De acordo com o MP, o objetivo é buscar uma solução negociada. No entanto, caso sejam identificadas irregularidades, práticas abusivas ou desequilíbrio nas relações de consumo, uma ação coletiva poderá ser proposta. Foto: Agência Brasil
Região Nordeste
MP do Ceará investiga cancelamento de voos da Azul
No dia 24 de janeiro, a Azul Linhas Aéreas anunciou o cancelamento de voos diretos entre Juazeiro do Norte e Fortaleza por adequação à demanda
O Ministério Público do Estado do Ceará ingressou com um inquérito civil pedindo explicações à companhia Azul Linhas Aéreas a respeito do cancelamento de voos diretos entre Juazeiro do Norte e Fortaleza, anunciado pela empresa no dia 24 de janeiro.
O MP requisitou dados sobre o número de voos diretos feitos em 2024 entre os dois municípios, além de Recife e Petrolina, assim como a quantidade de clientes que adquiriram passagens antes das alterações e o lucro obtido com as rotas.
De acordo com o MP, o objetivo é buscar uma solução negociada. No entanto, caso sejam identificadas irregularidades, práticas abusivas ou desequilíbrio nas relações de consumo, uma ação coletiva poderá ser proposta.
“Toda empresa tem responsabilidade por possíveis excessos. A Azul cancelou a rota de voo direto, mesmo já tendo ofertado os referidos trechos para a venda, ou seja, vendeu e depois alterou o trajeto para um percurso extremamente mais dispendioso para parte de seus consumidores”, disse o promotor de Justiça do Ceará, Rafael Couto Vieira.
“Também nos chama a atenção que voos similares são mantidos pela empresa. E, mesmo considerando que o aeroporto de Juazeiro do Norte, por exemplo, tem fluxo superior ao aeroporto de Petrolina, a Azul manteve o voo direto entre Petrolina e Recife e cancelou o voo direto entre Juazeiro do Norte e Fortaleza”, completou.
Reunião
Em entrevista para a rede BE News nesta quinta-feira (30), o deputado Yury do Paredão (MDB-CE) contou que se reuniu com o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, para debater como a decisão da Azul afeta o desenvolvimento do Cariri.
“A medida isolará toda a região do Cariri, dificultando a atração de investimentos para as nossas cidades. O transporte aéreo é crucial para a movimentação de pessoas e mercadorias. Caso a Azul mantenha sua decisão, haverá um efeito cascata sobre toda a economia da região”, afirmou.
Ainda segundo ele, o cancelamento dos voos encarecerá o transporte de produtos, dificultará a aquisição de insumos, reduzirá a velocidade de entregas e sobrecarregará as estradas e rodovias do estado.
“Tudo isso pode contribuir para o aumento da inflação local, reduzir a geração de novos negócios, a criação de vagas de emprego e a manutenção dos postos já existentes”, pontuou.
Yury explicou que Juazeiro do Norte é um importante destino de turismo religioso e a mudança afetaria negativamente o setor hoteleiro, restaurantes, comércio local e serviços. Além disso, dificulta a logística no transporte de pessoas. “Para se ter uma ideia, será mais rápido viajar de Fortaleza para Londres do que para Juazeiro do Norte”, finalizou.
Mudanças
A Azul anunciou na última sexta-feira (24) a suspensão, redução de oferta e readequações da operação em 12 cidades brasileiras a partir de 10 de março. Segundo a empresa, os voos saindo de Juazeiro do Norte (CE) passarão a ter como destino somente o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), principal hub da companhia.
Procurada pela reportagem, a companhia alegou que a decisão é “parte de um processo normal de ajuste de capacidade à demanda.”
Em relação a um possível impacto financeiro na economia da região, a Azul justifica que a nova rota tem como objetivo oferecer uma maior conectividade para os clientes de Juazeiro do Norte.
“Eles poderão se conectar diretamente com o maior hub da Azul, o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), com voos diretos para mais de 70 destinos, inclusive internacionais, como Orlando e Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, Paris (França) e Lisboa (Portugal)”, diz a nota.
A empresa reiterou que está em comunicação com os clientes impactados para que todos recebam a assistência necessária, conforme prevê a Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“A Azul, ainda, reforça que vem mantendo conversas com as autoridades locais, buscando o melhor encaminhamento possível para o tema, dentro desse cenário desafiador”, concluiu.
No novo modelo de operação, os voos em Campos e Cabo Frio (RJ), Correia Pinto (SC), Crateús, São Benedito, Sobral e Iguatú (CE), Mossoró (RN), São Raimundo Nonato e Parnaíba (PI), Rio Verde (GO) e Barreirinha (MA) foram suspensos.