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A inércia logística e a ascensão do Porto de São Sebastião: o momento de conquistar protagonismo na cadeia logística do Sudeste

Por Alexandre Ernesto Corrêa Sampaio
Diretor-presidente da Companhia Docas de São Sebastião


Nos últimos anos, o Porto de São Sebastião tem demonstrado um potencial crescente para se tornar um dos principais hubs logísticos da região Sudeste do Brasil. Houve recorde de movimentação em 2023, 1.033.224 toneladas de cargas, volume que, de acordo com o plano mestre, só seria alcançado em 2060. Neste ano, essa mesma marca foi alcançada nos primeiros nove meses de gestão e, assim, estamos caminhando para mais um recorde. 

No entanto, um fator crucial retardou essa ascensão: a inércia logística. Embora o porto tenha uma localização estratégica – equidistante dos principais centros industriais de São Paulo e do Rio de Janeiro – e capacidade para atender uma demanda crescente, foi necessário implementar uma estratégia para quebrar a resistência a mudanças e ressaltar a existência de integração com os principais elos da cadeia de suprimentos, além das características particulares do Porto de São Sebastião.

A inércia logística: o que está em jogo?

A inércia logística se manifesta quando há uma resistência por parte dos agentes envolvidos na cadeia de suprimentos em adaptar-se a novas soluções, tecnologias e rotas alternativas. No caso do Porto de São Sebastião, essa resistência estaria ligada a uma combinação de fatores históricos, operacionais e perceptuais. Empresas que poderiam se beneficiar das vantagens competitivas do porto optam, muitas vezes, por utilizar alternativas mais conhecidas, ou já consolidadas, do que se beneficiarem das condições operacionais favoráveis oferecidas pelo Porto de São Sebastião, notadamente o menor tempo de espera para atracação de navio e áreas para armazenagem de cargas.

Um dos principais motivos dessa inércia é um disfarçado senso de conservadorismo no setor logístico, no qual as mudanças costumam ocorrer de forma gradual. Para muitos operadores, transportadoras e importadores, o custo de mudança, tanto em termos operacionais, quanto em termos de adaptação à infraestrutura existente, é visto como um risco desnecessário. Se está funcionando, o cliente está satisfeito e o custo está dentro do previsto, por que mudar? Isso faz com que se mantenham sistemas e processos já estabelecidos, muitas vezes com uma leve ineficiência, simplesmente por uma aversão ao desconhecido.

Além disso, há uma falta de percepção de valor. Embora o Porto de São Sebastião ofereça uma localização estratégica, com acesso direto a importantes mercados e um grande potencial para receber investimentos para implantar uma infraestrutura robusta, resistia a percepção de que não tem a mesma capacidade ou eficiência logística que outros portos mais tradicionais.

Foi necessário dar uma nova roupagem a essa percepção.

O potencial subaproveitado

O porto não é um fim em si mesmo, é um elo da cadeia logística que depende fundamentalmente de acesso terrestre e aquaviário. A localização do Porto de São Sebastião, entre importantes centros industriais e consumidores do Estado de São Paulo e estados vizinhos, oferece vantagens logísticas incontestáveis. O acesso terrestre está plenamente consolidado com a Rodovia dos Tamoios, de elevada qualidade, duplicada e moderna (com rede wi-fi e, em breve, com o sistema free flow), que se conecta com as Rodovias Ayrton Senna e Via Dutra, duas das principais rotas de escoamento de cargas da região. Ou seja, trata-se de opção viável para o transporte de mercadorias entre o interior e o litoral. 

Além disso, somos privilegiados pela natureza: o canal de acesso aquaviário, com profundidades naturais de 20 metros, permite a navegação dos maiores navios em operação, sendo desnecessário realizar dragagens de manutenção, principal limitação dos portos mais movimentados do Brasil e do mundo. É a garantia para toda a comunidade portuária e logística de que não há dependência de recursos orçamentários para realização dessa obra complexa chamada dragagem, que depende da mobilização de embarcações e equipamentos nem sempre prontamente disponíveis, tampouco das questões envolvendo a obtenção de licenças ambientais. Consequentemente, o Porto de São Sebastião é naturalmente sustentável: os impactos ambientais são mínimos.

Em termos de retroárea, são inúmeras as áreas disponíveis em São Sebastião e nos municípios do Litoral Norte e do Vale do Paraíba, cujo deslocamento para o porto está definitivamente solucionado com a Rodovia dos Tamoios e o Contorno Sul, que será inaugurado até o final de 2024 e prevê uma alça de acesso direto ao porto.

O momento da transformação

O cenário atual, marcado por uma crescente demanda por eficiência na cadeia logística e pelo aumento de custos operacionais em portos tradicionais, torna o Porto de São Sebastião uma alternativa cada vez mais atraente. Com o rearranjo de áreas ociosas, incentivos à celebração de contratos de uso temporário, investimentos em pavimentação e revisão de procedimentos operacionais, o Porto de São Sebastião se (re)apresentou para toda a comunidade portuária, oferecendo mais áreas para armazenagem de mercadorias.

E as reações foram muito positivas. Os operadores portuários foram a campo, buscaram novas cargas, diversificando as operações, o que é fundamental para o porto.

Além disso, houve um enorme empenho para cumprir integralmente as condicionantes da licença de operação, a fim de garantir a preservação do meio ambiente, assunto caro para a alta administração do Porto e, sobretudo, para todos os cidadãos e turistas que frequentam a região.

Superando a resistência

Para quebrar a desconfiança do setor, tem sido fundamental o apoio da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo, que disponibilizou recursos de investimentos e manteve o acompanhamento das atividades de comunicação social para (re)colocar o Porto de São Sebastião no mapa da cadeia logística. 

No mesmo sentido, com a perseverança dos operadores e a dedicação de trabalhadores portuários e de toda a equipe da Companhia Docas, o Porto de São Sebastião enfim vem demonstrando a sua capacidade para lidar com cargas de maior volume e com uma gama diversificada de operações.

Merecem destaque as iniciativas que visam a incrementar a eficiência operacional do Porto de São Sebastião, com a utilização de equipamentos mais modernos de carregamento e descarregamento de mercadorias dos navios.

Evidentemente, o diálogo franco e empático com todos os stakeholders concorre para que os receios com relação aos rumos do Porto de São Sebastião sejam desmistificados. Todo esse conjunto de fatores se somaram para que, mesmo com apenas um berço de atracação, o Porto de São Sebastião esteja alcançando um patamar de destaque e despertado o interesse de diversos players do setor portuário.

O Futuro

O momento de transformação do Porto de São Sebastião está à vista. 

O processo de arrendamento de um terminal multipropósito (SSB-01), atualmente em fase de consulta pública, prevê investimentos de R$ 660 milhões, tendo como principal melhoria a construção de um novo píer com dois berços de atracação.

Com o suporte adequado de todas as partes envolvidas e o compromisso em superar a inércia logística que o impede de crescer, o Porto tem todas as condições de se tornar um ponto central na cadeia logística do Sudeste. Sua capacidade de operar de forma eficiente e integrada com o restante da infraestrutura de transportes da região é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.

O futuro é promissor para o Porto de São Sebastião, que possui as condições para atender à demanda crescente, enfim deixar o posto de “alternativa” para eventuais operações spot e assumir definitivamente o papel de protagonista na logística do Brasil.

Não é preciso ser visionário para compreender o potencial e o momento pelo qual o Porto de São Sebastião está vivenciando.

Estamos confiantes de que novas operações estão por vir e que o arrendamento do SSB-01 é a grande oportunidade da agenda do setor portuário nacional. 

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