quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
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Hora de refletir e agir!

Por Márcio Guiot

O Brasil, país de dimensões continentais e com cerca de 7.500 quilômetros de costa litorânea, contabilizou, em 2023, a expressiva movimentação de mais de 1,3 bilhão de toneladas de cargas em suas instalações portuárias. A eficiência do agro, aliada ao gigantismo territorial da federação, leva o país a ser considerado, internacionalmente, como o celeiro do mundo. São muitos os pontos que legislam a favor de nossa grandiosa nação. A Amazônia, por exemplo, tem a maior bacia hidrográfica do planeta. No que diz respeito à produção de energia renovável, o Brasil desponta como o principal hub mundial.

Esse é o ponto de partida para a reflexão que almejo provocar nesta edição especial do Brasil Export.

Em razão da diversidade econômica do país, os portos nacionais, sejam públicos ou privados, têm particularidades inerentes à região, estado e município onde estão instalados. Todavia, do Oiapoque ao Chuí, os pontos extremos do litoral brasileiro, enfrentam um desafio comum na infraestrutura: os acessos terrestres.

E é nesse contexto que um grande projeto ferroviário em discussão, ligando a costa peruana (Oceano Pacífico) ao litoral brasileiro (Oceano Atlântico), se for viabilizado, poderá trazer ainda mais dificuldade para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira. A Transoceânica – ou Bioceânica – pretende viabilizar as exportações pelo Pacífico.

O megaprojeto ferroviário está sendo desenvolvido em conjunto pelo Brasil, Peru e a China. O objetivo principal é conectar os oceanos Atlântico e Pacífico, criando um corredor de transporte para fortalecimento das relações comerciais entre a América do Sul e a Ásia. O modal terá cerca de 4.400 quilômetros apenas no território brasileiro, pretendendo reduzir, significativamente, os custos e o tempo de transporte entre as regiões.

Empresas chinesas vêm investindo em setores estratégicos no Brasil, como energia e infraestrutura. Além disso, o Fundo China-Brasil, instituído em 2017, destinou US$ 20 bilhões para projetos de infraestrutura na região, demonstrando o compromisso das nações envolvidas em levar o projeto da ferrovia adiante.

Embora a nova rota ferroviária possa aumentar a competitividade das exportações brasileiras, a Transoceânica levanta questões sobre o impacto que essa nova fronteira comercial provocará nos investimentos em infraestrutura no país.

Se grande parte das exportações for desviada para o Peru, o que acontecerá com os portos brasileiros? Estaremos fadados ao subdesenvolvimento e à perda de receita, enfraquecendo a nossa competitividade em outros setores? Além disso, quais são os riscos de o Brasil se tornar dependente de um país vizinho para exportação de nossas riquezas? E se o Peru enfrentar instabilidade política ou econômica, como o país vai reagir?  Essa dependência externa não limitará a soberania econômica do Brasil e criará vulnerabilidades?

A reflexão necessária é se a promessa de redução de custos no curto prazo compensará os riscos de dependência e falta de investimentos no longo prazo.  Mas, se a Transoceânica não é a solução, devemos deixar tudo como está? Claro que não!

“A carga” deve ter condições de escolher o caminho logístico mais eficiente e que isso aconteça, prioritariamente, dentro das fronteiras brasileiras. Seja por meio do modal rodoviário ou pelo modal ferroviário, no Porto Público ou no Terminal de Uso Privativo (TUP); seja no Sudeste ou no Nordeste. É preciso estabelecer mecanismos para que haja concorrência interna, a fim de que as exportações e importações possam ser impulsionadas. E isso deve ser viabilizado com investimento em infraestrutura. 

Não podemos normatizar o fato de grandes instalações portuárias como Suape, Salvador e Pecém, por exemplo, não terem ligações ferroviárias até os dias de hoje. O que não significaria em termos de ganho de eficiência conectar apenas esses três portos à malha ferroviária nacional? 

Ao invés de olhar para o Peru ou qualquer outro país vizinho em busca de solução para o escoamento da produção nacional, por que não olhar para as oportunidades internas? Por que não priorizar o Nordeste, para promover uma logística mais justa e equilibrada? Precisamos atender à crescente demanda, é claro, mas é necessário nos colocarmos numa condição diferenciada para capturar todas as oportunidades relacionadas à transição energética.

É nesse contexto que estamos trabalhando em Suape. Por ser uma empresa pública, o Complexo Industrial Portuário de Suape tem como missão induzir o desenvolvimento de Pernambuco e da região Nordeste por meio de investimentos em infraestrutura para atração de novos empreendimentos. 

Os recentes investimentos em dragagem de aprofundamento, as futuras obras de expansão e requalificação dos nossos berços e a parceria entre os governos do estado e federal para expansão da malha rodoviária e viabilidade do acesso ferroviário propiciam um ambiente favorável para novos investimentos. 

Mesmo sem as condições ideais de acesso, Suape está se colocando como alternativa para escoamento de parte da produção de grãos dos estados do Centro-Oeste e da região de Matopiba (que engloba áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Nossa capacidade operacional pode compensar, em alguns casos já sendo estudados, os desafios logísticos atuais.

Depois de dotar os portos brasileiros com as melhores soluções de infraestrutura, é possível considerar oportunidades nos países vizinhos. Afinal, temos como missão alimentar o mundo e garantir energia limpa para uma transição justa, sem deixar ninguém para trás.

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