Hidrovias dos rios Madeira e Tapajós e a crise hídrica na Amazônia
Por Edeon Vaz Ferreira
As hidrovias dos rios Madeira e Tapajós são cruciais para o escoamento da produção agrícola de Mato Grosso, um dos principais produtores de grãos do Brasil. Em 2023, estes rios movimentaram 9 milhões e 17 milhões de toneladas, respectivamente de soja e milho. Esses rios conectam as áreas produtivas do Centro-Oeste aos portos do Arco Norte e, assim, facilitam o escoamento desses grãos para o mercado internacional, principalmente para a China. No entanto, a crise hídrica na Amazônia tem causado uma série de impactos negativos para essa logística.
Diminuição da capacidade de transporte
A redução dos níveis dos rios, devido à escassez de chuvas, e o aumento das secas afetam a capacidade de transporte. Em períodos críticos, as embarcações que percorrem os rios Madeira e Tapajós são obrigadas a transportar cargas menores para evitar encalhes. Isso aumenta o número de viagens necessárias para escoar a mesma quantidade de produto, elevando os custos operacionais e diminuindo a competitividade do transporte fluvial.
Interrupções nas rotas comerciais
Em alguns casos, a queda do nível dos rios é tão acentuada que trechos inteiros se tornam intransitáveis, levando a interrupções de semanas ou até meses na navegação. Isso afeta diretamente os produtores de Mato Grosso, que dependem dessas rotas para manter o fluxo de exportação, principalmente durante as safras. Quando o transporte fluvial é interrompido, as cargas precisam ser redirecionadas para portos do Sul e Sudeste, o que gera custos adicionais de transporte e sobrecarrega as infraestruturas rodoviária e ferroviária dessas regiões.
Aumento dos custos logísticos
Com a limitação do uso das hidrovias, muitas empresas são forçadas a buscar rotas alternativas, principalmente rodovias, que são mais caras e menos eficientes para grandes volumes de carga. Além disso, a necessidade de deslocar a produção para portos distantes, como os de Santos ou Paranaguá, no Sudeste e Sul, torna o processo de escoamento mais custoso e menos competitivo no mercado internacional.
Impactos econômicos
A crise hídrica afeta a economia local da Amazônia e também a de Mato Grosso. Os produtores enfrentam maiores custos logísticos e, em alguns casos, atrasos na entrega da produção para exportação, o que pode reduzir a receita e prejudicar os acordos comerciais internacionais. Além disso, as comunidades locais, que dependem dos rios para seu sustento, também sofrem com a diminuição da atividade econômica associada ao transporte fluvial.
Soluções mitigadoras e desafios
Dragagens periódicas
Para manter os rios navegáveis durante os períodos de seca, as dragagens têm sido uma solução utilizada, removendo sedimentos que se acumulam nos leitos dos rios. No entanto, esse processo é caro e precisa ser realizado com frequência para garantir a eficiência das hidrovias.
Concessões hidroviárias
A concessão de serviços hidroviários a empresas privadas, que investem em melhorias na infraestrutura, pode ajudar a garantir uma navegação mais regular e segura. Essas concessões podem incluir atividades como dragagens constantes, balizamento e sinalização, além da instalação de sistemas de controle e monitoramento ao longo do percurso, proporcionando maior segurança e eficiência no transporte.
Soluções de longo prazo
A adaptação às mudanças climáticas e à preservação ambiental será essencial. Investir em soluções sustentáveis, como a recuperação de áreas degradadas e o reflorestamento, pode ajudar a regular o ciclo hídrico da Amazônia. Ações integradas que protejam as nascentes e os rios também são importantes para garantir a disponibilidade de água e a continuidade do transporte fluvial.
Perspectivas futuras
Com o agravamento das mudanças climáticas, a tendência é que as secas se tornem mais frequentes e intensas, impactando ainda mais o nível dos rios Madeira e Tapajós. Isso coloca em destaque a necessidade de ações coordenadas entre governo, empresas e comunidades para enfrentar esses desafios. As concessões hidroviárias, quando bem estruturadas, podem trazer benefícios a longo prazo, com melhorias na infraestrutura e na segurança da navegação.
No transporte por contenedores (contêineres), produtos de maior valor agregado estão buscando alternativas para escoamento. Com o Porto de Santos beirando seu esgotamento, alternativas como o Porto de Itaguaí (RJ) aparecem como uma solução.