Guerra na Ucrânia
Belarus interrompe exportações de fertilizantes ao Brasil
As exportações de fertilizantes de Belarus (ou Bielorrússia) para o Brasil estão suspensas. A interrupção no fornecimento ocorreu porque a nação-vizinha Lituânia bloqueou a rota para o escoamento dessa carga até o porto de seu país onde ocorrem os embarques.
A medida é uma das restrições impostas pelos países europeus à Rússia e a seu aliado, Belarus, pela invasão e tentativa de controle da Ucrânia, na semana passada. As informações são da Embaixada de Belarus no País, em Brasília.
Belarus é o sexto país no ranking de fornecedores de fertilizantes ao Brasil, e responde por 6,4% dos insumos que entram na nação. É o segundo maior produtor mundial de cloreto de potássio, o fertilizante mais utilizado pelos produtores agrícolas brasileiros.
Segundo a Embaixada de Belarus, a Lituânia bloqueou a rota até o Porto de Klaipeda, dentro do seu território e que tem sido historicamente utilizado para enviar fertilizantes potássicos de Belarus para o Brasil.
“O lado lituano proibiu o trânsito sob pretextos políticos rebuscados e declarou que o trânsito de fertilizantes de potássio bielorussos para o Brasil, entre outras coisas, ameaçava a segurança nacional da Lituânia”, esclarece a
Embaixada em nota.
Segundo apurado, o Ministério da Agricultura tem mantido contato, desde a última quinta-feira (24), com exportadores do produto e diplomatas brasileiros para avaliar o impacto do conflito sobre a balança comercial brasileira. O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes, com cerca de 13% de todo o volume comprado pelo planeta.
O receio é de que a interrupção das exportações pela Rússia e pela Belarus elevem o preço do produto, prejudicando a safra brasileira deste ano. Para evitar o cenário de escassez, o governo brasileiro tem discutido aumentar a importação de países como Canadá e Irã, já que não tem atualmente estoque suficiente no país.
Especialistas já alertavam sobre risco de interrupção no fornecimento de fertilizantes
Especialistas ouvidos pelo jornal BE News, no dia 23 de fevereiro, véspera da invasão das tropas russas sobre a Ucrânia, davam conta do risco de desabastecimento de fertilizantes, alta de preços e inflação, caso o conflito fosse deflagrado.
O especialista em Direito Econômico Internacional, Emanuel Pessoa, ressalta que a parceria comercial com a Rússia é indispensável ao Brasil “O Brasil importa cerca de 80% de todo o fertilizante que utiliza. Desse total, 24% vêm da Rússia e 3%, de Belarus. Então, na prática, de forma direta e indireta, nós dependemos da Rússia em cerca de 30% da importação de fertilizantes. Apesar de o nosso comércio bilateral com a Rússia não ser muito alto, é a Rússia que nos ajuda a ter uma produção agrícola mais alta”.
Pessoa destaca o impacto negativo que a guerra poderá gerar. “Nós poderemos ter, por um tempo, uma disrupção das cadeias logísticas de exportação de fertilizantes, o que vai encarecer por um tempo a nossa produção agrícola. E, além disso, o preço do petróleo dispara no mercado internacional, porque a Rússia é um dos principais produtores, e os compradores, temerosos, estocam, com medo de que o preço suba mais no futuro. Os grandes países poderão, inclusive, fazer grandes aquisições de grãos e, é por isso, que a gente tem visto o preço de grãos subir no mercado futuro”, afirma.
O pesquisador do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), Ronaldo Carmona, afirmou que “hoje, o Brasil importa parte substantiva de seus fertilizantes justamente do triângulo Rússia, Belarus e Ucrânia, evidentemente que esse movimento de tensão poderá trazer repercussões porque nossa dependência é significativa, podendo gerar, inclusive, interrupção no fornecimento, caso se intensifique essa escalada da tensão russo-ucraniana”.
O economista e cientista político Fernando Wagner Chagas disse que quando ocorre conflitos, é comum os preços subirem e que a Rússia poderá aumentar o preço do fertilizante, o que, consequentemente, elevará o preço da produção agrícola no Brasil.