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Luiz Dias Guimarães

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Ao sabor do tacacá

A poeira da Transamazônica me inebriou, quando Kleber Menezes postou, no grupo zap do Conselho do Norte Export, vídeo da chegada a Porto Velho com duas embarcações a reboque, três dias após seu amigo partir de Santarém. ‘Que vontade de ir por aí….’, cantaria Milton Nascimento. 

Triste ver a obra rodoviária inacabada, da qual ouço falar há quarenta anos. Mas há uma beleza nisso tudo. A beleza da Amazônia, a coroa da rainha na visão de um mundo que se perdeu.

A imagem da estrada poeirenta paralisou meu final de domingo, enquanto pensava nos amigos que estariam chegando ao mesmo tempo para mais um fórum. Imaginar essa chegada me lembrava, não sei por que, uma cena de filme de líderes se apresentando para decisivo conclave. Não chefes de clãs escoceses, tampouco presidentes de nações estrangeiras. Mas homens e mulheres deste imenso Brasil, vindos de várias latitudes e longitudes dispostos a, em dois dias, passar a limpo aquele lugar. E que lugar!

Invejo não estar presente. Envergonho-me de sequer conhecer tão vasto mundo. Minha única experiência nessa parte do Brasil foi em Belém, da qual trago as melhores lembranças. O Ver o Peso, o Pato no Tucupi, o Museu de Arte Sacra, o Pará 2000, exemplo nacional de revitalização portuária com fins turístico-culturais. 

Olhar aquela imensidão da Baía de Marajó mexeu com meu labirinto e com minha alma. Era a imensidão de um país que eu desconhecia. 

Orgulha-me que um grupo de homens e mulheres chegue para esse conclave com verdadeiros bandeirantes, empreendedores amazônicos de um país que o país desconhece.

O amigo de Kleber viajou três dias Transamazônica afora, e agora Kleber se prepara para retornar a Santarém pelas águas do boto-cor-de-rosa. Outros, porém, chegaram e voltarão pelo céu, extasiados pela visão aérea daquela água caudalosa do Madeira, que, tal qual uma serpente de 3.315 quilômetros, surge da comunhão do Beni com Mamoré nos Andes bolivianos, até desaguar com seus sedimentos na Bacia do Amazonas. É parte do sistema vascular de um organismo vivo que produz e quer produzir ainda mais para o progresso dos povos ribeirinhos e do resto do Brasil que, tristemente, desconhece tanto esplendor.

Recentemente, festejamos a conclusão de trecho do sistema hidroviário no Madeira, é certo. Mas o fórum tem a proposta de discutir muito mais. O potencial é imenso, a disposição dos empreendedores privados é grande e o desafio, maior que tudo. Tão maior quanto o que a rica natureza oferece naquela vasta região que um dia mexeu com meu labirinto.

Nossa, que rico momento este em que personagens extra-amazônicos e desbravadores locais se encontram com autoridades nacionais, para entabular projetos e soluções que permitam que o nosso Norte brasileiro seja muito mais que uma cobiçada coroa da rainha para os estrangeiros e uma exuberante série televisiva para nós, brasileiros apartados disso tudo.

Parabéns, visionários que assumem a merecida luta dos que não se contentam em apenas saborear o apetitoso tacacá e trabalham por implementar esse caminho de águas escuras que tanto pode oferecer. E que, agora, Kleber e outros aventureiros façam bom retorno a Santarém sem a poeira de uma estrada que ficou no sonho, que naveguem com o sentimento da missão cumprida por águas ricamente navegáveis.

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