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José Geraldo Vantine

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A distância abissal entre o plano e a ação

Reflexão sobre o conteúdo do Fórum Brasil Export 2024 segundo minha leitura do que ouvi. E continuo reforçando a visão que tenho, apoiada nos mais de 50 anos vivendo a Logística. Em resumo, o triângulo: INFRAESTRUTURA – TECNOLOGIA – SUSTENTABILIDADE.

Em verdade, são temas que vivencio desde o início dos anos 1990 (a diferença apenas que “Meio-Ambiente” usávamos a palavra “Ecologia”). Tudo muito incipiente, uma vez que tanto para o governo como para empresas, eram assuntos “marginais”, quase filosóficos.

 A famigerada matriz de transporte, desde 1980, no ambiente do setor, já indicava 65% rodoviário e 25% ferroviário (diferença por conta do hidroviário/cabotagem, aeroviário, dutoviário). Nada mudou, não obstante a quase completa “privatização das ferrovias”, hoje operadas por 3 empresas, todas com foco em granel, baixíssimo interesse pela carga geral e conteinerizada. Excetuando minério e grãos, o rodoviário atinge mais de 90% da matriz. E por quê?

Antes de tudo é preciso deixar claro que a decisão pelo uso do modo de transporte sempre é embarcador (o que paga a conta). E o que ele quer e precisa? a) Serviço confiável; b) Custo competitivo; c) Capilaridade; d) Regularidade; e) Transit time previsível e regular. E o que os prestadores de serviços oferecem? À exceção da cabotagem que tem se esforçando para prestação de serviços competitivo, ( e não apenas o transporte) , pouquíssimas ofertas são encontradas no ferroviário.

Outro ponto a considerar é que o rodoviário carece muito de manutenção das rodovias tanto em termos de trafegabilidade como de segurança. Basta analisar o relatório anual da CNT. 

Sem necessidade de demonstrações clássicas e técnicas entre os modos rodoviário e ferroviário, com relação à participação da matriz sob a ótica da “nova” pauta da sustentabilidade, que é a “Descarbonização” (que na verdade inclui todo e qualquer equipamento tracionado com motor a combustão), passou a ser tratado no guarda-chuva ESG, com foco em redução (ou compensação de CO2) e desenvolvimento de combustível com menor índice de poluição, e na outra ponta emerge o termo “Eletrificação da frota”.

No entanto, desde o lançamento do primeiro plano conhecido como PNLT – Plano Nacional e Logística e Transportes, houve vários planos com a mesma ótica. A visão macro para o futuro, ou até 2035, agora até 2050 (recomendo a quem se interessar em detalhes, pesquisar as edições do jornal BE NEWS, cujas reportagens configuram uma boa biblioteca dinâmica sobre os temas).

Em algumas edições encontramos uma boa inovação no ferroviário, idealizado pelo então Ministro Tarcísio de Freitas, que foi o modelo de “Autorização (Lei 14.273/2021)” e segundo consta, houve 43 adesões e até o momento nenhuma consolidada.

De resto, uma Ferrogrão ainda parada no STF, a Transnordestina em obra com a dúvida persistente se será criado o acesso ao porto de Suape. A Fico/Fiol com obras atrasadas.

Em meio a tantos Estudos e Planos, aqui mesmo nesse jornal, vimos uma detalhada reportagem em que o TCU demonstra a baixa utilização das ferrovias em que mostra uma malha ferroviária com 30,5 mil quilômetros, sendo que 36,3% nunca teve tráfego, e apenas 7,5% de toda extensão apresentam intensidade de tráfego média e 12,6% alta intensidade. E completa afirmando que “faltam políticas especificas” (?) para ampliar a utilização, adicionando que o PNLT 35 prevê que o modo ferroviário sai do atual 17% para 30%. Esse sim é um – Plano Milagroso.

No lado do modo rodoviário, também aqui no BE NEWS de 8/10, vimos que o Presidente da República sancionou a “Lei do Combustível do Futuro” que cria programas (mais planos) para “diesel verde” – PNDV, utilização de combustíveis de baixo impacto ao ambiente, como Biometano e o Biogás. Cria ainda o ProBioQAV – Programa Nacional de Combustível sustentável de Aviação. E também altera a mistura do etanol à gasolina (pode chegar a 35%), bem como, aumenta a porcentagem de adição do biodiesel (origem de óleos vegetais e gordura animal) ao diesel de origem do petróleo.

Para assuntos complexos não existem soluções fáceis, principalmente no Brasil em que prevalecem Planos de Governo e não Planos de Estado, talvez o fator mais responsável pela persistência da distância abissal entre “Plano e Ação”.

O fato relevante também é que o rodoviário é um transporte de livre concorrência e dos governos só depende de boas estradas e regulamentações aderentes e constantes.

Um fio de esperança que pode ordenar todos os interesses envolvidos – políticas, econômicos – mercadológicos – pode vir de eventual criação de um “Conselho Permanente” na estrutura do Brasil Export, independente e que possa a formular estratégias através do IBL e do IBI.

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