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Apaixonado pelo Brasil e pela roça

Atualizado em: 1 de junho de 2024 às 10:14
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor
Sérgio Lima, Diretor-Presidente da CMA Terminais do Brasil

(Foto: Divulgação)

Conversar com quem tem histórias para contar é sempre um ótimo começo para uma entrevista. Sérgio Lima, Diretor-Presidente da CMA Terminais do Brasil, é assim, além de manter o bom humor e ter uma vida sempre guiada por mudanças e desafios.

Nasceu em Recife (PE) quando os pais estavam por lá de férias, mas em seguida ainda bebê voltou para Rio de Janeiro. Como militar da Força Aérea, o pai trabalhou em várias cidades e a família acompanhava. Moraram em Natal (RN) e até nos Estados Unidos. 

Os pais queriam que fosse médico, mas tinha horror a sangue. Até tentou, mas logo resolveu mudar para Engenharia ou Economia. O pai não gostou, disse que se não fosse médico deveria ser militar. Foi assim que se formou como oficial de náutica da Marinha Mercante. Ficou navegando nas linhas internacionais da Aliança durante três anos até encontrar Carla, a mulher da sua vida.

Como marítimo estava sempre viajando, resolveram que a vida de casado não poderia ser assim. Aceitou o trabalho em terra, mas com redução do salário. Quando veio a oportunidade atuar na CMA em 2005, que já era a quinta armadora do planeta, nem pensou duas vezes. Só não contava com o convite (sem direito à recusa) que veio para trabalhar na matriz da empresa em Marselha, França, no Departamento da América Latina.

 “Sempre fui positivo e tento tirar o que há de bom nas situações. A França foi uma experiência essencial para o meu futuro, mas eu não voltaria para lá”, garante. “Eu já fui com vontade de voltar, sou apaixonado pelo Brasil, apesar de seus problemas. O país para mim é o melhor lugar do Planeta”. 

E lá foi para uma nova vida ao lado de  Carla, que nunca havia morado fora do Rio de Janeiro. Recém casados, ele disse que iria antes para ajeitar tudo, mas ela fez questão de acompanhá-lo. “Primeiro foi o choque, era um país e cultura totalmente diferentes, mas eu disse que se desse errado nós voltaríamos. Ela argumentou que se fosse para sofrer longe de casa, sofreríamos juntos. Estamos casados há 22 anos e sempre tomamos decisões em conjunto”.

Também o pai deu uma força, lembrando que em todas as mudanças da família eles sempre ganharam ricas experiências. “Ele  lembrou que não dá para se acomodar na vida, mobilidade é uma necessidade das empresas”.

Só que não foi tão fácil assim. Era um projeto inicial: “Eu e mais quatro pessoas de outros países chegamos sem qualquer estrutura, só tínhamos visto de turista e eu era o único que não falava francês”. No início as reuniões semanais para discussão de estratégias eram em inglês, mas depois de um tempo o diretor disse que ele teria que passar o conteúdo para outro integrante da equipe até falar francês. “Quando fui reclamar explicando que estava fazendo o máximo, o chefe disse que eu não estava nem no Brasil e nem nos Estados Unidos, estava na França”. 

Sérgio voltou arrasado para casa. A primeira providência foi cancelar a Globo News Internacional e só assistir a TV francesa. “No início achei que não tinham sensibilidade para entender que eu vinha de um outro país. Levei um tempo para constatar que a cultura francesa é verbal, quando não entendem o que você fala parecem grosseiros, mas entram em pânico”.

Hoje fala francês fluente, mas em duas semanas estudando conseguiu pelo menos aprender para tentar ser entendido: “Quem fala a língua deles ganha a confiança imediata. No início meu francês era horroroso, reconheciam meu esforço e respondiam em inglês, mas eu pedia para falarem francês. Pedi a um amigo que sentasse ao meu lado nas reuniões e no final ele me ajudava a corrigir os erros”.

Quando voltou ao Brasil em 2010, foi para São Paulo onde ficou até o envolvimento com as operações portuárias em Natal, Fortaleza e Belém. “Em Natal e Fortaleza havia o mercado de frutas forte, mas Belém fechei em dois meses. Peguei a operação com 100 contêineres em média por semana ligados a fazendas, pequenas produções. Fizemos investimentos, passamos a 400 por semana. Como Natal e Fortaleza não teriam condições para expansão, qual seria a saída?”

Como as coincidências fazem parte de sua vida, Sérgio foi atrás do plano de zoneamento de Fortaleza, conversou com Mayara Chaves, na época presidente do Porto de Pecém, e Fábio Lavor, do Conselho de Administração dos Portos, e recebeu a resposta que seria possível sim construir na área um terminal de contêineres.

“Pedi estudos, a França validou, fizemos todo o processo e ganhamos o leilão. Não foi simples como eu imaginava, pelo menos umas três vezes voltei para casa desanimado achando que tinha terminado com a minha carreira”. O esforço deu certo. “Estou realizado e feliz. O terminal está indo muito bem. Recebemos em abril e começamos a operar em junho, em dois meses construímos um terminal do zero com toda infraestrutura e serviços. De junho a dezembro fizemos 70 mil TEUs, batemos recordes e  aumentamos em 41% o volume Em 2024 partimos para dobrar para 150 mil TEUS. Ainda teremos muitas novidades”

Dicas de Fortaleza

Sérgio gosta de São Paulo, Carla e as filhas Mariana e Alice também. Ele tinha decidido que se aposentaria por lá quando chegasse a hora, estava pensando em tirar um ano sabático e  realizou o sonho de manter uma fazenda próxima ao Sul de Minas, na divisa com São Paulo. Começou a mexer com roça, com a terra, seu hobby, e era para lá que viajava todos os finais de semana. Quando veio a mudança para Fortaleza ele vacilou, mas não costuma fugir de desafios. Pelo menos uma vez por mês todos voltam para matar saudades, rever os amigos e curtir a cidade e a fazenda.

Mesmo com o apego, a família se adaptou logo à Fortaleza e agora, um ano e quatro meses depois, Sérgio está animado com a realização do Nordeste Export por lá: “Fortaleza é uma cidade muito bonita, a gastronomia é fera, tem muitas opções de praias e passeios. O próximo evento o Fabrício Julião tem que fazer em Pecém, mas durante o almoço o pessoal vai ter a visão do terminal, é uma vista linda”.

Desde 2010 frequentava Fortaleza na correria, morando lá tem tempo para conhecer melhor: “Tem vários restaurantes italianos e pizzarias, padrão São Paulo. O hotel onde o grupo vai ficar é um dos melhores do Brasil. Temos praias belíssimas na região de Porto das Dunas, as barracas da Praia do Futuro também são boas. Eu gosto mais das praias do oeste, como Jericoacoara, mas é para quem pretende ficar mais tempo”.

Sua dica de restaurante é o Ponza: “Não tem luxo, mas é a melhor comida de Fortaleza, é também peixaria, você escolhe o peixe e o camarão que vai comer. Tudo é muito gostoso”.

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