Apesar das safras recordes previstas para o Brasil, a falta de infraestrutura de armazenagem continua sendo um dos maiores gargalos do agronegócio
Agronegócio
Falta de silos desafia o agronegócio brasileiro e amplia perdas
Silos brasileiros possuem capacidade estática de 146,3 milhões de toneladas, enquanto a produção de grãos prevista para este ano é de 190 milhões de toneladas
Apesar das safras recordes previstas para o Brasil, a falta de infraestrutura para armazenagem continua sendo um dos maiores gargalos do agronegócio. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o país enfrenta um déficit de 40 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem por ano, comprometendo a eficiência da cadeia produtiva e gerando perdas que podem chegar a US$ 20 bilhões por safra.
Os dados do Ministério da Agricultura mostram que os silos brasileiros possuem capacidade estática de 146,3 milhões de toneladas, enquanto a produção de grãos prevista para este ano é de 190 milhões de toneladas. A Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) recomenda que os países tenham capacidade para armazenar 120% de sua produção, mas o Brasil está longe de atingir essa meta.
Regiões e causas do déficit
A região Centro-Sul concentra o maior déficit, com mais de 35 milhões de toneladas sem espaço adequado para armazenagem. Segundo o gerente da Verde Agrícola, João Paulo Barbieri, isso está relacionado à concentração histórica da produção em novas fronteiras agrícolas, como o Centro-Oeste, onde a expansão dos silos não acompanha o crescimento das safras.
“Regiões consolidadas, como Rio Grande do Sul e Paraná, já estão melhor atendidas, enquanto novas fronteiras ainda sofrem com a falta de infraestrutura”, destaca Barbieri.
Além disso, o engenheiro Renato Pavan aponta a ausência de incentivos governamentais consistentes ao longo das últimas décadas como fator determinante. “Nos últimos 20 anos, houve pouca ou nenhuma política pública estruturada para a expansão de silos. O governo começou a liberar recursos, mas os valores ainda são insuficientes e enfrentam entraves burocráticos”, critica.
Impactos na produção e exportação
A deficiência na armazenagem força os produtores a transportar grãos diretamente para os silos coletores, muitas vezes enfrentando filas e perdas de qualidade, segundo Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS). “Nos Estados Unidos, 66% da produção está armazenada na fazenda. No Brasil, são apenas 15%, o que intensifica os custos logísticos e reduz a competitividade da produção brasileira no mercado internacional”, explica Pavan.
Para o dirigente de uma das maiores cooperativas agrícolas do Paraná, Walter Pitol, a situação exige mais apoio estatal. “Investir sozinho é difícil. Nosso planejamento prevê R$ 160 milhões para modernizar e ampliar os silos, mas sem subsídios governamentais, o processo é lento”, afirma.
Especialistas e produtores apontam o acesso ao crédito como principal fator para superar o déficit. Barbieri ressalta a importância de expandir o crédito público subsidiado e simplificar sua concessão. “No atual cenário de juros altos, o crédito privado é inviável para muitos produtores, e os programas públicos enfrentam excesso de burocracia”, explica.
Atualmente, o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) é uma das poucas alternativas viáveis para financiamento, oferecendo taxas subsidiadas. Mesmo assim, é insuficiente para atender a demanda nacional.
O governo federal, por sua vez, anunciou a construção de 10 novos armazéns e a reforma de estruturas existentes, com investimento de R$ 500 milhões. Contudo, as ações somam apenas 900 mil toneladas à capacidade estática, ainda longe de resolver o déficit.
Perspectivas para o futuro
Apesar dos desafios, os ganhos para quem investe em armazenagem são evidentes. O produtor rural no Paraná, Eduardo Costa Cassiano, relata um aumento de até 10% na rentabilidade após a construção de silos na propriedade. “O investimento inicial retorna em quatro ou cinco anos, e ainda proporciona flexibilidade para negociar os grãos na entressafra”, afirma.
Com safras recordes e uma demanda crescente, o Brasil precisa ampliar esforços para modernizar e expandir sua infraestrutura de armazenagem, garantindo que o crescimento do agronegócio seja acompanhado pela eficiência logística e pela redução de perdas, pontua.