sábado, 23 de novembro de 2024
Dolar Com.
Euro Com.
Libra Com.
Yuan Com.

Estilo BE

Bailarina e especialista em ESG

Atualizado em: 4 de novembro de 2023 às 13:06
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

Gabriela Campagna, quem imaginaria, nasceu em La Paz na Bolívia, onde na época o pai espanhol estava trabalhando.
A mãe brasileira sofreu uma crise forte de asma e Gabriela acabou nascendo prematura, registrada no Consulado Brasileiro e no Consulado Espanhol.

Quando a família resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, ela caiu em plena Eco/92, e certamente recebeu a primeira inspiração para o futuro. Foi um teste e tanto. “Eu entrei na sétima série de um colégio municipal misto, vinda de um colégio de freiras só para meninas, e  não sabia falar nada de Português. Aprendi no susto. Foi um trauma, mas até o sotaque perdi”.

Mas os traumas foram superados e Gabriela seguiu buscando novos caminhos. É Especialista em ESG (Ambiental, Social e Governança), com 19 anos de experiência, sendo 14 deles na área portuária. Bacharel em Relações Internacionais/Comércio Exterior, Especialista em Gestão Estratégica da Sustentabilidade, MBA em Gerenciamento de Projetos. Faz parte do Conselho Feminino e ESG do Brasil Export.

Aos 3 anos de idade, a mãe a colocou na ginástica olímpica, mas depois de alguns anos Gabriela percebeu  que a carreira traz muito desgaste e acaba cedo. Resolveu ser bailarina clássica, ainda quando a família morava na Argentina.  Por conta do trabalho do pai, ainda transitaram por alguns países de língua espanhola, até chegar ao Brasil.

Quando ganhou uma bolsa para uma escola de balé em Cuba, ficou lá durante um ano, mas a separação dos pais acabou antecipando a volta. Bailarina clássica formada em 1997 pela Escola de Danças do Teatro Municipal do Rio de Janeiro Maria Olenewa, integrou o corpo de baile do Teatro Municipal e possui diversas experiências internacionais. Atuou também como professora, coordenadora e assistente de direção. Até hoje faz balé e dá aulas, diz que é o seu melhor jeito para relaxar.

Após voltar de uma temporada dançando na Suíça e percebendo que a dança era uma arte ainda muito restrita aqui no Brasil, Gabriela viu que não poderia ficar só com o balé. Resolveu fazer Relações Internacionais, profissão que estava começando e com boas perspectivas de futuro. Conseguiu uma bolsa de estudos e uma ótima formação, com professores que vinham de Brasília.

Na faculdade começou o contato com os temas de comércio exterior e a agenda climática da ONU e trabalhou em uma multinacional que realizava leilões de energia no Brasil. Em 2005, um amigo da faculdade a indicou para ajudar Adalmir Jose de Souza, então Diretor-Executivo da ABEPH, que ia realizar o XIV Congresso Latino-Americano de Portos, inédito no Brasil. Foi efetivada e percebeu que o setor portuário tinha carência de profissionais mais jovens.

 Em 2007 foi convidada para  ser assessora de diretoria  na Docas do Rio; depois  assessora ligada à Presidência, com interface direta com a Secretaria de Portos, com Pedro Brito à frente, para cuidar de projetos do PAC. Foi se especializando em gestão estratégica e planejamento, e ficou responsável  por implementar as ações relativas à modernização portuária  e indicadores deste setor. Ficou feliz quando foi chamada para ser Superintendente de Planejamento e Avaliação por Eliane Barbosa, primeira diretora mulher da Docas do Rio. Com ela aprendeu a ter um olhar agregador e integrado ao ecossistema portuário.

Ficou na companhia Docas do Rio de Janeiro por quase oito anos, mas por conta de um chefe que não aceitou sua recusa para um convite pessoal acabou saindo. Sentiu a injustiça na pele. A ex-chefe Eliane, bióloga de formação e ex-Presidente do Instituto Estadual do Ambiente, foi outra vez fada madrinha e a convidou para ser seu braço direito no INEA, cuidando da Diretoria de Gestão de Recursos Hídricos e Território, no momento da pior crise hídrica da história do Estado do Rio de Janeiro.  “Entrar de cabeça no mundo do meio ambiente foi como fazer três faculdades ao mesmo tempo, com aprendizados em gestão de recursos hídricos, licenciamento e projetos estruturantes.

Em 2020 Gabriela estava envolvida na estruturação do Fórum de Mudanças Climáticas do Estado, quando surgiu a pandemia e pausou  os planos. A convite de Jean Paulo Castro e Silva voltou para a Docas do Rio, com a missão de reestruturar a área de meio ambiente e trazer a de sustentabilidade ao negócio. “Consegui licenciar 3 dos 4 portos da PortosRio (antiga CDRJ) que vinham tentando essa renovação há 20 anos, além de sanear passivos ambientais e garantir o licenciamento de obras de expansão e de dragagens.  Meu legado culminou com a adesão ao Pacto Global da ONU,  deixei uma marca e um caminho significativos”.

Em fevereiro deste ano, Gabriela se afastou: “Quando eu saí, representantes das empresas com quem convivia souberam  o motivo do meu desligamento e vieram me procurar, para ajudar em consultoria de análise de risco e processos de licenciamento. As portas se abriram para outra direção e também assumi como Diretora de Sustentabilidade, na Secretaria de Meio Ambiente do município portuário de Itaguaí.

Sobre  ESG nas empresas, ela diz que ainda é mais o discurso do que a prática real. “Sustentabilidade não se resume a plantar árvore e discutir ações afirmativas. É preciso se comprometer com igualdade racial, igualdade salarial, descarbonização e outros temas. Há uma carência de profissionais experientes e aptos para concretizar de fato o ESG no ambiente portuário”.

Sobre o tão falado hidrogênio verde, ela opina: “Não é a única fonte de energia limpa inovadora. A descarbonização para o setor pode se valer de outras fontes como biocombustíveis e energia eólica, a exemplo dos navios graneleiros que já vem testando a WindWings como opção. Nós ficamos atrasados na questão da legislação e regulação, mas estamos correndo atrás”.

A formação no balé trouxe a resiliência também para o mundo corporativo. É casada com sua alma gêmea, também do setor portuário, e gosta muito de morar no Rio, apesar das dificuldades de uma grande cidade. No ano passado rompeu o ligamento do pé direito em um acidente e só agora está liberada para voltar a dançar. “Dançar me acalma, mantém minha sanidade, é um hobby que vou carregar para sempre, quando não conseguir fazer balé vou para dança de salão”.

Geminiana tranquila, Gabriela tem um sítio próximo como refúgio onde se conecta com a natureza e conserva sua  paixão pelos animais, que tem desde pequena: “Eu gosto de bicho, e quando comprei minha mini chácara montei um canil de cocker spaniel, adoro”. 

 

Compartilhe:
TAGS Conselho Feminino e ESG do Brasil Export Gabriela Campagna La Paz na Bolívia rio de janeiro