Lula discursa durante evento do Brics em 2023: atualmente, 13 países aguardam confirmação sobre sua adesão ao bloco, incluindo Nigéria, Turquia, Argélia e Vietnã (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Internacional
Brasil lidera Brics em meio à maior expansão da história do bloco
Com novos membros e desafios estruturais, grupo busca se consolidar como força alternativa à ordem global dominada pelo G7
O Brasil iniciou na quarta-feira (1º) seu mandato como presidente rotativo do Brics, um grupo formado por economias emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que busca promover cooperação econômica, política e social entre seus membros e atua como alternativa à ordem internacional liderada por países desenvolvidos. Agora em processo de expansão, o bloco incluirá, em 2025, ao menos nove novos países. A agenda brasileira para o grupo prioriza o fortalecimento da cooperação entre países do Sul Global, a inclusão social e avanços na substituição do dólar por moedas locais no comércio interno.
Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o governo enfrenta o desafio de integrar novos membros e consolidar a nova configuração do bloco. Entre os países que se juntam ao Brics estão Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão, conforme confirmado pela Rússia, última presidência do grupo.
A inclusão de novos membros foi definida na 16ª cúpula do Brics, realizada em outubro de 2024, em Kazan, na Rússia, com a criação de uma nova categoria de parceiros. Atualmente, 13 países aguardam confirmação sobre sua adesão ao bloco, incluindo Nigéria, Turquia, Argélia e Vietnã.
No entanto, o Itamaraty ainda não esclareceu se os nove países recém-incluídos terão status de membros plenos ou parceiros. Os parceiros podem participar das discussões, mas não possuem poder de voto ou veto.
O professor Paulo Borba Casella, especialista em direito internacional pela USP, destacou que a integração de novos membros exigirá coordenação eficaz para assegurar o funcionamento do Brics expandido. “Será preciso ver como o Brasil conseguirá ajudar a operacionalizar o bloco com 10 membros plenos e uma dúzia de estados associados. Isso ainda é algo inédito”, declarou à Agência Brasil.
Brics e Trump
Casella também destacou a crescente importância do Brics como contrapeso à ordem global liderada pelos Estados Unidos. Para ele, as ameaças do presidente eleito Donald Trump, que criticou a substituição do dólar nas negociações, são retórica eleitoral. “O sistema internacional não funciona apenas com ameaças. Fóruns como o Brics se consolidam em resposta a esse tipo de discurso”, avaliou.
A última vez que o Brasil presidiu o bloco, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a cúpula teve pouca relevância, segundo a professora Maria Elena Rodríguez, da PUC-Rio. “Agora, o Brics está muito mais consolidado. O Brasil precisa mostrar liderança e apresentar avanços concretos, como nas negociações em moedas locais”, ressaltou.
Com dez membros plenos, o Brics representa mais de 40% da população global e cerca de 37% do PIB mundial por paridade de poder de compra, superando o peso econômico do G7, grupo formado pelas maiores economias industrializadas do mundo – Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido – que historicamente lidera a tomada de decisões na economia global.