Agronegócio
Setor de trigo descarta desabastecimento, mas teme alta de preços
Barbosa destaca os reflexos da invasão da Ucrânia para o mercado global e a economia do Brasil
A invasão da Ucrânia pela Rússia afetou o comércio mundial de trigo, um dos itens da pauta de importações do Brasil e uma das principais cargas nos portos do País. Os preços da commodity no mercado mundial dispararam, mas o risco de desabastecimento está descartado. É o que afirma o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa. Em meio às oscilações do preço do grão nas bolsas, Barbosa destaca que o Brasil é vulnerável em segurança alimentar em relação ao cereal. E, como solução, a Abitrigo encaminhou ao Ministério da Agricultura uma proposta denominada ‘Política Nacional do Trigo’, para solução a médio prazo.
Em entrevista ao BE News, Barbosa fala dos reflexos da crise geopolítica na Ucrânia sobre os preços da commodity, e proposta encaminhada ao Governo Federal.
Há risco de desabastecimento no Brasil?
Não há risco de desabastecimento, uma vez que os estoque mundiais não foram afetados e os grandes produtores mundiais tem suas safras em andamento.
Qual o volume total importado em 2021? Desses, quanto veio da Rússia?
Em 2021 o Brasil importou 6,2 milhões de toneladas, aproximadamente 50% de seu consumo doméstico e não houve importação da Rússia.
De quanto foi o impacto do conflito sobre os preços?
A Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia o 4º. Juntos são responsáveis por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do trigo de 210 milhões de toneladas. Inevitavelmente, a crise da Ucrânia afeta diretamente os preços do trigo a nível mundial. Este mercado, nos dois últimos anos, foi fortemente afetado por crises climáticas nos países líderes, e pela Covid-19, que afetou posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos provocando aumento de até três vezes. O mercado mundial de trigo tem apresentado grande dificuldade em precificar o cereal, pois isto depende da duração e abrangência da crise. Esta visão do mercado tem gerado oscilação nos preços. Nesta quinta-feira, a Bolsa de Kansas aumentou de 5% no primeiro momento da crise e no dia de hoje (25/02) recuou quase todo este aumento. Na Argentina, nosso maior fornecedor, os preços também estão oscilando. Será necessário maior definição do desmembramento da crise para posicionamento do mercado.
Os preços tenderão a oscilar para cima? Quais fatores contribuem para isso?
Havendo maior tempo na resolução do conflito, caso a Ucrânia mantenha a resistência armada, se manterá a suspensão dos embarques nos portos ucranianos, e os importadores concentrarão suas demandas nos demais exportadores como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina. Isto produzirá aumento de preços. Os Estados Unidos poderão priorizar abastecimento de seus parceiros da OTAN na Europa, o que agravaria a situação para países como o Brasil, que teria limitado suas opções de abastecimento, vindo a pagar maior ágio nas compras.
Com opções limitadas de abastecimento, qual é a solução para o Brasil?
Este momento revela a vulnerabilidade do Brasil pela não suficiência de produção de trigo. Em situações de guerra este cereal destaca sua importância relativa na Segurança Alimentar dos países. O Brasil importa 60% da demanda interna de trigo. A Abitrigo propôs ao Ministério da Agricultura uma Política Nacional do Trigo com vistas a alcançar a autossuficiência a médio prazo. A Embrapa está trabalhando com estudos nesse sentido no norte do Cerrado. O Brasil tem de reduzir sua dependência do trigo importado por uma questão de segurança nacional. O Brasil tem de reduzir sua dependência do trigo importado por uma questão de segurança nacional.