Samah Omar Khanshiri e Wafaa Muneer Momani, Aqaba, Jordânia
O Porto de Aqaba, na Jordânia – ou melhor, no Reino Hachemita da Jordânia – é um dos principais complexos portuários do Oriente Médio, e o único marítimo do país. Fica localizado no Mar Vermelho, no Golfo de Aqaba, e é administrado pela Aqaba Development Corporation (ADC), empresa que pertence ao Governo do país e à Aqaba Special Economic Zone Authority (ASEZA).
São 12 terminais que operam em 32 berços, atuando em três frentes: Terminal Principal de Aqaba, Terminal de Contêineres de Aqaba e Terminal Industrial de Aqaba. No porto principal, são 12 berços dedicados a carga geral, fosfato, grãos, carvão, gado vivo e veículos leves.
Para o Brasil, a Jordânia envia principalmente sal e fertilizantes. O primeiro entra em maior volume pelo Porto de São Francisco do Sul (SC). Já os adubos, pelo nosso Porto de Paranaguá. No sentido inverso, pelo Porto de Aqaba, chegam, em especial, cereais e carnes de exportação brasileiros. Os granéis saem em maior volume por Itaqui (MA). Já a carne, principalmente de frango, também sai aqui pelo Paraná.
Tudo isso posto, eu garanto: toda vez que vejo a Jordânia em nossas estatísticas de destino ou origem, não é em todos esses dados que eu penso. Lembro, antes de tudo, que lá trabalham Samah e Wafaa.
Na comissão marítima do país (Jordan Maritime Commission), exatamente em Aqaba, Samah, 32 anos, mestre em Contabilidade, é assistente administrativa de assuntos marítimos. Já Wafaa, 38 anos, bacharel em Ciências Informáticas, é oficial de registro de navios e demais embarcações.
Como ambas explicam, a Jordan Maritime Commission é uma organização independente vinculada ao Ministério dos Transportes. É a autoridade portuária local. É lá que Samah aplica o que ela considera a melhor dica para as mulheres que desejam alcançar sucesso na área: “para ter êxito no trabalho, temos que desenvolver nossa personalidade e adquirir sempre novas competências, estar renovando nosso conhecimento permanentemente”.
E é na mesma empresa que Wafaa enfrenta e supera os desafios: “É difícil para mim ser uma mulher trabalhadora no setor marítimo da Jordânia, porque sinto que tenho de fazer muito esforço para ganhar a confiança de outros, toneladas deles, que pensam uma mulher ainda não merece este tipo de trabalho”.
Apesar de toda e qualquer dificuldade em ser mulher e atuar no setor marítimo e portuário do país árabe, essas duas profissionais são brilhantes e amam o que fazem. É muito bonito ouvi-las falar sobre a atuação. “Eu adoro o meu trabalho. Amo gerir os assuntos dos trabalhadores no mar e ajudar os marítimos a prestar o melhor serviço, uma vez que emito certificados marítimos de acordo com o acordo internacional STCW”, comenta Samah.
Aqui, vale parênteses: a STCW – sigla em inglês para “International Convention on Standards of Training, Certification and Watchkee” – reúne as normas e os padrões internacionais estabelecidos pela Convenção e pelo Código de Instrução, Certificação e Serviço de Quarto para Marítimos de 1978.
Samah trabalha no escritório, quase não vai a campo. Já quando é preciso fazer a verificação técnica dos barcos, Wafaa tem que ir ao porto, na faixa primária. “O que mais gosto do meu trabalho é a parte relacionada com questões técnicas para unidades marinhas e as regulamentações e convenções internacionais”, conta a portuária.
O objetivo de Samah é chegar a gerir os assuntos portuários e de pessoal da autoridade portuária jordaniana. “Ainda espero gerir os assuntos financeiros relacionados com o transporte e a gestão marítima do país”, diz a contadora. Já Wafaa pretende se aprofundar no campo marítimo e levar para o dia-a-dia do seu trabalho, na comissão marítima jordana, o que está aprendendo a cada capacitação, como o programa de mestrado da Universidade Marítima Internacional de Malmö, na Suécia, que está cursando atualmente.
As duas se conheceram no trabalho, em 2017. Eu as conheci em Le Havre, na França, durante o curso de gestão portuária para mulheres. “Foi um momento mais do que maravilhoso, que contribuiu para elevar o nível prático das mulheres participantes”, conta Wafaa.
Segundo a agente de registro, dedicar este tipo de curso às mulheres as ajuda a obter conhecimento, lança mais luz sobre o impacto positivo que será deixado e incentiva as agências de apoio a realizar iniciativas como esta. “A presença feminina em qualquer campo contribui para o sucesso da empresa. O envolvimento das mulheres neste setor prova a sua capacidade de adaptação às condições mais difíceis e ao trabalho de natureza árdua. Ninguém pode ignorar o papel fundamental que as mulheres têm em vários campos de atuação”, completa Wafaa.
À Comissão Marítima Jordaniana, já adianto os meus parabéns pelo sucesso que ainda terão, ao seguir contando com essas profissionais. A você, que me lê até aqui e é da área, não deixe de incentivar a presença feminina no seu time.
E a todos, até a semana que vem, com o perfil da minha amiga Victoria, das Filipinas.