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Adilson Luiz Gonçalves

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História triste

Creio que é assim que o patrimônio histórico deve se sentir, pela maneira com que vem sendo tratado mundo afora.

O radicalismo religioso já destruiu estátuas e monumentos milenares; as guerras também. Mas existem outras modalidades de destruição menos bombásticas, mas igualmente danosas, praticadas por intencionalidade vil, falta de informação, total alienação ou revolta aplicada no lugar errado. Dizem que também há interesses comerciais e ideológicos nesse processo, como a venda do reparo, ou a tentativa de reescrever a História, segundo critérios próprios.

Trabalhei vários anos com manutenção de obras públicas para entender o quanto custa reparar esses danos.

São pichações incompreensíveis ao público não “iniciado”. São indivíduos que rabiscam bancos, pisos recém-executados, transporte público, portas e paredes de sanitários de locais públicos; praticantes de “vandalismo esportivo”, que danificam degraus de escadas, muretas de jardins, corrimãos, bancos de praças, etc., comprometendo sua imagem e seu uso.

Infelizmente, isso parece generalizado, aqui e no exterior, erroneamente considerado como exercício da liberdade de expressão, direito ou qualquer outra justificativa que é ainda mais agravada por quem defende quem pratica esses atos de vandalismo como manifestação “cultural”.

Lembro de uma visita a uma tradicional igreja em Caxias do Sul que tinha suas escadarias como um destaque histórico. Foi preciso que eu me manifestasse para que uma guarda interrompesse jovens que destruíam os degraus com suas manobras “radicais”. Eles saíram como se nada tivesse acontecido de reprovável, quem sabe com a intenção de retornar assim que possível.

Não havia espaço próprio para suas práticas? Isso não justifica danificar patrimônio público, histórico ou não. O uso é coletivo, sim! Mas isso não dá o direito de prejudicar o direito de outras pessoas, que não comungam dessa visão de mundo.

Como mencionei, isso não ocorre só por aqui. Vi com tristeza edificações e paredes de ruas milenares de cidades italianas pichadas e riscadas, além de bitucas de cigarros espalhadas por todos os cantos, poluição difusa que as chuvas carregam para mananciais, virando “comida” para peixes. Fumo consumido inclusive por adolescentes, que somados aos mais velhos, faziam as cidades federem a tabaco, numa “queimada” que faz pensar se essas pessoas estão realmente preocupadas com o meio ambiente.

Quando um indivíduo usa indevidamente um local público, com a desculpa de que está expressando sua opinião, ou sua revolta contra o que considera um descaso ou opressão, quem paga é a sociedade. Existem outros meios de se manifestar, e não falta quem vive e até lucre com isso, afora os inconsequentes, como foi o caso de um programa de televisão com plateia majoritariamente jovem: O famoso apresentador exibiu imagens de um grupo de jovens invadindo uma exposição de arte e pichando as obras. O vídeo concluiu com os vândalos, todos jovens, fazendo pose de afronta. Então, o apresentador perguntou a opinião do vocalista do J. Quest. Ele, visivelmente descontente, criticou a matéria, afirmando que aquilo não deveria ter sido sequer comentado, quanto mais apresentado, pois fazia apologia do vandalismo, além de mostrar os jovens como se fossem exemplos de “atitude”. Isso sob o olhar “sem graça” do apresentador, que deve ter se arrependido amargamente, mas tardiamente, de ter veiculado o vídeo.

Infelizmente, tem gente que acha que tudo é direito, sem nenhum dever.

Quem danifica um patrimônio público ou privado, histórico ou não, talvez pense, em sua mente pequena, que está registrando seu nome na História. Está registrando apenas a sua “homérica” estupidez, e entristecendo a História!

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