Opinião
Ano novo, vida nova!
Os calendários não batem, dependente de tradições, mas as passagens de ano quase sempre estão associadas a comemorações e práticas cerimoniais, visando espantar maus espíritos e repetir sincretismos.
Em suma, a esperança em dias melhores é o principal mote dessas comemorações. Mas esses dias melhores nem sempre dependem de quem os deseja, porém, se houver atitudes motivadas por esse pensamento, haverá, de fato, esperança de que se concretizem.
É preciso se reinventar para que tal ocorra, superando o comodismo e o conformismo de esperar que o mundo se adapte aos nossos anseios.
Também é importante entender a importância de que nossos desejos não prejudiquem quem não mereça, para que também tenham esperança em dias melhores.
O conformismo às vezes é induzido, até de forma maliciosa, e pode nos rebaixar à condição de meras vítimas das circunstâncias.
Não basta ter esperança, é preciso ter projetos de vida que sejam alcançados passo a passo, de forma segura. Tudo o que vem de “mão beijada” tende a ser um obstáculo, e tudo o que é alcançado de forma muito rápida pode ser deslumbrante, mas efêmero.
“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela em que eu nasci!”, diz uma canção nem tão recente de Cidinho e Doca. Mas outra, bem mais antiga, afirma: “Eu cresci no morro e me criei na cidade. Saí do submundo e penetrei no seio da alta sociedade… Tenho argumento para qualquer bacharel!… Já me disseram que eu sou um malandrão, mas trabalho como um leão”. São duas visões diferentes, mas Martinho da Vila sintetizou uma esperança concretizada com esforço, apesar de toda a adversidade, num tempo em que facções criminosas e milícias não dominavam os morros e favelas do Rio de Janeiro.
Mas a outra visão gera uma reflexão: é possível ser feliz nas condições atuais. Que felicidade seria essa? É possível ser efetivamente feliz sem ansiar por dias melhores?
Dias melhores vêm do empenho, do aprendizado não ideologizado, que tolhe o discernimento e a autonomia de pensamento.
Nesse sentido, Milton Nascimento bem sintetizou, sobre a juventude: “Já podaram seus momentos, desviaram seu destino, seu sorriso de menino tantas vezes se escondeu. Mas renova-se a esperança: nova aurora a cada dia. E há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto!”.
O tempo passa… a gente envelhece… Mas a única forma de ter esperança é manter a mente jovem, o que vale para cada dia, para cada momento da vida.
A esperança também envolve reinventar-se, adaptar-se, evoluir, soltar amarras, mas ter um trajeto bem definido e um objetivo que, uma vez alcançado, é apenas parte de um caminho mais amplo: a vida!
Ficar num mesmo lugar, física ou mentalmente, pode ser confortável, mas também é um risco de estagnação, de preguiça, de perder a possibilidade de evoluir, de desperdiçar a vida e seu esplendor.
Mas todo o novo ano, medido na escala de tempo que o ser humano criou, é, de fato, ao menos um momento de reflexão sobre o que vivemos e o que há de vir.
Que isso nos faça melhores ou, no mínimo, mais proativos na vida! E não meros espectadores passivos dos sonhos, ações e interesses de outrem.
Ter sonhos e esperanças é bom! Mas dar valor a vida, ao livre-arbítrio e aos dons que Deus nos deu é a forma de concretizá-los!
Então, feliz ano novo, meses novos, dias novos, vidas novas ou renovadas!
Adilson Luiz Gonçalves é Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras.