Guerra na Ucrânia
Conflito cancela troca de tripulação em cargueiro no Porto de Santos
A substituição de tripulantes em um navio que opera no cais da Usiminas, no Porto de Santos (SP), foi suspensa na última sexta-feira (25). A medida é a primeira consequência direta da Guerra da Ucrânia no complexo marítimo paulista.
O caso ocorreu no cargueiro Port Osaka, que atracou no terminal às 23 horas daquele dia, para o desembarque de
produto siderúrgico, e deve zarpar hoje, com destino à Praia Mole, no Porto de Vitória, no Espírito Santo.
A troca dos marítimos ocorreria com a saída de quatro tripulantes ucranianos, que estão embarcados há sete meses e, agora, devem encerrar seu contrato de trabalho.
Eles seriam rendidos por outros quatro profissionais, também naturais da Ucrânia e que chegariam ao Brasil de avião no último domingo. Mas com o fechamento dos aeroportos do país europeu, devido a sua invasão pelas tropas da Rússia no último dia 24, eles não conseguiram vir.
Outro fator que impediu sua partida é que, com o conflito, homens de 18 a 60 anos estão proibidos de deixar a nação, explica Leonardo Brunelli, CEO da 7Shipping, responsável pela operação de substituição de pessoal a bordo do navio.
E como a equipe do cargueiro não pode ficar desfalcada, os tripulantes que estavam para desembarcar são obrigados a continuar trabalhando.
Para o executivo, a suspensão no Port Osaka não é um caso isolado, mas uma reação em cadeia. “Automaticamente, não haverá troca de tripulantes em todos os outros portos”, afirma.
Sem poder escalar marítimos ucranianos, a alternativa da empresa é recorrer a tripulações de outros países. “O que pode ocorrer, portanto, é oferecer marítimos de outra nacionalidade para a realização dos planos de contingência operacional dos navios. E manter os tripulantes russos e ucranianos a bordo por mais tempo, assim como ocorreu no auge da pandemia, que foi a extensão de contratos”.
A 7Shipping, especializada em gerenciamento e logística de troca de tripulantes no Brasil e, também, signatária da Neptune Declaration on Seafarer Wellbeing & Crew Change, gerencia uma média de 150 escalas de profissionais por mês em nome de empresas parceiras, como GAC, Alphamar, LBH, Costa Crociere, Wilson Sons, Poseidon, Cargill,
Hellas Shipping, Rochamar, Fertimport e Wilhelmsen.
Rússia e Ucrânia estão entre os 5 maiores fornecedores de mão de obra marítima
No ranking de países fornecedores de mão-de-obra marítima, a Rússia ocupa a quarta posição e a Ucrânia, a quinta. A Rússia fica atrás somente da China (1º lugar), das Filipinas (2º) e da Indonésia (3º), tendo ainda a Índia em 5º lugar, empatada com a Ucrânia. As informações são do “Manpower Report – 2015”, que traz análises abrangentes sobre a situação global da mão de obra no setor de transporte marítimo, realizada pela BIMCO (Baltic and International Maritime Council) e pela ICS (International Chamber of Shipping).
Segundo o CEO da 7Shipping, Leonardo Brunelli, a suspensão na troca de tripulação surge num momento em que o setor ainda se reestrutura por causa dos impactos causados pela pandemia de Covid-19.
“Acabamos de passar e superar com muito custo e vidas por uma crise humanitária internacional, principalmente no âmbito marítimo. Tivemos mais de 800 mil marítimos presos em alto mar, devido a pandemia do coronavírus”, afirma.
“Passamos mais de 18 meses lutando de forma árdua, todos os dias, para que os marítimos tivessem seus direitos humanitários básicos respeitados, reorganizados! É decepcionante acreditar que teremos uma guerra ou conflitos na Europa, envolvendo cidadãos russos e ucranianos inocentes, bem como tantos outros reflexos no mundo todo, em todos os povos e âmbitos!”, declara Brunelli.
Brunelli ressalta que a situação gera muito mais do que um problema ocupacional. “A bordo e fora de bordo (aos que ficarão impedidos de embarcar), tal conflito causará tristeza, ansiedade, problemas financeiros e psicológicos para os marítimos, preocupados com sua família e amigos próximos desses episódios. Estarmos próximos a eles dando todo e qualquer tipo de suporte, com certeza, será uma obrigação moral, visto que não possuímos forças para impedir o que há de vir com este conflito horroroso”, comenta.
Brunelli explica que as tripulações ucranianas que ainda estão na Ucrânia não pode embarcar em seus navios. E, atualmente, homens entre 18 e 60 anos não estão autorizados a sair do país – por questões militares.
“As empresas responsáveis pela contratação e gerenciamento de tripulantes no mundo todo deverão oferecer marítimos de outra nacionalidade para a realização dos planos de contingência operacional dos navios”, afirma Bunelli. Além disso, acreditamos que os armadores deverão manter os tripulantes russos e ucranianos a bordo por mais tempo, assim como ocorreu no auge da pandemia. Principalmente devido ao fato de os aeroportos da Ucrânia permanecerem fechados”, complementa.
“Quanto aos marítimos que estejam ‘no ar’ neste momento, após terem sido desembarcados em algum porto do mundo, deverão parar em Varsóvia, na Polônia, e aguardarem até que a situação se esclareça e possam ser repatriados para as suas casas, pois a Polônia é uma das principais bases do governo ucraniano para refugiados deste conflito”, afirma Brunelli.
Ele lembra também que podem ocorrer problemas quanto ao pagamento dos marítimos ucranianos e russos, devido às sanções impostas aos meios de transferência da Russia. “Acreditamos que os armadores e Crew Mannings deverão encontrar alguma solução voltada a outros centros de gerenciamento de tripulação referências e próximos dos dois países, como, por exemplo, Chipre, Alemanha e Grécia”, conclui.