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Adilson Luiz Gonçalves

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Estrada da vida

O acidente recentemente ocorrido no Rio Grande do Sul, que vitimou atletas de uma equipe de remo, entre outros, deu origem a uma série de discussões sobre segurança no trânsito.

Um jornalista destacou a idade do veículo causador da tragédia: um cavalo mecânico fabricado em 1986. Complementou que países desenvolvidos possuem políticas destinadas à renovação das frotas de veículos, que têm por objetivos: segurança, redução de emissão de poluentes e incremento da indústria automobilística, entre outros.

E no Brasil?

Por aqui, veículos com mais de vinte anos de fabricação têm isenção automática de IPVA, sem limites de concessão, e a inspeção veicular não “vingou”, até por conta de algumas incoerências de origem. Afinal, previa que veículos fabricados até 2002, em tese os que mais poluem, seriam isentos da obrigatoriedade, enquanto que veículos novos, a maioria com garantias de fábrica de até seis anos, estariam incluídos.

Esse processo envolveu questões políticas e sociais, também incluindo “lobbies” econômicos, tanto que antes mesmo da aprovação da legislação, empresas investiram nesse novo mercado. No âmbito político, o impacto negativo entre eleitores jogou contra. No contexto social, veículos muito além de sua vida útil têm sido meio de sustento para profissionais autônomos. No caso de caminhões, eles rodam em fazendas, feiras-livres e portos, a maioria em condições extremamente precárias, que não precisariam de inspeção veicular para serem tirados de circulação.

Ao longo de minha atuação como conferente de carga e descarga do Porto de Santos, presenciei algumas aberrações, tais como: um caminhão com carroceria feita de madeira compensada; outro, tinha motorista e “co-piloto”, que trocava as marchas apoiando o pé no painel. Porém, o caso mais emblemático foi o de um “pau-velho” que começou a se movimentar sem motorista, como se fosse um veículo desgovernado, ou, quem sabe, um protótipo de condução autônoma. Foi quando vi um indivíduo sair debaixo do caminhões e subir rapidamente na cabine: tinha soltado o cabo do acelerador…

No caso do Porto de Santos, esses caminhões antigos circulam aos milhares, transitando por vias urbanas e caminhões de ligam as margens do complexo portuário. Atuam no “vira” e também são conhecidos como “bactérias”, no meio portuário.

Seus proprietários se desdobram para os manterem minimamente em condições de uso, pois seu sustento depende disso, bem como as operações portuárias e retroportuárias. 

Veículos fabricados em 1986 são “seminovos”, considerando que ainda há caminhões da década de 1960 – até anteriores – em circulação, gerando constância de panes, vazamentos de óleo e emissão de fumaça tóxica: um problema que exige o equacionamento de aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Programas foram criados para financiar a troca desses caminhões por novos, mas sua eficácia depende da regularidade legal dos veículos antigos, capacidade financeira dos proprietários e destinação dos “paus velhos”.

A proposta é que eles sejam integralmente e definitivamente descartados, sem o risco de que empresas de desmanche recoloquem suas peças no mercado, com ênfase nas bombas de combustível. A capacidade de absorção de sucata pela indústria também é limitada, por vezes logisticamente inviável.

O acidente do Rio Grande do Sul infelizmente vem se somar a outros tantos, que ocorrem diariamente em estradas e vias urbanas do país, não só pelas condições veiculares. Jornadas insones de motoristas, altas velocidades, uso de substâncias que prejudicam o discernimento, e imperícias também são causas significativas, cujas vítimas nem sempre são responsáveis pelos acidentes. Algumas infrações e irresponsabilidades chegam a ser criminosas!

É preciso buscar soluções adequadas e equilibradas, para que circunstâncias previsíveis não continuem a encurtar nosso caminho na estrada da vida.

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