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Luiz Dias Guimarães

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O avatar que somos

“A verdade é que o metaverso de certa forma já existe, com a internet e seu carrossel de ilusões. Agora ainda mais com tantas ferramentas de Inteligência Artificial. Por isso digo que você possivelmente seja não o autor, mas seu próprio avatar. Pior, você corre o risco de ser avatar-zumbi, iludido e encantado por sua própria sombra na parede da caverna de Platão”

 

Vivemos no metaverso. Mentira que essa inovação foi adiada e você possivelmente é um avatar. Lembra que há pouco tempo tanto se falava disso? Seria um ambiente virtual em que você criaria um avatar e passaria a viver um dia a dia nem tanto virtual, pois poderia interagir com o mundo real a ponto de se poder fazer e-commerce nele e receber a mercadoria de verdade em casa. A Lojas Americanas até anunciou que abriria uma loja no metaverso. O assunto, porém, foi deixado de lado.

A verdade é que o metaverso de certa forma já existe, com a internet e seu carrossel de ilusões. Agora ainda mais com tantas ferramentas de Inteligência Artificial. Por isso digo que você possivelmente seja não o autor, mas seu próprio avatar. Pior, você corre o risco de ser avatar-zumbi, iludido e encantado por sua própria sombra na parede da caverna de Platão.

Séculos antes de Cristo, o filósofo grego já usava a alegoria da caverna para explicar que, habitando nela, pensamos que o que vemos seja a realidade. Mas vemos apenas nossas sombras na parede rochosa, pois não conhecemos outro mundo e o da caverna é só aparência.

Preocupa-me o resultado disso em nossas vidas. Tanto a privada como a coletiva. Agimos cada vez mais por impulso, sem cognição, e às vezes somos bestiais. Ou no mínimo decidimos agir por pura conveniência individual, transferindo aos outros a esperança de resolver nosso próprio destino.

Ao agirmos assim, lançamos nossas sombras com fragmentos de falsas verdades e pitadas de radicalismo. Frequentemente simplesmente apertando o dedo, um like que nos engaja em turbas de outros tantos zumbis. Os likes nas páginas formam o consumo nas lojas de idéias desse mundo virtual e criam serpentes que nos encantam e a cada engajamento crescem, podendo nos devorar.

É quando nos transformamos em nosso próprio avatar, para não falarmos minions, o que daria a impressão que eu esteja me referindo a apenas um segmento da grande turba de inconscientes que há de todas as tendências ideológicas ou destituídas de razão.

Nas escolhas que os coletivos do mundo têm feito, há nítida substituição do voto democrático pelo like que na hora da urna, vira decisão, gerando figuras olimpianas que nos iludem. Como não agimos racionalmente, acabamos por gerar seres de todos os gêneros com poucos atributos reais. São os encantadores de serpentes que simplesmente aprenderam a postar o que o coletivo quer.

Percebe os riscos que corremos? O carrossel das redes sociais emana dopamina e marca o ritmo da caminhada do mundo como se relógio fosse. Quem sabe será mesmo, tão logo a embriaguês consuma de vez nossos neurônios e essas figuras olimpianas se revelem,  destituídas de valor real e capacidade, não para solucionar nossas vidas – pois ninguém é super – mas para nos ajudar no caminho da felicidade coletiva.

Um dia, ah, um dia, drogados por tanta ilusão, descobriremos então que aquelas sombras da caverna são apenas o reflexo de abjeto avatar que leva nosso nome.

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