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Luiz Dias Guimarães

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Mundo de princesas

Vivemos num mundo paralelo de princesas, símbolo de nossos sonhos. Elas representam o mais puro desejo de idealizar a vida. A concretude do cotidiano não nos basta. Tento, como todos, fugir dessa existência às vezes tão banal. Princesas e príncipes são fachos da luz que expandem a alma, mas frequentemente se apagam em meio ao rigor das nuvens.

Por que falo das princesas? Porque gosto delas, mas também e principalmente porque compõem o imaginário que busca um sentido, por paradoxal que pareça. Leonor das Astúrias, Kate do Reino Unido e tantas outras alvoroçam os noticiários como um dia nos impactou Lady Di. Disney revolucionou a cabeça das crianças quando, a partir de fábulas clássicas, fez das princesas a chama da felicidade. Princesas de origem real, outras da plebe afortunadas um dia por um simples beijo monárquico.

Na primeira fase da vida são as princesas que alimentam o espírito. Minha filha, aos três anos, quase enfartou de emoção quando, diante do castelo do Magic Kingdom, deparou com Branca de Neve.

Um dos desenhos de maior sucesso de Barbie foi quando a personagem ingressou numa escola de princesas. E, no mundo real, um simples contato televisivo com Xuxa, a rainha dos baixinhos, atiçava o universo lúdico das meninas até que, amadurecidas, perderam o encantamento, lançando pré-adolescentes ao infortúnio do asfalto dos nossos dias.

Enquanto as princesas alimentam os sonhos das crianças, criando em seus imaginários amplas possibilidades de ascensão e sucesso, a vida é potencialmente grandiosa. Mas um dia a mágica se esvai diante dos compromissos concretos e das possibilidades de um mundo insuficiente em propósitos maiores.

De vez em quando, porém, aflora-nos tímido desejo de voltar àquele universo. É quando a mídia, com abundância, expõe os passos da monarquia ainda existente. Posts sobre o câncer de Kate Middleton ou o preparo da luzidia Leonor da Espanha alvoroçam nossos sonhos.

Não sou monarquista, mas admito que a existência de princesas – reais ou fictícias – alimenta a esperança de uma dimensão maior para a vida. Na Europa os cidadãos se comportam como súditos dado esse culto do que representam especialmente as jovens primogênitas de casais reais. No Brasil não temos princesas, apenas súditos embriagados por uma fantasia com viés de terror.

As primeiras-damas tentam cumprir o papel, mas às vezes mais lembram megeras rainhas tentando preencher um espaço idealizado. Curioso notar que há príncipes também, e falsos reis. Mas é a figura feminina que mais enleva os corações.  O câncer de Kate causou mais frisson que o do sogro Rei Charles.

Rei morto, rei posto, é a vida. Nós, idosos, somos referência menor, enquanto os jovens satisfazem a necessidade da fantasia. Porque, mais do que aprender os bons exemplos que a idade traz, busca-se a ilusão da esperança que nem sempre se converte em felicidade. É quando invejamos a dimensão do existir que não se importa apenas com o pão na mesa. E esse é o dote das princesas, que se espalha às mentes, incendiando a imaginação e os espíritos.

Afinal, o mundo das princesas é como a arte que, lembrou Ferreira Gullar, existe porque a vida não basta.

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