponibilidade de espaço para importadores e exportadores, não apenas da Bahia, mas de todo o entorno, criando um novo movimento de manejo e circulação de cargas no país, configurando uma nova opção logística.
Muitas cargas, que hoje descem do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste e de Minas Gerais para o porto de Santos, mas também para outros portos do Sudeste e até do Sul, tendo como destino a China e outros países asiáticos, poderão agora ter outro fluxo. A indústria, o agronegócio e os operadores logísticos já começam a refazer as suas contas.
Em sua primeira operação, o MSC Orion movimentou aqui cerca de 800 contêineres. De imediato, na linha de exportações, algodão, frutas, carne, celulose, químicos e petroquímicos serão os primeiros beneficiados. Nas importações, os equipamentos para a geração de energias renováveis, automotivo, eletroeletrônicos, fertilizantes e, outra vez, químicos e petroquímicos, integram a pauta.
É uma nova opção para o Brasil superar os gargalos logísticos que vem enfrentando no comércio marítimo, por onde circulam cerca de 95% das suas exportações. Por sua localização privilegiada, no centro da costa brasileira, a BTS passa a ser um novo ponto de convergência portuária para o país!
A Codeba, por sua vez, na condição de autoridade portuária federal, já anunciou um programa de dragagem integrada para a Baía de Todos os Santos, com aprofundamento dos canais de acesso aos portos de Salvador e Aratu-Candeias, para a profundidade -17,5m a -18,0m, de modo a permitir a operação de navios ainda maiores, de 400m de comprimento e capacidade para 24.000 TEUs – os Ultra Large Container Ship (ULCS).
Com investimento da ordem de apenas R$200 milhões, cria-se um imenso potencial de transporte de longo curso, sem a necessidade recorrente de dragagens de manutenção, como ocorre na maioria dos portos brasileiros.
Com área de 1.233 km² e 300km de contorno litorâneo, a Baía de Todos os Santos é a maior do Brasil e a segunda maior do mundo. Com localização privilegiada em relação ao Atlântico Sul, águas abrigadas e tranquilas, excelentes condições meteorológicas, grande profundidade natural e baixo nível de assoreamento, a BTS apresenta um imenso potencial portuário que, finalmente, começa a ser descoberto pelo mercado.
Coube, assim, ao setor portuário romper a inércia que tem acometido a economia baiana há algum tempo. E, ao fazer isto, alterar também o cenário nacional, em relação à oferta de serviços de transporte marítimo. Aliás, o Tecon Salvador já vem atendendo a 13 estados da federação. Em 2023, a movimentação de cargas na BTS foi da ordem de 40,1 milhões de toneladas.
Numa visão de médio-longo prazo, o país precisará ter um megaporto capaz de atender ao novo perfil de demanda do comércio global, para assegurar sua competitividade internacional. A BTS é uma clara candidata a desempenhar este papel.
O fato da nova rota beneficiar também o porto de Suape, em Pernambuco, é uma clara demonstração das condições do Nordeste para participar mais ativamente da economia nacional, algo que vem sendo muito negligenciado desde que as políticas de desenvolvimento regional perderam protagonismo no debate político nacional.
Este novo status da BTS, por sua vez, visando atender à indispensável integração intermodal, requer, agora, ainda mais atenção, por parte das autoridades governamentais, para o equacionamento das questões relacionadas com os desafios logísticos das interligações ferroviárias e rodoviárias, que se encontram pendentes e precárias, limitando o desempenho da economia do mar na Capital da Amazônia Azul.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.