tecnologia & inovação
A inovação avança enquanto estamos por aqui
Quando o assunto é inovação, todos nós somos surpreendidos de vez em quando, naqueles momentos em que ocorre algo surpreendente, que acaba mudando as nossas vidas. Computadores, smartphones e, mais recentemente, soluções com inteligência artificial estão nessa categoria.
Mas o processo de inovação é muito mais frenético do que podemos imaginar. A todo momento e em todos os lugares, tem alguém pensando ou tentando fazer alguma coisa diferente. Isso varia desde pequenos projetos caseiros, até coisas que exigem elevados montantes de recursos.
Do lado de cá, podemos tirar alguma vantagem disso se soubermos o que está vindo e, de alguma forma, nos anteciparmos na adoção, principalmente se isso representar alguma vantagem competitiva na nossa área de atuação. É claro que existe um risco nisso, pois os considerados “Early Adopters” pagam mais caro, já que todas as novidades ficam mais baratas quando ganham escala, e às vezes perdem o investimento, pois aquela inovação pode não virar padrão de mercado.
Recentemente fiz uma pesquisa na mídia que cobre inovação e identifiquei algumas tendências. Sempre que faço isso, fico pensando: será que isso tem utilidade aqui no setor logístico/portuário? Dessa forma, compartilho agora algumas dessas tendências e convido vocês a fazerem a mesma pergunta.
Inteligência Artificial – Não tem jeito. Essa é a bola da vez. Ela está vindo forte em vários setores da sociedade e muita coisa vai ser usada aqui no nosso setor. Isso inclui “coisas autônomas”, como veículos, navios, robôs etc. Também inclui sistemas mais inteligentes, com capacidade de tomar decisões, bem como a geração de conteúdo, como artigos, petições judiciais, projetos técnicos, músicas, poesia, como já nos surpreendeu o ChatGPT, que se popularizou apenas no ano passado.
Sistemas cyber-físicos – Aí vem a implantação de chips em seres humanos, tanto para corrigir alguma limitação, como para potencializar algumas características humanas. O titio Elon (Elon Musk) tem uma empresa só para desenvolver isso, chamada Neuralink, que já está recrutando voluntários tetraplégicos para implantar chips no cérebro que transmitem impulsos, substituindo a medula lesionada. Mas tem um monte de gente desenvolvendo coisas para se implantar no olho, nos músculos etc. Será que isso ajudará na movimentação portuária ou na inspeção de cargas?
Robôs inteligentes inspirados em animais – Os cachorros robóticos, como os da Boston Dynamics, já são até produtos de mercado. No Hackathon da Abtra do ano passado, lá no Concais, tínhamos até um similar, fazendo suas peripécias. Agora o Instituto de Pesquisa ETH Zurich, da Suíça, está desenvolvendo uma geração de robôs inspirados em aranhas e lagartixas que sobem paredes e andam pelo teto. Será que um desses, equipado com câmeras e sensores, poderá futuramente andar pelos porões dos navios?
Comoditização dos serviços espaciais – Pessoal, está relativamente barato lançar um cubesat, um microssatélite de dois ou três quilosgramas que fica em órbita baixa e transmite uma série de informações, dependendo do seu criador. De vez em quando, o titio Elon lança um Falcon 9 carregando quase 100 desses e despeja tudo em nossa órbita, em missões conhecidas como Ride Sharing. Basta agendar lá com ele e ratear o custo do seu lançamento com os donos dos outros satélites. A Rocket Lab também faz isso, lançando os satélites lá da Nova Zelândia. Bora desenvolver um satélite para ajudar no VTMIS? O problema aqui é o lixo espacial e já aconteceram algumas colisões importantes lá em cima.
Baterias – Aí a corrida tá louca mesmo. Há quem diga que os carros elétricos, no futuro, vão poluir muito mais, pelo descarte das baterias de íons de lítio. Somem-se a isso as condições degradantes da mineração do lítio, nunca mostradas. Mas aí vem os malucos com as baterias de íons de sódio, produzidas a partir do sal extraído da água do mar e sem poluir o ambiente no seu descarte. Enquanto isso não vem, ficam as críticas quanto ao tempo de recarga das baterias, mas a CATL lança já neste ano as baterias LFT – Fosfato de Ferro e Lítio, que carregam uma autonomia de 400 km para os carros elétricos em apenas 10 minutos.
Exploração do polo sul da Lua – USA, China, Rússia e Índia estão correndo para lá, porque tem gelo e água. A nave russa Luna 2, que seria a primeira, se espatifou na “alunissagem”. Assim, a Chandrayann-3 da Índia se deu bem e tá com o maior protagonismo explorando aquela região. Mas, na verdade, as potências estão de olho mesmo é no Hélio-3, um isótopo do Hélio extremamente raro na Terra e abundante na Lua. Esse componente é o promissor combustível dos geradores de fusão nuclear, que, diferente dos atuais reatores de fissão, não apresentam riscos radioativos. A estimativa é que apenas 25 toneladas de He-3 podem suprir energia para 300 milhões de habitantes por 1 ano. Essa quantidade é perfeitamente transportável no compartimento de carga de uma Starship, também do titio Elon, cujo segundo protótipo deve voar ainda em outubro deste ano. Aí, sim, teremos a transição energética definitiva! Se cuida aí hidrogênio verde, azul, amônia, etanol, metanol, biodiesel e cia ltda.
Parques eólicos com impressão 3D – Aí os caras da Orbital Composites, uma startup americana, estão tirando serviços dos navios e dos terminais portuários que movimentam as pás eólicas, já que vão imprimir essas peças diretamente no local de instalação dos parques. Será que vai dar certo isso?
Outras inovações – Não coube aqui nesse artigo, mas temos ainda o super aço desenvolvido pela WEG e pela CSN a partir do grafeno, estudos de supercondutores à temperatura ambiente que estão ocorrendo na Coréia – e que podem resultar em trens baratos com levitação magnética -, a transformação de resíduos plásticos em sabão, um monte de tecnologias para alavancagem da computação quântica, inclusive uma da Universidade do Missouri com um meta-material da quarta dimensão.
Resumindo, vem coisa boa por aí. Enquanto você lê esse artigo, os caras da inovação estão lá se mexendo.
A coluna tecnologia & inovação é uma contribuição do Conselho Brasil Tech Export, presidido pelo diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Angelino Caputo.