Estilo BE
As muitas faces de uma mulher
Se pudesse, Flavia Nico seria mais de uma pessoa para ter tempo de fazer tudo o que gostaria. Dá para imaginar alguém que sai para comprar geladeira e volta com um carro? Pois é … O marido Erik diz que ela é levada pelo vento, mas a verdade é que realmente Flavia consegue ser uma em tantas. O currículo é amplo e os projetos mais ainda. Sagitariana movida pela vontade de trabalhar e fazer a diferença, ela se encontra em várias áreas, embora oficialmente seja a Coordenadora-Geral de Delegações e Convênios, da Secretaria Nacional de Portos e Aeroportos/MPOR, desde dezembro de 2021.
Gosta de dar aulas, fazer palestras, liderar times, criar projetos, resolver problemas, entregar resultados, produzir e compartilhar conhecimentos, e mais do que tudo de ser mãe. Com o trabalho focado em portos, também abre espaço para atuar em temas associados à sustentabilidade e à mudança climática. Em novembro de 2023 participou da COP 28 – 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas em Dubai e a explicação que deu para o os filhos Cora e Gael para a ausência foi simples: “Mamãe vai ajudar a salvar o Planeta”. Claro que entenderam e contaram com orgulho para os coleguinhas.
Pós-doutora em Arquitetura e Urbanismo (UFES), Doutora em Ciências Sociais (PUC/SP) com a tese sobre cidades portuárias, é Mestre em Relações Internacionais e tem Pós-Graduação em Comércio Exterior e graduação em Ciências Econômicas. Pensa que é só? Não, também preside os Conselhos da Autoridade Portuária de Vitória e Itajaí e é do Comitê Executivo da WISTA Brazil.
Com tanta coisa, seria difícil ter uma só morada. A família está em Vitória (ES), para onde ela viaja todas as semanas depois de trabalhar em Brasília e ficar na casa de uma grande amiga. “O maior desafio é pessoal, equilibrar a ponte aérea que desgasta, não há voo direto, é sempre com conexão, é cansativo, mas quem mora em São Paulo e trabalha em Santos também fica muito tempo na estrada. Eu ainda prefiro o avião. As coisas aparecem do nada e mudam tudo na minha vida de uma hora para outra.”, revela.
Também foi assim com a maternidade, que não era prioridade quando só queria saber de trabalhar e estudar. Ficou grávida dos gêmeos depois de cinco tentativas de inseminação artificial. Pronto, ali descobriu a grande missão da vida. “Só dou conta pela ajuda que recebo da minha mãe e do meu marido, senão seria muito difícil. Acho importante continuar com a vida profissional, é um exemplo que dou para minha filha ao mostrar que dá para ter as duas coisas, embora às vezes seja preciso abrir mão de algo”.
O sonho de ser diplomata era grande desde menina, e ela nem sabe de onde surgiu. Na época da faculdade não havia curso de Relações Internacionais e acabou fazendo Economia para ajudar na empresa do pai. Depois conseguiu fazer Relações Internacionais, e aos 22 anos foi chamada para coordenar o curso de graduação em uma universidade capixaba. Ficou dando aulas por 20 anos, hoje só dá aulas para cursos de pós-graduação.
A ligação com portos começou quando fazia doutorado e escolheu o tema inserção internacional de cidades. Usando os conhecimentos da formação multidisciplinar, conseguiu tratar o tema com profundidade e de maneira simples ao mesmo tempo. “O porto sempre esteve ao meu lado, era pertinho de onde eu morava em Vitória, eu olhava o porto e achava que era o fim do mundo, eu não via o que acontecia lá atrás”.
Na universidade montou um grupo de pesquisa, hoje ativo na UFES, o Observatório Cidade e Porto, e diz que essa relação está em todos os cantos: “Quando você mora em uma cidade portuária está andando e vê os navios, encontra os turistas que descem dos cruzeiros, é atingido pela poluição que chega com a atracação dos navios, tem que conviver com os caminhões no trânsito. A presença do porto na vida da cidade se dá por diferentes formas, mas não nos damos conta”.
Ao ser convidada para contribuir na Secretaria de Portos, acreditou ser uma oportunidade de avançar na pauta da relação cidade e porto e da sustentabilidade: “Os portos entenderam que podem ter impactos positivos sobre os territórios, e o Ministério de Portos incluiu a mudança climática e a Agenda 2030 como prioritários na agenda política. Sou muito grata por participar ativamente desse momento de transformação.”
Em outra ação, é responsável na pasta pelo Indicador de Gestão da Autoridade Portuária/IGAP, uma forma de incentivar os portos a atingirem melhores resultados: “A proposta é fazer um painel para que seja monitorado e avaliado o trabalho nos portos, mas falta gente para tocar… não desisto, quero deixar mais essa sementinha”.
Para ela, é importante promover a diversidade e inclusão das mulheres no setor portuário, pois acredita que as que já estão no setor têm o dever de abrir portas para outras que querem chegar: “Essa agenda me procurou e eu acho que posso fazer a diferença a partir da minha experiência, da capacidade de fala, de me ouvirem. Propus à Flavia Takafashi, da ANTAQ, um projeto de enfrentamento ao assédio às mulheres no setor portuário. A ideia virou um projeto em cooperação WISTA Brazil, ANTAQ e Ministério de Portos e Aeropotos, o Guia de Enfrentamento ao Assédio às Mulheres do Setor Aquaviário, lançado no ano passado”.
O plano para 2004 é fazer um novo pós-doc sobre feminismo, que é também o propósito de deixar um legado para o Ministério de Portos e Aeroportos, uma contribuição para o país e para todas as mulheres portuárias: “Pretendo fazer um estudo maior e qualitativo com os dados já coletados pela parceria ANTAQ/WISTA Brasil. Quero ouvir as mulheres, entender sua vivência nos portos e entender como podemos promover mais diversidade e inclusão nesse setor. Minha supervisora será a cineasta Gabriela dos Santos Alves, autora do documentário ‘C (elas)’, sobre a vida de recém mães e gestantes no sistema prisional do Espírito Santo. O desafio agora é conseguir a bolsa do CNPq’.
Vida pessoal é ficar com a família, leituras no Kindle durante as viagens, principalmente para ler biografias, ouvir podcasts para se atualizar e sempre levar na bagagem a certeza de que o que quer mesmo é leveza para tocar a vida, para encerrar os ciclos necessários e para recomeçar sempre quando for preciso.