O Desafio de Modernizar o Sistema Ferroviário Brasileiro: Um Chamado ao Diálogo
Por Rodrigo Vilaça
CEO da RV Conecta
O diálogo urgente e necessário para o desenvolvimento do sistema ferroviário e metroferroviário no Brasil se faz mais crítico a cada ano. Estamos repetindo as décadas anteriores, marcadas pela falta de planejamento estratégico que promova a expansão das operações ferroviárias e a produção e construção de mais trilhos em nosso país. O que precisamos é de conscientização coletiva que envolva todos os agentes do setor: o Ministério dos Transportes, das Cidades, a Agência Reguladora, operadores, concessionárias, novos clientes, usuários tradicionais, operadores logísticos, a indústria, advogados ambientalistas, acadêmicos.
Esses diversos atores precisam reconhecer a importância de trabalharmos com mais inteligência em um país heterogêneo de dimensões continentais, que necessita de alternativas ao sistema rodoviário. O rodoviário, por sua vez, deve integrar-se de maneira eficiente com outros modais, como a cabotagem, o transporte marítimo, aéreo, dutoviário e hidroviário. Devemos ter em mente que o transporte só ocorre quando há carga, e, em um país como o nosso, além das cargas tradicionais — minério, agronegócio em especial derivados da soja, milho, algodão açúcar, siderurgia —, o planejamento logístico precisa contemplar também a carga geral, especialmente na forma de contêineres.
Esse planejamento deve ser plano de estado e não de governo(s), e assim ultrapassar mandatos e realmente transformar a infraestrutura ferroviária e metroferroviária do Brasil. O diálogo é, assim, a força motriz que pode estruturar o setor no Brasil. Ele precisa unir esforços para viabilizar um conjunto de obras que efetivamente estabeleça um sistema integrado, contínuo, previsível, robusto, sustentável e eficiente.
Estamos atrasados. Devemos ter celeridade e diálogo assertivo que siga normas rígidas de transparência e ética.
O transporte de passageiros sobre trilhos é um exemplo claro de onde o progresso deve ocorrer. Cidades como São Paulo e Rio já não podem funcionar sem novos metrôs, trens urbanos, VLT’s, monotrilhos, mas há outras 27 cidades brasileiras com mais de um milhão de habitantes onde a integração metroferroviária é urgente. A construção destes sistemas deve coexistir com aeroportos, terminais de ônibus, corredores rodoviários, para que esses centros urbanos possam caminhar sobre trilhos e permitir que seus trabalhadores se locomovam de maneira segura, econômica e sustentável.
Essa integração modal não se trata apenas de uma questão de mobilidade urbana, mas também de competitividade econômica. O transporte ferroviário de cargas, especialmente em novos projetos e ou corredores existentes (sejam short lines e novas ferrovias “Greenfields”), é fundamental para reduzir os custos logísticos do país. A malha ferroviária precisa ser expandida para trazer novos corredores que favorecem a sustentabilidade, melhoram eficiência de mercado e diminuem a dependência do sistema rodoviário, que carrega um fardo ambiental muito maior.
No entanto, o progresso não virá enquanto os diferentes atores do sistema logístico, através dos seus modos de transporte; do uso de novas tecnologias, armazenagem e investidores não entenderem sua interdependência e suas responsabilidades. A indústria não pode pensar apenas em seus próprios interesses, o agente regulador não deve engessar o sistema, e o setor público precisa agir de maneira eficiente e executiva, tomar decisões e fazer a gestão dos projetos . É preciso que o sistema bancário, ambiental e jurídico colabore ativamente, assim como os investidores, que devem entender que o retorno sobre o investimento ferroviário é de médio a longo prazo.
A indústria ferroviária nacional deve ser capaz de atender à demanda interna, e aquilo que não pudermos produzir aqui deve ser importado. Unir todos esses esforços não só nos fará ganhar tempo, mas também corrigirá décadas de atraso na nossa infraestrutura logística.
Vivemos em um mundo digital, onde a velocidade nas tomadas de decisão e a aplicação de tecnologias modernas contrastam com o ritmo lento de implementação das malhas ferroviárias em um país de dimensões continentais como o Brasil. O atraso na expansão das ferrovias precisa ser revertido, e isso só será possível por meio de um diálogo efetivo entre os agentes públicos, privados, operadores e investidores, que compreendam a importância de enfrentar as barreiras econômicas, ambientais e sociais com decisões assertivas e contínuas. Além disso, o recente sucesso do projeto Brasil on Rails, que apresentou o potencial do setor ferroviário brasileiro ao cenário mundial, mostrou que o país tem condições de avançar, integrando novas tecnologias e soluções sustentáveis para o transporte de cargas e passageiros.
É importante relembrar que a ferrovia se destaca por sua eficiência ao transportar grandes volumes de carga e passageiros com menor consumo de energia e baixa emissão de poluentes, oferecendo um equilíbrio ideal entre capacidade e impacto ambiental.
O desafio agora é continuar expandindo essa malha de forma sustentável, com consciência climática e planejamento que seja capaz de atender tanto às demandas atuais quanto às futuras, aproximando o Brasil de uma infraestrutura ferroviária compatível com seu tamanho e suas necessidades.
Avançar é necessário e, para isso, é fundamental que haja diálogo. Um diálogo com metas claras, objetividade e transparência, sempre com o espírito de trazer o melhor para o país.