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Cada animal que soltamos é uma gota de esperança

11 de novembro de 2023 às 12:59
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

 

Foto divulgação

Foto divulgação

Quando a pequena toninha (espécie de golfinho) encalhou  no início de 2015 em Peruíbe (SP), foi resgatada pela equipe da bióloga  Rosane F. Farah, do Instituto Gremar, em Guarujá (SP). Depois de três meses desgastantes de monitoramento 24 horas, medicação e nutrição adequada, o filhote ganhou o nome de Pepê e uma segunda chance. “Foi um grande desafio, a primeira soltura dessa espécie no Brasil. Ela foi melhorando em uma progressão, nem acreditávamos. A soltura foi em Itanhaém na Ilha de Queimada Pequena”, conta até hoje com emoção a bióloga.

Rosane é gerente operacional da bases do Instituto Gremar, fundado em 2002 e que faz um belo trabalho de resgate e reabilitação de animais marinhos. As equipes multidisciplinares atuam nas áreas de pesquisa, educação ambiental e gestão de fauna em animais em situação de risco em toda Baixada Santista e região.

Rosane  nasceu em São Paulo, se formou em Biologia em 2009 na Universidade Santo Amaro (SP) e é Mestre em Biodiversidade de Ambientes Costeiros pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Em busca de conhecimento fez especialização em centros da Austrália, Estados Unidos e África do Sul, e é apaixonada pelo que faz há14 anos.

Logo que se formou veio para o Gremar fazer estágio e está até agora, com alguns períodos ausentes para estudos no Exterior. Desde pequena gostava de praia, de mar, de mergulhos e de animais marinhos: “Eles são muito carismáticos, acho que todas as crianças gostam, mas o contato com uma bióloga me fez perceber que era exatamente o que eu queria para a minha vida”.

Apesar de morar em São Paulo, estava sempre na casa de praia com a família e era ali que se encontrava: “O mar era o meu momento de lazer, onde eu me sentia bem, mergulhava procurando novas paisagens, queria ver o que tinha lá embaixo. Claro que na época eu não tinha ideia do que era educação ambiental, mas achava aquilo lindo e muito grande,  sabia que aquele ambiente precisava ser cuidado. Lembro que eu queria estar sempre lá embaixo, não queria morar for da água”.

Sobre o Instituto Gremar, revela: “Atuamos em três pilares: gestão da fauna com a missão de proteger, resgatar e reabilitar espécies; educação ambiental  para conscientização do poder público, empresas e sociedade como um todo; pesquisa, importante para  conhecer e entender as espécies em extinção, além de gerar dados para ações”.

Mesmo vendo diariamente ações como descarte incorreto de resíduos e atividades que impactam a vida dos animais marinhos, Rosane não perde a esperança: “Se não tivéssemos nosso trabalho não teria sentido. Cada animal que soltamos é uma gota de esperança. Queremos que esse animal seja um símbolo para que outros não sofram o mesmo”.

Além da base na Praia do Tombo, em Guarujá, que atende animais marinhos e silvestres, o instituto tem a base localizada na Praia do Centro, em Itanhaém, que atende apenas animais silvestres. “Na Base de Itanhaém temos o apoio da Prefeitura, as pessoas ligam e levam os animais, lá não fazemos o resgaste, que também é realizado pela Polícia ambiental e pelas equipes da Prefeitura. Em Guarujá trabalhamos por acionamento ou por monitoramento das praias da Bacia de Santos”.

O Programa de Monitoramento das Praias deu muita força para todas as instituições que trabalham com a conservação da fauna marinha. “Não é um projeto da Petrobras, é uma atividade desenvolvida para o atendimento das condicionantes ambientais (compromisso da empresa com os órgãos responsáveis, no caso o Ibama)  para avaliar se as atividades da Petrobras impactam os animais marinhos. Com isso ampliamos a equipe, fazemos monitoramento diário nas praias de Santos, Bertioga, São Vicente e Guaruja, e temos um hospital veterinário muito estruturado. Conseguimos ainda doações de empresas para as duas bases”.

Há vários projetos do instituto no programa de Educação Ambiental, realizado em escolas, em atividades ao ar livre e em outros espaços. “Cada vez mais as crianças estão envolvidas com esse tema, eu me vejo no brilho do olhar de muitas crianças. Elas dizem que quando crescer querem ser biólogos, dá uma recarregada na nossa energia, é uma compensação para o sofrimento que vemos nesses animais que resgatamos. Nesses momentos percebemos que ainda e possível se reconectar com a natureza, com os animais. O futuro pode sim, ser diferente”.

A bióloga explica que os animais podem encalhar por doenças ou causas naturais, mas os impactos de ações humanas são os mais comuns, como ingestão de resíduos sólidos, principalmente plásticos, atropelamento por embarcações (que aumentam no verão) e a interação com pesca

Recentemente fizeram a soltura de 23 pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) próximo ao Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. A equipe coloca equipamentos de identificação, mas por enquanto não é possível fazer o monitoramento posterior. 

Esse é o grande desejo de Rosane: “O ideal seria acompanhar o animal em tempo real, mas é um valor muito caro. Um dia vamos conseguir. Meu sonho a longo prazo é ter um futuro melhor, um oceano, limpo, praias preservadas e animais saudáveis para se conseguir viver em um ambiente equilibrado e em harmonia com todos os seres vivos, seria o mundo ideal”. 

Serviço

O Instituto Gremar pode ser acionado para resgates de animais marinhos, vivos, debilitados ou mortos pelos telefones 0800 642 3341 e (13) 99711 4120. Podem ser agendadas visitas monitoradas no espaço do Centro de Educação Ambiental  Caminho do Saber, em Guarujá, para escolas, empresas, turistas e empresas.

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TAGS Biologia do Instituto Gremar Guarujá proteção aos animais Rosane F. Farah